quarta-feira, 19 de setembro de 2012

32| Estranho.



                   Thiago nunca tinha entrado num lugar como aquele. O mais parecido foi o festival de inverno que era um grande evento. As luzes faziam tantos movimentos que o deixavam tonto, alguns garçons passavam de um lado para outro, ao longe se via um balcão iluminado.
                    _ Vamos curtir! – Guillermo era outro, quem o via no trabalho não conhecia aquele que acabara de entrar na boate.
                    Thiago pensou mais uma vez no Daniel, mas pouco.
                    _ Sabe de uma coisa? Eu quero é beijar na boca! – gritou, como se pudesse ser ouvido naquele barulho.
                    _ Isso!
                    A música estremecia o ambiente de maneira impressionante. E Thiago estava a fim de esquecer-se de sua cidade, esquecer de quem tinha ficado por lá, estava se encantando com o novo ambiente que conhecera. Era tanta coisa nova, tantas pessoas diferentes que ele ficava empolgado só de imaginar.
                    Depois de algumas bebidas, ele ficara um pouco mais solto. Não tinha costume de beber, então se controlava para não perder a linha. O Guillermo já tinha sumido no meio da multidão. Thiago apenas observava o ambiente, a estrutura, como as mesas estavam organizadas. Pensava na reunião do dia seguinte. Seria essencial para sua carreira. O que o Marlon achou das fotos? Será que gostou? Faria parte do casting da agência? Se sim, muita coisa mudaria. Se não, aprenderia, mas não desistiria. Sabia que tinha feito seu melhor. Seus pensamentos não paravam de criar expectativas.
                    _ Oi! – ele se virou surpreso de ter ouvido a voz.
                    _ Olá. – respondeu com um sorriso.
                    _ Nunca te vi por aqui. Você não é daqui, certo?
                    “Que tipo de cantada reversa é essa? A pergunta não seria: ‘Você vem sempre aqui?’ – pensou”.
                    _ Certo! Não sou daqui, sou do interior. Estou a trabalho.
                    _ Desculpa, não estou te ouvindo bem, vamos para um lugar mais tranqüilo?
                    “Uau! – surpreendeu-se”.
                    _ Vamos sim!
                    Chegaram num ambiente bem mais tranqüilo, o barulho não incomodava mais.
                    _ Entendi que você não é daqui. De onde?
                    _ Pedra Branca!
                    _ Nossa! Já fui lá. É bem agradável, e que cidade boa para descansar, tenho alguns primos lá, mas já tem muito tempo que não vou a Pedra Branca.
                    _ Deve estar do mesmo jeito que você deixou. É uma cidade que não muda muito.
                    Riram.
                    _ E você é daqui mesmo? – perguntou curioso.
                    _ Sim! Sou daqui, como dizem sou “da gema!”.
                    Um momento de silêncio, Thiago brincou com os dedos, resolveu quebrar o silêncio.
                    _ Você trabalha?           
                    _ Sim! Com certeza! Eu trabalho na avenida Império do Sol.
                    _ Sério? Eu também estou lá! – ele disse surpreso com a coincidência.
                    _ Na X Models Agency – disseram juntos.
                    _ Ah, mentira!
                    _ É sério! Vim fazer umas sessões de fotos para poder entrar para o casting da agência.
                    _ Eu nunca te vi lá!
                    _ É bem raro eu ficar lá, só em externas e quando estou lá é o tempo todo no estúdio. Está bem cansativo. Eu estou com o Guillermo. Ele quem me trouxe aqui.
                    _ Você trabalha mesmo na agência! Não é todo mundo que conhece o Guillermo.
                    _ Claro, pensou que eu estava mentindo. Amanhã, eu estarei lá! Vou ter uma reunião com o Marlon.
                    _ Marlon? O Marlon Velásquez?
                    _ É... Ele mesmo! – disse Thiago.
                    _ Então você é mais importante do que eu pensava.
                    _ Por quê? – quis saber o rapaz.
                    _ Modelos conversando com o Marlon é um em um milhão. – afirmou. – Espero que tenha sucesso.
                    _ Obrigado!
                    Conversaram sobre algumas coisas mais, nem sequer perceberam que as horas voavam. Eram sorrisos e simpatias. Thiago estava tão feliz que não esperava pelo que ouviu em seguida.
                    _ Talvez pareça meio redundante o que vou dizer... - meio sem graça.
                    _ Diga! - ele incentivou.
                    _ Você é muito... Interessante. – disse olhando-o nos olhos.
                    _ Onde está a redundância?
                    _ É que eu ia dizer que você é lindo demais! Só que interessante veio a calhar. Na realidade caiu como luva.
                    _ Também te achei muito interessante. – ele disse chegando mais perto – Interessante e cativante.
                     Olharam-se mais profundamente.
                    _ Que estranho! – disse sem perdê-lo de vista.
                    _ O quê?
                    _ Como você consegue? – era uma pergunta retórica
                    _ Consigo? O quê? – ele insistia.
                    _ Me deixar assim...
                    Ele riu, quando sentiu a respiração ofegante.
                    _ Assim, como?
                    _ Desse jeito.
                    Seus rostos estavam bem próximos, nada impedia o que poderia ser inevitável. Os olhares se cruzavam em busca dos lábios. Estavam muito próximos.
                    _ Entregue? – ele arriscou.
                    _ Estranho...
                    Ele também se sentia estranho. A estranheza impedia o beijo.
                    _ O quê?
                    _ Você!
                    _ Eu?
                    _ Sim! Você é um estranho.
                    Não era o que sentiam. Eram desconhecidos, mas de certa forma se conheciam há muito tempo.
                    _ Paradoxo! – ele agora resolveu brincar com as palavras também.
                    _ O quê?
                    _ O que eu sinto agora.
                    _ E o que você sente?- olhando-o nos olhos.
                    _ Que já te conheço, mas tenho certeza que nunca te vi.
                    _ Talvez seja um sinal. – disse sorrindo.
                    Não percebiam que estavam abraçados. Não percebiam que vários casais entravam e saíam do ambiente. Não percebiam que não se perdiam de vista.
                    _ Sinal de quê? – quis saber curioso.
                    _ De que o destino quer nos unir.
                    _ Já nos uniu.
                    Sorriram. Ele olhou para seus lábios e foi respondido com um beijo. Que beijo! Algo diferente aconteceu.
                    Afastaram-se de súbito.
                    _ Tenho que ir.
                    _ Agora? Espera mais um pouco. – Thiago disse.
                    _ Não posso. Não dá. – disse saindo.
                    _ Espera! Nos veremos novamente? Eu nem sei seu nome. Meu nome é...
                    _ Thiago! Eu sei. O meu é Júlia! – disse ela se despedindo com um sorrindo confuso. – E sim! Nos veremos de novo!
                    Eles nunca mais se esqueceriam disso.

                                                                                  Continua...
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