terça-feira, 18 de setembro de 2012

31| Amizade colorida.



                    _ Os trabalhos estão acabando. Hoje é o último dia. Graças a Deus! Como assim? A vida de modelo não é fácil como eu imaginava, é um trabalho bem intenso, mas quando se gosta do que faz, tudo fica parecendo moleza!
                    A porta do quarto abriu. Era Guillermo, mesmo depois de uma semana inteira ao lado do Thiago parecia tê-lo encontrado agora, continuava profissional, raramente ria. Quando viu o modelo ao telefone, fez menção de sair, mas foi impedido com um aceno.
                    _ Desculpa não quis incomodá-lo.
                    _ Nunca me incomodou. – Thiago sempre agradável, tentava uma amizade com seu tutor, mas ele nunca se abriu para tal regalia, afinal estavam sempre juntos e conversavam apenas o necessário. – O que me traz hoje?
                    _ Hoje é um ensaio sensual para fechar o book, temos que correr porque temos estúdio e externa todos juntos, primeiro temos a externa de manhã e à tarde, depois estúdio para fechar.
                    _ Então hoje será um dia trabalhoso.
                    _ Sim! Não demore a se arrumar, por gentileza.
                    Thiago sabia que ele devia ser profissional, mas não precisava ser tanto.
                    _ Por que você é assim todo sério? Por acaso, não pode rir, nem sequer falar coisas triviais comigo para ajudar o tempo passar, ou pelo menos ser um pouco mais agradável?
                    Guillermo o olhou diferente como se quisesse falar, mas sua aparência voltou rapidamente ao normal.
                    _ Refere-se a amizade? – Thiago confirmou com a cabeça – Não sou pago para isso. E para quê criar amizade com você se nem saiu o resultado da agência. Se você não for aceito, não teremos motivo para ser amigos.
                    _ E se eu passar? – ignorando a má resposta.
                    _ A única coisa que você tem ainda é um não! – saiu, fechando a porta.
                    _ Mal-educado!
                    Depois de pronto, Thiago, Guillermo e uma equipe saíram em dois carros esportivos e chegaram em um hotel fazenda que ficava a uma hora e meia da cidade. O lugar era paradisíaco. Thiago não parava de admirar o local que tinha uma vegetação belíssima e bem cuidada. O jardim de entrada foi projetado com plantas que formavam um corredor labiríntico em cerca viva que apesar de baixa altura poderia levar a corredores fechados. Suas folhas verdes e amarelas reluziam com a luz do sol. Thiago descobriu por experiência própria que se perder naquele jardim seria bem fácil.
                    _ Como fazemos para chegar ao outro lado? – perguntou confuso – Não me diga que teremos que dar a volta por todo esse jardim?
                    _ Não! – foi a primeira vez que Guillermo riu perto dele – Você não viu o nome do jardim?
                    _ OZ? O que tem a ver isso?
                    _ Nunca ouviu falar sobre... Ah! Esquece! Entre no corredor amarelo.
                    Depois de vencer o labirinto, uma fonte dava o ar da graça refrescando todo o espaço, sua estrutura era em mármore branco e metal dourado. Além desses lugares, havia outros que Thiago sequer imaginara.
                    A equipe já havia subido para a suíte e estavam arrumando o cenário quando chegaram. A famosa arara de roupa estava do lado do espelho. Uma grande cama casal com lençóis brancos convidava qualquer mortal para se deleitar sobre sua maciez e sedosidade.
                    _ Pode ir trocando de roupa. – Guillermo falava sério – Primeiro: calça e camiseta brancas, depois calça, depois cueca, depois nú.
                    Thiago olhou assustado.
                    _ Nú?
                    _ Claro... que não! Só até a cueca. – conteve o riso com a equipe.
                    A sessão foi bem divertida, pois era a primeira sessão sensual que Thiago fazia, e ele estava muito desconfortável. Guillermo percebeu.
