_ Quem fez isso, Thiago? – perguntou dona Zita.
_ Não sei, minha avó, mas
tenho uma vaga ideia. – olhou ao redor – Alguém viu quem fez isso?
Ninguém falou nada,
começaram a se dispersar como se não tivesse mais nada que ver.
_ Vândalos! Vou comprar
tinta para pintar esse muro, ele estava precisando mesmo de uma nova cor. –
disse Dona Zita entrando em casa para pegar o dinheiro.
_ Obrigado, seu Luiz por ter
me chamado. O senhor não viu quem fez isso?
_ Não, Thiago! Estava
voltando do mercado quando passei e vi o povo. Quando fui ao mercado, não
haviam feito isso.
_ Está bem, mais uma vez,
obrigado!
Thiago entrou em casa,
sentando-se no sofá com as mãos sobre a cabeça.
_ Você tem alguma idéia de quem
fez isso, Thiago? – dona Zita saia do quarto.
_ Não sei... “Roubou meu
namorado...”. Roubei ninguém, minha avó, mas pelo jeito é bem provável que
tenha sido a Patrícia. Ela descobriu... Como?
_ Cuidado com essa menina.
Não existe coisa pior que mulher traída. Muito cuidado. – saindo para a rua.
Thiago percebeu que sua avó
podia está certa.
“Como ela ficou sabendo? -
pensou”.
_ Alô!
_ Daniel, o que foi que você
disse para Patrícia? – em tom inquisitivo.
_ Nada. Por quê? O que
houve?
_ Ela sabe, não é?
_ Sabe. – disse lastimoso.
_ Como soube?
_ Ela nos ouviu conversar na
sala aquele dia.
Thiago lembrou.
_ Estou acabado! E agora?
_ E agora digo eu. Ela supôs
que eu a deixei na festa para te encontrar, ela supôs a verdade. Disse até que
tínhamos um caso!
_ Daniel, como foi que ela
falou isso? Como ela te disse que sabia? Nossa conversa foi antes da festa
então ela já sabia disso. Porque falou agora?
Daniel ficou mudo, tentava
encontrar uma desculpa que convencesse de verdade.
_ Daniel, fala! O que foi
que você fez? – Thiago sabia que ele estava inventando.
_ Eu...
_ Eu... – incentivando.
_ Eu falei seu nome. – em
tom de culpado.
_ Não entendi. Como assim?
Como ela pôde...
_ Na hora “H”.
Thiago ficou meio sem graça,
mas riu silenciosamente, como se estivesse se divertindo com a situação
desesperadora. Afinal, rir de tudo era a única opção que restara.
_ Como é que é? – sua voz
denunciava que ria.
_ Você está rindo de minha
desgraça?
_ Você tentou se convencer
que era machão, e se entregou... Mas eu achei muito lindo. Ela realmente tem
muito motivo para estar irritada desse jeito.
_ O que foi que ela fez?
_ Pichou minha parede.
Escreveu bem grande que eu sou uma bicha enrustida e que roubei o namorado
dela. Só não entendi essa parte porque não roubei ninguém...
_ Ela fez isso? Vou
conversar com ela, ela não pode fazer isso com você. Ela não tem prova de nada.
Só porque pedi um tempo e...
_ Oi? Você terminou com ela?
_ Ela estava histérica aqui,
então não agüentei e pedi um tempo, mas aí ela acabou comigo antes.
_ Nossa! O bicho vai pegar.
_ Não vai não! Ela é dessas
que uma hora quer uma coisa e depois não quer mais.
_ Será?
Ser trocada por um homem.
Ela não sabia que isso doía tanto, afinal nunca esperara que acontecesse algo
desse tipo com ela. Que sensação terrível. Ser trocado por outra mulher já era
um sentimento ruim, isso ela sabia, pois já tinha vivido, mas por um homem. Um
homem! Sentia-se incapaz de satisfazer qualquer homem.
“Isso não vai ficar assim.
Não vai! – pensou na cigana”.
Chegou chorando em casa, a
mãe a viu entrar no quarto e bater a porta.
_ O que foi menina? – disse
a mãe fora do quarto.
_ Não é de sua conta! –
gritou sem paciência.
_ Estou querendo te ajudar
para saber o que você tem e me trata assim? Deve ter merecido mesmo!
_ Arghhhh! – agarrou um vaso
que estava ao alcance e lançou sobre a porta.
_ Não esquece de limpar isso
depois. – disse a mãe saindo.
Thiago terminou de arrumar as malas, pensando
no muro que estava todo escrito.
_ Do jeito que esse povo
dessa cidade é, já devem estar falando pelos cotovelos. Devo ser alvo de piada
agora. – pensou no Daniel – Ele não. Ninguém sabe que foi a Patrícia. Pelo
menos amanhã eu caio fora um tempo.
Alguém bateu na porta.
_ Posso entrar?
_ Claro que pode! Comprou a
tinta?
_ Comprei meu neto! Como
você está?
_ Bem! Não me afeta essas
coisas. Sei quem sou.
_ Parece seu pai. Ele sempre
foi assim, determinado e decidido. Não se importava com o que os outros diziam.
E te vendo assim com essa barba, me lembro dele mais ainda.
_ Não me lembro muito dele.
Será que ele se decepcionaria comigo?
_ Não. Não pense nisso.
_ Onde quer que ele esteja,
fique orgulhoso de mim. Ele e minha mãe.
_ Pode ter certeza que
estão.
A noite foi longa, a
ansiedade não deixava Thiago dormir, foi ao quarto da avó e reclamou. Ela
preparou um chá que o derrubou na cama.
Pela manhã, o clima estava
frio. Thiago acordou com o cheiro do café que sua avó preparava na cozinha. Se
levantou, olhou para as malas e para o quarto então se dirigiu ao banheiro, o
clima de novidade estava deixando-o mais nervoso. Durante o banho, pensou em
tudo que havia passado. Seu sonho ia começar a se realizar.
Depois de se despedir da
avó, que o abençoou, pegou um táxi e partiu para a estação de trem, o método
mais rápido e barato para se chegar ao aeroporto.
Quando chegou na estação de
trem, colocou as malas ao lado de um banco e esperou. Tempo suficiente para ver
que aquela estação era muito velha. No alto da porta principal tinha percebido
um número – 1842 – não era o número de identificação e sim correspondia ao ano
que foi inaugurada. Os bancos de madeira lisa, algumas janelas traziam detalhes
que não se viam mais em janelas da cidade. Imaginou quantas pessoas já passaram
por ali, chegando, indo e voltando, partindo para nunca mais.
O trem se aproximava da
plataforma. Quando se levantou para entrar no último vagão, uma mão o puxou
ofegante, pensou que seria assaltado, mas não. Era Daniel que havia corrido o
máximo para chegar a tempo e impedi-lo de viajar.
_ O que você faz aqui uma
hora dessa? Você nunca acordou tão cedo!
_ Fui correndo em sua casa,
falei com sua avó, mas ela me disse que você já tinha saído. Vim te pedir –
dizia com dificuldade ofegando – Fica! Fica aqui! Fica comigo! Não vai embora!
Continua...
©
Copyright Mailan Silveira 2011.Todos os direitos reservados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário