segunda-feira, 24 de setembro de 2012

36| Carta.



                    A pequena fogueira tornou-se cinzas e os pássaros cantavam anunciando as primeiras horas do dia. Daniel acordou com o sol no rosto. Lembrou-se da casa de campo, de costas levantou o braço e calmamente apalpou o lado direito onde Thiago deveria estar. Antes de ter a certeza, parou. Teve medo de não encontrá-lo. Recolheu a mão. Antes queria acostumar-se com a ideia de não encontrá-lo ali.
                    Apesar de mostrar todo o tempo receptivo e muito menos preconceituoso, viu que depois da viagem. O que teria acontecido lá que o teria mudado. Seria alguém? Poderia até mesmo ser o encanto da cidade grande, cidade esta que Daniel já conhecia.
                    Levantou novamente o braço e certificou do que imaginara.
                    _ Thiago? – perguntou, esperando resposta, que não veio. – Thiago!
                    O coração apertou, as lágrimas desceram. Virou-se e não havia ninguém ao seu lado. Perguntou-se se teria sido um sonho, quisera que fosse. Sentou-se, olhou para os lados como se esperasse que Thiago saísse de entre os arbustos, mas não aconteceu. Estava só. Pôs as mãos no rosto e começou a chorar. Pegou o celular e ligou para o amigo. Não houve resposta.
                    _ Por que ele fez isso comigo? – não entendia.
                    Viu uma folha escrita sob os lençóis. Ela não estava lá antes. Pegou-a e reconheceu a letra cursiva característica de Thiago. Seu coração foi a mil. Já assistira vários filmes que os personagens faziam isso para nunca mais voltar. Filmes que havia assistido com ele.
                   
                    “Querido Daniel,

                    Fico extremamente feliz quando te vejo, sua presença me alegra e me traz um agito bom de sentir dentro de mim. Com você eu me sinto bem, mas ao mesmo tempo inseguro, talvez seja a adrenalina de ficar com você que me atrai. Antes de tudo não era assim. Talvez eu tivesse um outro tipo de visão, e... Não sei. Só sei que não quero seu sofrimento, nunca imaginei que você ficaria assim. Não posso ficar com alguém que pode me abandonar a hora que quiser e por nada. Talvez para você, por ser um sentimento novo, seja apenas uma aventura. Eu não encaro assim. O que aconteceu com a gente, não posso negar, foi bom, para falar a verdade foi ótimo, mas não consigo mais. Não quero que isso continue. Saiba que você foi o primeiro e será para sempre o único, talvez isso faça alguma diferença.
                    Meu amigo, meu amor por você continuará, e mesmo distante vou me lembrar de você.
                    Me perdoe por ter me despedido assim...
                                                                       Do seu,
                                                                                  Thiago.”
                       
                   A carta foi escrita antes de Thiago ir embora. Em alguns lugares a tinta da caneta estava manchada de lágrimas que caíram
                   _ Ele me... abandonou.
                   Thiago vagava pelas ruas da cidade como se sentia como posto um ponto final numa fase de sua história. Estava chorando, pois se lembrava de tudo o que tinha acontecido entre eles. Como se descobriram, os olhares e afagos. Ele quando queria sabia ser carinhoso, mas tudo envolvia tanta coisa que Thiago pensava que Daniel não era maduro suficiente para encarar uma relação desse tipo, sem contar que havia se apaixonado por Júlia, quem viu apenas uma vez, mas foi algo tão intenso e especial que não conseguia descrever o que havia ocorrido, apenas sentir.
                   Ele não sabia que Daniel tinha brigado consigo mesmo para amá-lo, nem viu o esforço que o amigo fez para procurá-lo. Durante a semana em que esteve fora, não viu que Patrícia havia pichado sua casa também e estava sendo vítima de preconceito de algumas pessoas que viram a pichação e decidiram por si mesmas julgarem, e alguns da escola os quais Patrícia provavelmente teria contado porque não o tratavam do mesmo jeito.
                   Não viu que Daniel teve o cuidado arrumar o ambiente no zoológico para recebê-lo e isso demonstrava afeição, que não existiria se estivesse tão preconceituoso, como anteriormente. Daniel correu atrás dele. Só percebeu que o sentimento que o amigo possuía por ele era de irmandade, depois de grandes amigos, de atração que foram expressas por nojo e raiva, a solidão o fez ver quem realmente o amava, então por isso não resistiu e amou- o. Com intensidade e cheio de confusão.
                   Chegou em casa e entrou no quarto, viu as malas arrumadas, as definitivas. Ficaria um bom tempo sem voltar à cidade que nascera.
                   Daniel ainda no zoológico pensava. Precisava mostrar para o amigo que o que sentia era verdadeiro e não mudaria como ele pensava, mas isso não seria agora.
                   Thiago viu em seu celular, uma mensagem que ele mandara:

                   “Me perdoe você, mas não vou desistir”.

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