Thiago nunca tinha entrado
num lugar como aquele. O mais parecido foi o festival de inverno que era um
grande evento. As luzes faziam tantos movimentos que o deixavam tonto, alguns
garçons passavam de um lado para outro, ao longe se via um balcão iluminado.
_ Vamos curtir! – Guillermo
era outro, quem o via no trabalho não conhecia aquele que acabara de entrar na
boate.
Thiago pensou mais uma vez
no Daniel, mas pouco.
_ Sabe de uma coisa? Eu
quero é beijar na boca! – gritou, como se pudesse ser ouvido naquele barulho.
_ Isso!
A música estremecia o
ambiente de maneira impressionante. E Thiago estava a fim de esquecer-se de sua
cidade, esquecer de quem tinha ficado por lá, estava se encantando com o novo
ambiente que conhecera. Era tanta coisa nova, tantas pessoas diferentes que ele
ficava empolgado só de imaginar.
Depois de algumas bebidas,
ele ficara um pouco mais solto. Não tinha costume de beber, então se controlava
para não perder a linha. O Guillermo já tinha sumido no meio da multidão.
Thiago apenas observava o ambiente, a estrutura, como as mesas estavam
organizadas. Pensava na reunião do dia seguinte. Seria essencial para sua
carreira. O que o Marlon achou das fotos? Será que gostou? Faria parte do
casting da agência? Se sim, muita coisa mudaria. Se não, aprenderia, mas não
desistiria. Sabia que tinha feito seu melhor. Seus pensamentos não paravam de
criar expectativas.
_ Oi! – ele se virou
surpreso de ter ouvido a voz.
_ Olá. – respondeu com um
sorriso.
_ Nunca te vi por aqui. Você
não é daqui, certo?
“Que tipo de cantada reversa
é essa? A pergunta não seria: ‘Você vem sempre aqui?’ – pensou”.
_ Certo! Não sou daqui, sou
do interior. Estou a trabalho.
_ Desculpa, não estou te
ouvindo bem, vamos para um lugar mais tranqüilo?
“Uau! – surpreendeu-se”.
_ Vamos sim!
Chegaram num ambiente bem
mais tranqüilo, o barulho não incomodava mais.
_ Entendi que você não é
daqui. De onde?
_ Pedra Branca!
_ Nossa! Já fui lá. É bem
agradável, e que cidade boa para descansar, tenho alguns primos lá, mas já tem
muito tempo que não vou a Pedra Branca.
_ Deve estar do mesmo jeito
que você deixou. É uma cidade que não muda muito.
Riram.
_ E você é daqui mesmo? –
perguntou curioso.
_ Sim! Sou daqui, como dizem
sou “da gema!”.
Um momento de silêncio,
Thiago brincou com os dedos, resolveu quebrar o silêncio.
_ Você trabalha?
_ Sim! Com certeza! Eu
trabalho na avenida Império do Sol.
_ Sério? Eu também estou lá!
– ele disse surpreso com a coincidência.
_ Na X Models Agency –
disseram juntos.
_ Ah, mentira!
_ É sério! Vim fazer umas
sessões de fotos para poder entrar para o casting da agência.
_ Eu nunca te vi lá!
_ É bem raro eu ficar lá, só
em externas e quando estou lá é o tempo todo no estúdio. Está bem cansativo. Eu
estou com o Guillermo. Ele quem me trouxe aqui.
_ Você trabalha mesmo na
agência! Não é todo mundo que conhece o Guillermo.
_ Claro, pensou que eu
estava mentindo. Amanhã, eu estarei lá! Vou ter uma reunião com o Marlon.
_ Marlon? O Marlon Velásquez?
_
É... Ele mesmo! – disse Thiago.
_ Então você é mais
importante do que eu pensava.
_ Por quê? – quis saber o
rapaz.
_ Modelos conversando com o
Marlon é um em um milhão. – afirmou. – Espero que tenha sucesso.
_ Obrigado!
Conversaram sobre algumas
coisas mais, nem sequer perceberam que as horas voavam. Eram sorrisos e
simpatias. Thiago estava tão feliz que não esperava pelo que ouviu em seguida.
_ Talvez pareça meio
redundante o que vou dizer... - meio sem graça.
_ Diga! - ele incentivou.
_ Você é muito...
Interessante. – disse olhando-o nos olhos.
_ Onde está a redundância?
_ É que eu ia dizer que você
é lindo demais! Só que interessante veio a calhar. Na realidade caiu como luva.
_ Também te achei muito
interessante. – ele disse chegando mais perto – Interessante e cativante.
Olharam-se mais profundamente.
_ Que estranho! – disse sem
perdê-lo de vista.
_ O quê?
_ Como você consegue? – era
uma pergunta retórica
_ Consigo? O quê? – ele insistia.
_ Me deixar assim...
Ele riu, quando sentiu a
respiração ofegante.
_ Assim, como?
_ Desse jeito.
Seus rostos estavam bem
próximos, nada impedia o que poderia ser inevitável. Os olhares se cruzavam em
busca dos lábios. Estavam muito próximos.
_ Entregue? – ele arriscou.
_ Estranho...
Ele também se sentia
estranho. A estranheza impedia o beijo.
_ O quê?
_ Você!
_ Eu?
_ Sim! Você é um estranho.
Não era o que sentiam. Eram
desconhecidos, mas de certa forma se conheciam há muito tempo.
_ Paradoxo! – ele agora
resolveu brincar com as palavras também.
_ O quê?
_ O que eu sinto agora.
_ E o que você sente?-
olhando-o nos olhos.
_ Que já te conheço, mas
tenho certeza que nunca te vi.
_ Talvez seja um sinal. –
disse sorrindo.
Não
percebiam que estavam abraçados. Não percebiam que vários casais entravam e
saíam do ambiente. Não percebiam que não se perdiam de vista.
_
Sinal de quê? – quis saber curioso.
_
De que o destino quer nos unir.
_
Já nos uniu.
Sorriram.
Ele olhou para seus lábios e foi respondido com um beijo. Que beijo! Algo
diferente aconteceu.
Afastaram-se de súbito.
_ Tenho que ir.
_ Agora? Espera mais um
pouco. – Thiago disse.
_ Não posso. Não dá. – disse
saindo.
_ Espera! Nos veremos
novamente? Eu nem sei seu nome. Meu nome é...
_ Thiago! Eu sei. O meu é
Júlia! – disse ela se despedindo com um sorrindo confuso. – E sim! Nos veremos
de novo!
Eles nunca mais se
esqueceriam disso.
Continua...
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