_ Os trabalhos estão
acabando. Hoje é o último dia. Graças a Deus! Como assim? A vida de modelo não
é fácil como eu imaginava, é um trabalho bem intenso, mas quando se gosta do
que faz, tudo fica parecendo moleza!
A porta do quarto abriu. Era
Guillermo, mesmo depois de uma semana inteira ao lado do Thiago parecia tê-lo
encontrado agora, continuava profissional, raramente ria. Quando viu o modelo
ao telefone, fez menção de sair, mas foi impedido com um aceno.
_ Desculpa não quis
incomodá-lo.
_ Nunca me incomodou. –
Thiago sempre agradável, tentava uma amizade com seu tutor, mas ele nunca se
abriu para tal regalia, afinal estavam sempre juntos e conversavam apenas o
necessário. – O que me traz hoje?
_ Hoje é um ensaio sensual
para fechar o book, temos que correr porque temos estúdio e externa todos
juntos, primeiro temos a externa de manhã e à tarde, depois estúdio para
fechar.
_ Então hoje será um dia
trabalhoso.
_ Sim! Não demore a se
arrumar, por gentileza.
Thiago sabia que ele devia
ser profissional, mas não precisava ser tanto.
_ Por que você é assim todo
sério? Por acaso, não pode rir, nem sequer falar coisas triviais comigo para
ajudar o tempo passar, ou pelo menos ser um pouco mais agradável?
Guillermo o olhou diferente
como se quisesse falar, mas sua aparência voltou rapidamente ao normal.
_ Refere-se a amizade? –
Thiago confirmou com a cabeça – Não sou pago para isso. E para quê criar
amizade com você se nem saiu o resultado da agência. Se você não for aceito,
não teremos motivo para ser amigos.
_ E se eu passar? –
ignorando a má resposta.
_ A única coisa que você tem
ainda é um não! – saiu, fechando a porta.
_ Mal-educado!
Depois de pronto, Thiago,
Guillermo e uma equipe saíram em dois carros esportivos e chegaram em um hotel
fazenda que ficava a uma hora e meia da cidade. O lugar era paradisíaco. Thiago
não parava de admirar o local que tinha uma vegetação belíssima e bem cuidada.
O jardim de entrada foi projetado com plantas que formavam um corredor
labiríntico em cerca viva que apesar de baixa altura poderia levar a corredores
fechados. Suas folhas verdes e amarelas reluziam com a luz do sol. Thiago
descobriu por experiência própria que se perder naquele jardim seria bem fácil.
_ Como fazemos para chegar
ao outro lado? – perguntou confuso – Não me diga que teremos que dar a volta
por todo esse jardim?
_ Não! – foi a primeira vez
que Guillermo riu perto dele – Você não viu o nome do jardim?
_ OZ? O que tem a ver isso?
_ Nunca ouviu falar sobre...
Ah! Esquece! Entre no corredor amarelo.
Depois de vencer o
labirinto, uma fonte dava o ar da graça refrescando todo o espaço, sua
estrutura era em mármore branco e metal dourado. Além desses lugares, havia
outros que Thiago sequer imaginara.
A equipe já havia subido
para a suíte e estavam arrumando o cenário quando chegaram. A famosa arara de
roupa estava do lado do espelho. Uma grande cama casal com lençóis brancos
convidava qualquer mortal para se deleitar sobre sua maciez e sedosidade.
_ Pode ir trocando de roupa.
– Guillermo falava sério – Primeiro: calça e camiseta brancas, depois calça,
depois cueca, depois nú.
Thiago olhou assustado.
_ Nú?
_ Claro... que não! Só até a
cueca. – conteve o riso com a equipe.
A sessão foi bem divertida,
pois era a primeira sessão sensual que Thiago fazia, e ele estava muito
desconfortável. Guillermo percebeu.
_ Vamos melhorar esse rosto.
Parece que está com prisão de ventre. Não precisa ficar nervoso só porque está
de cueca, somos profissionais. Ninguém vai te agarrar.
O fotógrafo era diferente do
que fez a primeira sessão, mas era mais divertido e começou a brincar para que
ficasse menos tenso. Nos intervalos foi mostrando as fotos para que ele visse a
diferença quando o ambiente é outro. Guillermo também analisava as fotos.
_ Gostou? – perguntou
Thiago.
_ Gostei. Gostei muito.
Observa essas aqui. – apontou para algumas - Como você ficou com cara de
menino.
_ É verdade! Ficaram boas.
_ Sim! Já essas mostram suas
“segundas intenções”. Gostei mesmo! Era isso que eu queria!
_ Obrigado! – sorrindo,
porque era a primeira vez que o elogiava.
_ Qual você mais gostou?
_ De todas, mas minhas
preferidas são as da varanda com a caneca. As da cama estão legais também,
tentei fazer aquela cara de “vem para cá”.
Guillermo não conseguiu
resistir e caiu no riso.
_ Como é?
_ Vem para cá!
Os dois riram.
_ Você é bobo demais!
Thiago olhou para ele por
causa do comentário.
_ Não se acostume. Vamos
para o mato!
Depois da sessão no quarto,
eles seguiram para uma cachoeira que havia no terreno do hotel, o figurino era
de camping, bem rústico e aventureiro. Guillermo pedia as poses e Thiago fazia,
agora estava mais tranquilo. O tom verde da mata fazia seus verdes olhos se
destacarem. Numa pausa para troca de roupa, Guillermo passou por um dos
provadores e abriu a cortina, Thiago estava lá dentro.
_ Desculpa, desculpa. –
disse sem graça saindo e fechando a porta. – onde está a plaquinha de ocupado?
Aqui não tem?
