quinta-feira, 13 de setembro de 2012

27| Um pedido.


                        _ Quem fez isso, Thiago? – perguntou dona Zita.
                    _ Não sei, minha avó, mas tenho uma vaga ideia. – olhou ao redor – Alguém viu quem fez isso?
                    Ninguém falou nada, começaram a se dispersar como se não tivesse mais nada que ver.
                    _ Vândalos! Vou comprar tinta para pintar esse muro, ele estava precisando mesmo de uma nova cor. – disse Dona Zita entrando em casa para pegar o dinheiro.
                    _ Obrigado, seu Luiz por ter me chamado. O senhor não viu quem fez isso?
                    _ Não, Thiago! Estava voltando do mercado quando passei e vi o povo. Quando fui ao mercado, não haviam feito isso.
                    _ Está bem, mais uma vez, obrigado!
                    Thiago entrou em casa, sentando-se no sofá com as mãos sobre a cabeça.
                    _ Você tem alguma idéia de quem fez isso, Thiago? – dona Zita saia do quarto.
                    _ Não sei... “Roubou meu namorado...”. Roubei ninguém, minha avó, mas pelo jeito é bem provável que tenha sido a Patrícia. Ela descobriu... Como?
                    _ Cuidado com essa menina. Não existe coisa pior que mulher traída. Muito cuidado. – saindo para a rua.
                    Thiago percebeu que sua avó podia está certa.
                    “Como ela ficou sabendo? - pensou”.
                    _ Alô!
                    _ Daniel, o que foi que você disse para Patrícia? – em tom inquisitivo.
                    _ Nada. Por quê? O que houve?
                    _ Ela sabe, não é?
                    _ Sabe. – disse lastimoso.
                    _ Como soube?
                    _ Ela nos ouviu conversar na sala aquele dia.
                    Thiago lembrou.
                    _ Estou acabado! E agora?
                    _ E agora digo eu. Ela supôs que eu a deixei na festa para te encontrar, ela supôs a verdade. Disse até que tínhamos um caso!
                    _ Daniel, como foi que ela falou isso? Como ela te disse que sabia? Nossa conversa foi antes da festa então ela já sabia disso. Porque falou agora?
                    Daniel ficou mudo, tentava encontrar uma desculpa que convencesse de verdade.
                    _ Daniel, fala! O que foi que você fez? – Thiago sabia que ele estava inventando.
                    _ Eu...
                    _ Eu... – incentivando.
                    _ Eu falei seu nome. – em tom de culpado.
                    _ Não entendi. Como assim? Como ela pôde...
                    _ Na hora “H”.
                    Thiago ficou meio sem graça, mas riu silenciosamente, como se estivesse se divertindo com a situação desesperadora. Afinal, rir de tudo era a única opção que restara.
                    _ Como é que é? – sua voz denunciava que ria.
                    _ Você está rindo de minha desgraça?
                    _ Você tentou se convencer que era machão, e se entregou... Mas eu achei muito lindo. Ela realmente tem muito motivo para estar irritada desse jeito.
                    _ O que foi que ela fez?
                    _ Pichou minha parede. Escreveu bem grande que eu sou uma bicha enrustida e que roubei o namorado dela. Só não entendi essa parte porque não roubei ninguém...
                    _ Ela fez isso? Vou conversar com ela, ela não pode fazer isso com você. Ela não tem prova de nada. Só porque pedi um tempo e...
                    _ Oi? Você terminou com ela?
                    _ Ela estava histérica aqui, então não agüentei e pedi um tempo, mas aí ela acabou comigo antes.
                    _ Nossa! O bicho vai pegar.
                    _ Não vai não! Ela é dessas que uma hora quer uma coisa e depois não quer mais.
                    _ Será?
                    Ser trocada por um homem. Ela não sabia que isso doía tanto, afinal nunca esperara que acontecesse algo desse tipo com ela. Que sensação terrível. Ser trocado por outra mulher já era um sentimento ruim, isso ela sabia, pois já tinha vivido, mas por um homem. Um homem! Sentia-se incapaz de satisfazer qualquer homem.
                    “Isso não vai ficar assim. Não vai! – pensou na cigana”.
                    Chegou chorando em casa, a mãe a viu entrar no quarto e bater a porta.
                    _ O que foi menina? – disse a mãe fora do quarto.
                    _ Não é de sua conta! – gritou sem paciência.
                    _ Estou querendo te ajudar para saber o que você tem e me trata assim? Deve ter merecido mesmo!
                    _ Arghhhh! – agarrou um vaso que estava ao alcance e lançou sobre a porta.
                    _ Não esquece de limpar isso depois. – disse a mãe saindo.
                     Thiago terminou de arrumar as malas, pensando no muro que estava todo escrito.
                    _ Do jeito que esse povo dessa cidade é, já devem estar falando pelos cotovelos. Devo ser alvo de piada agora. – pensou no Daniel – Ele não. Ninguém sabe que foi a Patrícia. Pelo menos amanhã eu caio fora um tempo.
                    Alguém bateu na porta.
                    _ Posso entrar?
                    _ Claro que pode! Comprou a tinta?
                    _ Comprei meu neto! Como você está?
                    _ Bem! Não me afeta essas coisas. Sei quem sou.
                    _ Parece seu pai. Ele sempre foi assim, determinado e decidido. Não se importava com o que os outros diziam. E te vendo assim com essa barba, me lembro dele mais ainda.
                    _ Não me lembro muito dele. Será que ele se decepcionaria comigo?
                    _ Não. Não pense nisso.
                    _ Onde quer que ele esteja, fique orgulhoso de mim. Ele e minha mãe.
                    _ Pode ter certeza que estão.
                    A noite foi longa, a ansiedade não deixava Thiago dormir, foi ao quarto da avó e reclamou. Ela preparou um chá que o derrubou na cama.
                    Pela manhã, o clima estava frio. Thiago acordou com o cheiro do café que sua avó preparava na cozinha. Se levantou, olhou para as malas e para o quarto então se dirigiu ao banheiro, o clima de novidade estava deixando-o mais nervoso. Durante o banho, pensou em tudo que havia passado. Seu sonho ia começar a se realizar.
                    Depois de se despedir da avó, que o abençoou, pegou um táxi e partiu para a estação de trem, o método mais rápido e barato para se chegar ao aeroporto.
                    Quando chegou na estação de trem, colocou as malas ao lado de um banco e esperou. Tempo suficiente para ver que aquela estação era muito velha. No alto da porta principal tinha percebido um número – 1842 – não era o número de identificação e sim correspondia ao ano que foi inaugurada. Os bancos de madeira lisa, algumas janelas traziam detalhes que não se viam mais em janelas da cidade. Imaginou quantas pessoas já passaram por ali, chegando, indo e voltando, partindo para nunca mais.
                    O trem se aproximava da plataforma. Quando se levantou para entrar no último vagão, uma mão o puxou ofegante, pensou que seria assaltado, mas não. Era Daniel que havia corrido o máximo para chegar a tempo e impedi-lo de viajar.
                    _ O que você faz aqui uma hora dessa? Você nunca acordou tão cedo!
                    _ Fui correndo em sua casa, falei com sua avó, mas ela me disse que você já tinha saído. Vim te pedir – dizia com dificuldade ofegando – Fica! Fica aqui! Fica comigo! Não vai embora!

Continua...
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