                    _ Vamos melhorar esse rosto. Parece que está com prisão de ventre. Não precisa ficar nervoso só porque está de cueca, somos profissionais. Ninguém vai te agarrar.
                    O fotógrafo era diferente do que fez a primeira sessão, mas era mais divertido e começou a brincar para que ficasse menos tenso. Nos intervalos foi mostrando as fotos para que ele visse a diferença quando o ambiente é outro. Guillermo também analisava as fotos.
                    _ Gostou? – perguntou Thiago.
                    _ Gostei. Gostei muito. Observa essas aqui. – apontou para algumas - Como você ficou com cara de menino.
                    _ É verdade! Ficaram boas.
                    _ Sim! Já essas mostram suas “segundas intenções”. Gostei mesmo! Era isso que eu queria!
                    _ Obrigado! – sorrindo, porque era a primeira vez que o elogiava.
                    _ Qual você mais gostou?
                    _ De todas, mas minhas preferidas são as da varanda com a caneca. As da cama estão legais também, tentei fazer aquela cara de “vem para cá”.
                    Guillermo não conseguiu resistir e caiu no riso.        
                    _ Como é?
                    _ Vem para cá!
                    Os dois riram.
                    _ Você é bobo demais!
                    Thiago olhou para ele por causa do comentário.
                    _ Não se acostume. Vamos para o mato!
                    Depois da sessão no quarto, eles seguiram para uma cachoeira que havia no terreno do hotel, o figurino era de camping, bem rústico e aventureiro. Guillermo pedia as poses e Thiago fazia, agora estava mais tranquilo. O tom verde da mata fazia seus verdes olhos se destacarem. Numa pausa para troca de roupa, Guillermo passou por um dos provadores e abriu a cortina, Thiago estava lá dentro.
                    _ Desculpa, desculpa. – disse sem graça saindo e fechando a porta. – onde está a plaquinha de ocupado? Aqui não tem?
                    _ Não! Tem sim! Não tinha ninguém aqui quando entrei então pensei que não terei problema, pois  me trocaria rapidinho.
                    _ Você tem marca de sol é? – reparou.
                    _ Sim! – meio envergonhado.
                    _ Vamos explorá-la. Não é nú, antes que você reclame. É só deixá-la mais a mostra.
                    _ Está bem!
                    A tarde passou rápido, o que Thiago mais gostou foi que depois do ensaio, pôde tomar um banho de cachoeira e ficar bem à vontade. Foi fotografado sem saber, a mando do Guillermo, pois queria vê-lo em poses espontâneas. Depois de tudo voltaram para o hotel na cidade.
                    Quando chegaram, Guillermo o acompanhou até o quarto como de costume.
                    _ Amanhã teremos uma reunião com o Marlon, ele já recebeu as fotos de hoje para última avaliação e já tem o resultado. Às nove, venho te buscar. Ok?
                    Virando-se para sair. Thiago disse:
                    _ Posso te perguntar uma coisa?
                    _ Já me perguntou, mas fale.
                    _ Você pode vim jantar comigo hoje?
                    _ Oi?
                    _ É. Jantar comigo hoje. É porque eu não queria jantar sozinho no quarto como nos outros dias. Isso, se não tiver nada marcado com namorada, ou alguém.
                    Guillermo avaliou a situação. Não achou nada demais.
                    _ Está bem. Volto às vinte e trinta.
                    _ Obrigado!
                    Quando saiu, Thiago ficou parado como se pensasse em alguma coisa. E pensava.
                    Num sorriso compartilhado.
                    Guillermo voltou ao hotel um pouco mais cedo que o previsto, mas ficou no salão de espera. Pensava em chegar um pouco atrasado. Thiago já estava no quarto esperando-o. Andava de um lado para outro. Quando via uma sombra na porta correu para o banheiro. Guillermo entrou. Espiou e viu o rapaz que o acompanhou durante a semana. Apesar de andar com roupas cheias de estilo, aquela era diferente das do dia a dia. Era escolhida a dedo. Viu que ele mexia muito as mãos e olhava para diversos lugares ao mesmo tempo.
                    “Nervoso! – pensou rindo consigo mesmo – Porquê?”.
                    _ Guillermo? – falou de dentro do banheiro.                                       
                    _ Quem mais tem o cartão além de mim e da camareira que não vem agora?
                    Saiu do banheiro rindo. 
                    _ É verdade. Tudo bem?
                    _ Tudo. Nos vimos a pouco, esqueceu?
                    _ Estou bem também, obrigado! Antes de tudo, quero saber se você vai ficar desse jeito comigo?
                    _ Como desse jeito?
                    _ Esse jeito fechado, profissional que você age comigo, parece um robô às vezes. Acho que você já saiu do seu expediente, não é?
                    Guillermo parou pensando em alguma outra opção, mas não encontrou.
                    _ Está bem! Vamos?
                    _ Claro!
                    Foram andando e conversando pela rua até encontrarem um restaurante. Não estava muito cheio. Numa mesa para dois.
                    _ E então, o que achou da vida de modelo?
                    _ Mais trabalhosa do que imaginei.
                    _ Incrível como pensam que vida de modelo é fácil.          
                    _ Agora sei mesmo que não é, mas amei e agora sei que é isso mesmo que quero.
                    _ Que bom! Tomara que amanhã dê tudo certo para você.
                    _ É até estranho te ver falando assim comigo.
                    _ Se quiser...
                    _ Não - interrompendo – Fique assim! Por favor!
                    Riram.
                    _ E você? Como chegou onde está?
                    _ Ah! Muita luta. Já modelei, e ainda modelo, mas agora quero ficar assim um pouco por trás das câmeras. Me sinto mais livre, posso criar mais.
                    Conversaram sobre muitas coisas até que os pratos chegaram. Enquanto comiam, conversavam, sobre planos, afinidades e trivialidades. Thiago achou o jantar muito agradável, até quando parecia que não tinham mais nada para conversar, mirou pela janela um casal. Desses eram mais freqüentes vê-los nesta cidade e parecia que ninguém se incomodava com eles. Quando passavam ninguém virava com olhar de reprovação ou assustados. Lembrou de Daniel.
                    _ O que foi? Está viajando no casal? – Guillermo reparou e interrompeu seus pensamentos.
                    _ Ahn? É. Digo, não!
                    Guillermo riu.
                    _ Lembrei de um amigo.
                    _ Ele é gay?
                    _ Não sabe ainda.
                    _ É uma escolha difícil. Lutar contra sua educação machista, contra seus conceitos de certo e errado, contra a sociedade, a família... É realmente difícil.
                     Thiago o olhou e apenas concordou com a cabeça.
                    _ Acho que de todas as batalhas, a pior é a luta consigo próprio. Se aceitar. A sociedade apesar de apontar e acusar de milhões de coisas que nem passam por nossa cabeça, se acostuma com nossa decisão, mas quando nem nós mesmos sabemos o que somos e o que queremos, não temos para onde ir. E ficar sem lugar para ir é estar só, porque ninguém que ficar parado na história.
                    Thiago ouvia atentamente.
                    _ Você é jovem, Thiago. Não perca tempo pensando demais, mas não faça nada sem pensar pelo menos duas vezes. O tempo passa e não perdoa.
                    _ Só alguém que já passou ou passa por isso, tem propriedade para falar assim. Eu não te falei nada sobre minha vida nesta área, como você confia a mim tal segredo? Não me conhece.
                    _ Conheço o suficiente para saber que seus olhares discretos te denunciam, mas fique tranquilo. Não vou te agarrar.
                    _ Ei! Não pensei nisso! – disse ofendido.
                    _ Eu sei – falou rindo – vamos para a balada?
                    _ Só se for agora!
                   

Continua...
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