A
pequena fogueira tornou-se cinzas e os pássaros cantavam anunciando as
primeiras horas do dia. Daniel acordou com o sol no rosto. Lembrou-se da casa
de campo, de costas levantou o braço e calmamente apalpou o lado direito onde
Thiago deveria estar. Antes de ter a certeza, parou. Teve medo de não
encontrá-lo. Recolheu a mão. Antes queria acostumar-se com a ideia de não
encontrá-lo ali.
Apesar
de mostrar todo o tempo receptivo e muito menos preconceituoso, viu que depois
da viagem. O que teria acontecido lá que o teria mudado. Seria alguém? Poderia
até mesmo ser o encanto da cidade grande, cidade esta que Daniel já conhecia.
Levantou
novamente o braço e certificou do que imaginara.
_
Thiago? – perguntou, esperando resposta, que não veio. – Thiago!
O
coração apertou, as lágrimas desceram. Virou-se e não havia ninguém ao seu
lado. Perguntou-se se teria sido um sonho, quisera que fosse. Sentou-se, olhou
para os lados como se esperasse que Thiago saísse de entre os arbustos, mas não
aconteceu. Estava só. Pôs as mãos no rosto e começou a chorar. Pegou o celular
e ligou para o amigo. Não houve resposta.
_
Por que ele fez isso comigo? – não entendia.
Viu
uma folha escrita sob os lençóis. Ela não estava lá antes. Pegou-a e reconheceu
a letra cursiva característica de Thiago. Seu coração foi a mil. Já assistira
vários filmes que os personagens faziam isso para nunca mais voltar. Filmes que
havia assistido com ele.
“Querido
Daniel,
Fico extremamente feliz quando te vejo, sua
presença me alegra e me traz um agito bom de sentir dentro de mim. Com você eu
me sinto bem, mas ao mesmo tempo inseguro, talvez seja a adrenalina de ficar
com você que me atrai. Antes de tudo não era assim. Talvez eu tivesse um outro
tipo de visão, e... Não sei. Só sei que não quero seu sofrimento, nunca
imaginei que você ficaria assim. Não posso ficar com alguém que pode me
abandonar a hora que quiser e por nada. Talvez para você, por ser um sentimento
novo, seja apenas uma aventura. Eu não encaro assim. O que aconteceu com a
gente, não posso negar, foi bom, para falar a verdade foi ótimo, mas não
consigo mais. Não quero que isso continue. Saiba que você foi o primeiro e será
para sempre o único, talvez isso faça alguma diferença.
Meu amigo, meu amor por você continuará, e mesmo
distante vou me lembrar de você.
Me perdoe por ter me despedido assim...
Do
seu,
Thiago.”
A carta foi escrita antes de
Thiago ir embora. Em alguns lugares a tinta da caneta estava manchada de
lágrimas que caíram
_ Ele me... abandonou.
Thiago vagava pelas ruas da
cidade como se sentia como posto um ponto final numa fase de sua história.
Estava chorando, pois se lembrava de tudo o que tinha acontecido entre eles.
Como se descobriram, os olhares e afagos. Ele quando queria sabia ser
carinhoso, mas tudo envolvia tanta coisa que Thiago pensava que Daniel não era
maduro suficiente para encarar uma relação desse tipo, sem contar que havia se
apaixonado por Júlia, quem viu apenas uma vez, mas foi algo tão intenso e
especial que não conseguia descrever o que havia ocorrido, apenas sentir.
Ele não sabia que Daniel
tinha brigado consigo mesmo para amá-lo, nem viu o esforço que o amigo fez para
procurá-lo. Durante a semana em que esteve fora, não viu que Patrícia havia
pichado sua casa também e estava sendo vítima de preconceito de algumas pessoas
que viram a pichação e decidiram por si mesmas julgarem, e alguns da escola os
quais Patrícia provavelmente teria contado porque não o tratavam do mesmo
jeito.
Não viu que Daniel teve o
cuidado arrumar o ambiente no zoológico para recebê-lo e isso demonstrava
afeição, que não existiria se estivesse tão preconceituoso, como anteriormente.
Daniel correu atrás dele. Só percebeu que o sentimento que o amigo possuía por
ele era de irmandade, depois de grandes amigos, de atração que foram expressas
por nojo e raiva, a solidão o fez ver quem realmente o amava, então por isso não
resistiu e amou- o. Com intensidade e cheio de confusão.
Chegou em casa e entrou no
quarto, viu as malas arrumadas, as definitivas. Ficaria um bom tempo sem voltar
à cidade que nascera.
Daniel ainda no zoológico
pensava. Precisava mostrar para o amigo que o que sentia era verdadeiro e não
mudaria como ele pensava, mas isso não seria agora.
Thiago viu em seu celular,
uma mensagem que ele mandara:
“Me perdoe você, mas não vou desistir”.
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