Daniel havia chegado em casa
e estava um pouco cansado. Sua cabeça doía e tudo que acontecera durante a
noite o deixava mais confuso, e fazia sua cabeça doer mais ainda.
_ Como isso foi acontecer,
meu Deus? Que loucura. – conversava consigo mesmo, tentando compreender a
situação em que havia se envolvido. – Eu sempre gostei de mulher. Aliás, eu
gosto de mulher. O que é que está acontecendo comigo? Já sei! Deve ter sido o
álcool, sou daqueles bêbados veados, só pode!
Depois que colocou a chave
do carro sobre a escrivaninha, sentou-se na cama e esfregou as mãos sobre o
rosto como se quisesse acordar de um pesadelo. Não queria admitir o que sentia.
_ Vamos pesar tudo. Aquela
cigana doida falou tudo aquilo... Deve ter sido praga... Que inferno! Vejamos
bem, deve ser uma confusão de coisas que sinto, não tem cabimento. Eu não sou
gay. Não sou.
Tentava raciocinar enquanto
se preparava para o banho.
_ Imagina o povo da escola
me chamando de boiola, bicha, veadinho. Isso é o fim. A morte. Que coisa mais
odiosa. Minha vida na lama.
Parou de falar sozinho.
Ligou o rádio, tinha esse costume de ouvir o rádio enquanto se banhava. Ligou o
chuveiro, a água morna caia sobre a cabeça quando os pensamentos da noite
anterior o invadiram. Não conseguia controlá-los.
“Gente, eu não posso ser
veado! Eu não sou! Não sou! – pensava – Gente, eu posso ser feliz assim! O
Thiago me ama e eu o amo também. O que vale é o amor! O amor um caramba! Sou
homem! Devo me relacionar com mulheres. Gosto delas, gosto mais delas, mesmo
que eu goste dele”.
_ Vou ficar doido! – gritou
no banheiro.
_ Daniel?
_ Quem é? – desligou a água.
_ Sua namorada que você
deixou largada na festa. – sentou na cama dele.
_ Espera aí!
_ Está bem!
Patrícia passeou pelo
quarto, observando tudo, mas não procurava nada. Deteve-se diante de um
porta-retrato que exibia Thiago e Daniel numa montagem Thiago e Daniel numa
montagem. Balançou a cabeça em negação e sentou-se novamente na cama.
Daniel saiu do banheiro
enrolado na toalha, ainda molhado.
_ Por que você me deixou
sozinha na festa? – perguntou indignada.
_ Não te disse. Tive que
sair urgente para resolver um problema particular.
_ Desde quando algo é
particular para sua namorada?
Daniel a olhou.
_ Desde o momento que
sabemos que mesmo namorando, cada um tem vida própria. O que você veio fazer
aqui?
_ O que eu vim fazer? Você
me deixa sozinha numa festa sem explicação suficiente e ainda me pergunta o que
vim fazer? Quero saber o motivo da sua saída repentina.
_ Só isso?
Ela olhou novamente para a
fotografia.
_ Era alguma coisa com o
Thiago? Pensei que vocês tinham brigado? Voltaram... a conversar?
Daniel percebeu a ironia e o
veneno nas palavras da namorada. Parou de mexer no computador.
_ Como assim? Que pergunta é
essa?
_ Não sei. Você quem devia
me responder. Vai que aconteceu alguma coisa com ele.
Daniel se encheu de raiva.
Olhou para a porta, levantou-se de súbito e a trancou. Ficou de pé diante dela.
_ O que você quer?
_ Por que ficou nervoso tão
de repente Daniel, o que está acontecendo?
Ele não respondeu. Tirou a
toalha, jogando para o lado, ela o olhou surpresa, mas não o impediu. Ele
avançou sobre ela tirando-lhe a roupa e beijava pelo pescoço subindo até a
boca.
_ Uau! Se eu soubesse tinha
feito isso antes. – disse sorrindo.
Ele se levantou e foi até o
rádio aumentar o volume, ela tirava o resto de roupa que sobrava.
“Sou homem, caramba! – se
auto-afirmava em pensamento”.
As unhas percorriam-lhe as
costas causando arrepio. A pele suada não encontrava resistência. Daniel não
podia esperar que a próxima música que a rádio tocaria seria um pesadelo. Make you feel my love começou a tocar. Até então
ele não havia percebido, estava concentrado no que fazia.
Abraçou Patrícia com
firmeza, enquanto seus lábios percorriam o caminho do queixo à orelha, chegando
à nuca.
“Eu sei que você não se decidiu ainda,
Mas
eu nunca te faria nada de errado,
Eu
já sei que desde o momento que nos conhecemos,
Não
há dúvida na minha mente
De
onde você pertence...”.
A mente viajou através da
música para a casa de campo.
_ Thiago!
Ela estagnou.
_ Para tudo! – se
desvencilhando do abraço dele e empurrando-o – Para, para! Sai de cima de mim.
Sai agora. Você me chamou de quê?
Continua...
©
Copyright Mailan Silveira 2011.Todos os direitos reservados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário