_Você está
achando que a Patrícia matou o Neo? – Roberta diminuiu o tom de voz – Amiga,
está é uma acusação gravíssima. Você tem provas disso?
Flávia
ficou como se não houvesse escutado.
_ Tem? –
insistiu a amiga.
_ Não,
ainda.
_ Como
assim ainda? – olhou estranhamente para a amiga – você está procurando
incriminá-la?
_ Não. –
tentou desconversar – de jeito nenhum, tenho coisas mais importantes a fazer,
como por exemplo, agora. Até mais!
Flávia saiu
sem mais explicações, deixando Roberta sem palavras com a suspeita.
Longe dali,
Patrícia conversava com um homem mais experiente em armações que encontrara
através de recomendação de comparsas.
_ Ouvi
muito bem de você! – disse mirando o porte atlético do homem.
_ As
pessoas tem esse costume de falar bem de mim. E falam a verdade, mas você não
veio aqui para me elogiar.
_ Vamos
direito ao assunto. Eu comecei um trabalho com um incompetente e ele não fez
tudo que eu quis.
_ Nem todos
tem vocação para isso.
_ Eu queria
me vingar de uma pessoa, mas agora mudei plano, são várias.
_ Mulheres
movidas à vingança são perigosas, mas isso está bem rotineiro já. Talvez você
esteja assistindo muita novela.
_ Isso não
é novela – falou pausadamente com o tom levemente alterado.
_ Você é
muito jovem pra guardar tanto ódio de alguém, por que não esquece isso e vai
viver a vida, mocinha.
_ Não me
trate como criança, meu filho, você fala como se fosse velho, e outra, você não
sabe com quem está mexendo.
_ Nossa!
Agora senti firmeza. – mas nem se mexeu da cadeira – o que quer?
_ Só quero
dar um susto em uns desafetos.
_ Todo esse
ódio só para assustar?
Ela parou e
pensou.
_ Não quero
matar ninguém, só quero humilhar.
_ O que te
fizeram?
Ele pensou
se responderia ou não.
_ Me
traíram da maneira mais... – parou como se fosse vomitar de tanto asco –
nojenta possível.
_ Quantas
pessoas te traíram?
Ela o olhou
como se a pergunta fosse a mais inconveniente de todas, mas ele tinha isso,
gostava de brincar com as palavras.
_ Me
traíram e me humilharam.
_ E você
deixou fazerem tudo isso?
Ela preferiu
manter-se em seu direito de silêncio.
Ele a
compreendeu. Também já havia sido traído, e guardava a mágoa até aquele
momento. Sabia que a dor da traição quando se ama é insuportável. Pela troca,
pela desonestidade. Sua namorada o havia largado no altar, depois de confessar
que amava e tinha um caso com outro homem, na ocasião, seu melhor amigo que a
esperava do lado de fora da igreja para fugirem. Depois disso, tornou-se um jovem
amargo, mas de vez enquanto quando esquecia ficava normal e voltava a ser o que
era um homem alegre e sorridente, amante da vida. Inventou de fazer trabalhos
escusos quando num momento de fúria e lembranças viu um homem fazer isso com
uma amiga querida demais por ele.
O homem
pensou que estava sendo perseguido por forças espirituais do mal e acabou
internado num sanatório. A partir de então era conhecido no submundo como o
vingador dos traídos, mas ele não gostava desse apelido que tinha sido presente
do seu melhor amigo.
_ O que
quer que eu faça?
Alguns dias depois, Daniel estava
sentado em frente ao seu computador, quando viu um pedido de amizade em seu
perfil no facebook. A pessoa que havia solicitado era Henrique.
_
Henrique? – se perguntou enquanto clicava na foto – mas eu não... ah! O rapaz
do clube! Que legal essa foto.
O jovem estava pendurando em
cordas numa belíssima cachoeira, parecia estar se divertindo. Daniel nem
percebeu que se demorou no sorriso do garoto. Balançou a cabeça como se saísse
de um devaneio e marcou a opção “aceitar”.
Não se demorou muito para passar
para o perfil de Roberta e ver orgulhoso o campo de relacionamento preenchido
com “namoro sério”, sorriu e enquanto se preparava para escrever mais uma
declaração comum de amor, ouviu o sinal do chat.
Viu
Henrique chamá-lo.
_ E aí,
menino? Está bem da cabeça?
_ Claro!
Sempre fui bom de cabeça e acho até que fiquei melhor depois da pancada.
_ Que faz?
_ Nada.
_ No
próximo fim de semana vou descer uma cachoeira que existe entre Pedra Branca e
Céu Azul, quer ir? Vai ser bom demais.
_ Que dia?
_ Sábado,
mas saímos na sexta porque vamos acampar.
_ Hum.
_ Anima
não?
_ Claro,
nunca desci uma cachoeira. Deve ser bacana!
_ Com
certeza, e essa tem uma altura boa para iniciantes. Você vai gostar.
_ Beleza.
Vamos sim! Está marcado!
_ Ok.
Qualquer outra coisa te fala por aqui mesmo, está bom? Valeu, então!
_ Até mais!
Assim que
desligou o computador, ouviu alguém bateu na porta e ele autorizou a entrada.
_ Oi mãe.
Tereza
entrou no quarto, empolgada.
_ Filho,
nós vamos receber uma visita super especial daqui a alguns dias. Sua prima de
São Paulo virá nos visitar.
Daniel a
olhou como se não tivesse nada de especial naquilo.
_ E?
_ Já tem
muito tempo que ela não vem aqui, vocês eram muito pequenos.
_ Hum, eu
não lembro. Será que é por causa da amnésia? – foi irônico.
_ Não. –
disse Tereza como ênfase – Isso já tem muito tempo mesmo.
Daniel se
levantou e beijou a mãe na testa.
_ Tudo bem
dona Tereza. Nós faremos o nosso melhor, está bem. – disse saindo.
_ Aonde
você vai, menino?
_ Uai, vou
à casa de minha namorada.
A porta
bateu antes que Tereza pudesse falar qualquer coisa.
O carro
estava na garagem, mas Daniel preferiu ir a pé apesar de ser um pouco longe,
mas havia gostado de andar, dava para pensar na vida ou no pouco que se
lembrava dela.
_ Não me
lembrei do meu melhor amigo que passei a vida toda, vou me lembrar dessa
prima... – falava para si mesmo.
Desde que o
acidente acontecera, Daniel já havia passado diversas vezes por aquelas ruas e
sempre via algo novo. Ele pensara no namoro com Roberta e em tudo que isso
tinha trazido. Ricardo havia sumido ninguém sabia seu paradeiro, mas sabia que
estava no Brasil ainda.
Quando
viajava nos pensamentos, o tempo passava mais rápido e se viu diante da casa da
Roberta.
Bateu na
porta, tocou a campainha, mas ninguém atendeu.
_ Que
estranho! Ela sabia que eu viria.
Ultimamente
o namoro deles estava a todo vapor, mas em alguns momentos Roberta se
comportava estranhamente, ele não sabia como explicar. Talvez fosse
comportamento estranho que as mulheres têm em alguns momentos. Era
compreensível.
Pegou o
celular e ligou para a amada. Ela não atendeu. Coçou a cabeça. E começou o
caminho de volta.
Enquanto
pensava em mais coisas da vida, teve a ligeira sensação de que estava sendo
seguido. Olhou disfarçadamente para trás e se viu sozinho na rua. Fez um muxoxo
e prosseguiu, mas ainda assim a sensação persistia, então parou de súbito e
olhou rapidamente para trás. Morreria afirmando que havia visto um vulto se
esconder, mas sentiu medo em voltar e verificar. Lembrou dos filmes de terror,
em que os personagens ao invés de correrem do perigo, vão para ele.
_ Não vou
cometer essa burrice.
Enquanto apressava o passo sem olhar
para trás, o vulto ficou vendo-o se afastar.
Chegou
diferente em casa. Uma sensação estranha lhe invadia o peito. Resolveu dormir.
Um grande
campo forrado por um vivo tapete verde se estendeu diante dele que não tinha
muitos sonhos desde o acidente, mas este lugar ele reconhecia de algum jeito.
Ao seu lado, uma bela moça com um vestido com tecido esvoaçante de tão leve.
Suas grandes mechas de cabelos dançavam sobre o vento que passava refrescando
todo o campo. Era Roberta.
Ele
virou-se para ela, e tentou afagar seus cabelos, ao passar os dedos sobre os
fios sedosos, eles se soltaram da cabeça dela de voaram na direção que o vento
ia. Ela percebendo que havia ficado careca com seu afago, sorriu docemente, mas
ele não conseguiu evitar o espanto.
_ Olha só o
que você me você? Me deixou careca com um carinho. – seu sorriso era mecânico.
_ Eu...
eu... eu... Roberta...
_ Como você
consegue? Você acabou comigo e pensa que está tudo bem? – Seu tom de voz subia
drasticamente. Sua pergunta tinha um tom amargurado e exigia uma resposta.
Quando
formulava a resposta, se surpreendeu com Ricardo segurando a outra mão da
garota, ele riu cinicamente e a puxou, fazendo a mão dela se soltar da sua, ela
nem fez menção de mantê-la. Ele não estava entendendo nada, mas viu a medida
que se afastavam o cabelo crescer chegando a altura da cintura da moça.
_ Não se
preocupe. Estou aqui.
Daniel não
o viu se aproximar. Com um sorriso que dizia um monte de coisas que não sabia
até o momento, viu Thiago ao seu lado direito. Sentiu-se confortável e
estranhamente feliz. Estava pleno de alguma forma.
_ Não estou
entendendo nada! – confessou.
_ Não se
preocupe – repetiu – Estaremos juntos sempre.
Daniel
sorria enquanto dormia.
Continua...
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