_ Não! Tem sim! Não tinha
ninguém aqui quando entrei então pensei que não terei problema, pois me trocaria rapidinho.
_ Você tem marca de sol é? –
reparou.
_ Sim! – meio envergonhado.
_ Vamos explorá-la. Não é nú, antes
que você reclame. É só deixá-la mais a mostra.
_ Está bem!
A tarde passou rápido, o que
Thiago mais gostou foi que depois do ensaio, pôde tomar um banho de cachoeira e
ficar bem à vontade. Foi fotografado sem saber, a mando do Guillermo, pois
queria vê-lo em poses espontâneas. Depois de tudo voltaram para o hotel na
cidade.
Quando chegaram, Guillermo o
acompanhou até o quarto como de costume.
_ Amanhã teremos uma reunião
com o Marlon, ele já recebeu as fotos de hoje para última avaliação e já tem o
resultado. Às nove, venho te buscar. Ok?
Virando-se para sair. Thiago
disse:
_ Posso te perguntar uma
coisa?
_ Já me perguntou, mas fale.
_ Você pode vim jantar
comigo hoje?
_ Oi?
_ É. Jantar comigo hoje. É
porque eu não queria jantar sozinho no quarto como nos outros dias. Isso, se
não tiver nada marcado com namorada, ou alguém.
Guillermo avaliou a
situação. Não achou nada demais.
_ Está bem. Volto às vinte e
trinta.
_ Obrigado!
Quando saiu, Thiago ficou
parado como se pensasse em alguma coisa. E pensava.
Num sorriso compartilhado.
Guillermo voltou ao hotel um
pouco mais cedo que o previsto, mas ficou no salão de espera. Pensava em chegar
um pouco atrasado. Thiago já estava no quarto esperando-o. Andava de um lado
para outro. Quando via uma sombra na porta correu para o banheiro. Guillermo
entrou. Espiou e viu o rapaz que o acompanhou durante a semana. Apesar de andar
com roupas cheias de estilo, aquela era diferente das do dia a dia. Era
escolhida a dedo. Viu que ele mexia muito as mãos e olhava para diversos
lugares ao mesmo tempo.
“Nervoso! – pensou rindo
consigo mesmo – Porquê?”.
_ Guillermo? – falou de
dentro do banheiro.
_ Quem mais tem o cartão
além de mim e da camareira que não vem agora?
Saiu do banheiro rindo.
_ É verdade. Tudo bem?
_ Tudo. Nos vimos a pouco,
esqueceu?
_ Estou bem também,
obrigado! Antes de tudo, quero saber se você vai ficar desse jeito comigo?
_ Como desse jeito?
_ Esse jeito fechado,
profissional que você age comigo, parece um robô às vezes. Acho que você já
saiu do seu expediente, não é?
Guillermo parou pensando em
alguma outra opção, mas não encontrou.
_ Está bem! Vamos?
_ Claro!
Foram
andando e conversando pela rua até encontrarem um restaurante. Não estava muito
cheio. Numa mesa para dois.
_ E então, o que achou da
vida de modelo?
_ Mais trabalhosa do que
imaginei.
_ Incrível como pensam que
vida de modelo é fácil.
_ Agora sei mesmo que não é,
mas amei e agora sei que é isso mesmo que quero.
_ Que bom! Tomara que amanhã
dê tudo certo para você.
_ É até estranho te ver
falando assim comigo.
_ Se quiser...
_ Não - interrompendo –
Fique assim! Por favor!
Riram.
_ E você? Como chegou onde
está?
_ Ah! Muita luta. Já
modelei, e ainda modelo, mas agora quero ficar assim um pouco por trás das
câmeras. Me sinto mais livre, posso criar mais.
Conversaram sobre muitas
coisas até que os pratos chegaram. Enquanto comiam, conversavam, sobre planos,
afinidades e trivialidades. Thiago achou o jantar muito agradável, até quando
parecia que não tinham mais nada para conversar, mirou pela janela um casal.
Desses eram mais freqüentes vê-los nesta cidade e parecia que ninguém se
incomodava com eles. Quando passavam ninguém virava com olhar de reprovação ou
assustados. Lembrou de Daniel.
_ O que foi? Está viajando
no casal? – Guillermo reparou e interrompeu seus pensamentos.
_ Ahn? É. Digo, não!
Guillermo riu.
_ Lembrei de um amigo.
_ Ele é gay?
_ Não sabe ainda.
_ É uma escolha difícil.
Lutar contra sua educação machista, contra seus conceitos de certo e errado,
contra a sociedade, a família... É realmente difícil.
Thiago o olhou e apenas concordou com a
cabeça.
_ Acho que de todas as
batalhas, a pior é a luta consigo próprio. Se aceitar. A sociedade apesar de
apontar e acusar de milhões de coisas que nem passam por nossa cabeça, se
acostuma com nossa decisão, mas quando nem nós mesmos sabemos o que somos e o
que queremos, não temos para onde ir. E ficar sem lugar para ir é estar só,
porque ninguém que ficar parado na história.
Thiago ouvia atentamente.
_ Você é jovem, Thiago. Não
perca tempo pensando demais, mas não faça nada sem pensar pelo menos duas
vezes. O tempo passa e não perdoa.
_ Só alguém que já passou ou
passa por isso, tem propriedade para falar assim. Eu não te falei nada sobre
minha vida nesta área, como você confia a mim tal segredo? Não me conhece.
_ Conheço o suficiente para
saber que seus olhares discretos te denunciam, mas fique tranquilo. Não vou te
agarrar.
_ Ei! Não pensei nisso! –
disse ofendido.
_ Eu sei – falou rindo –
vamos para a balada?
_ Só se for agora!
Continua...
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