quinta-feira, 6 de setembro de 2012

21| Surpresa na Fashion Party.



                    _ Ai, meu Deus! Ai, meu Deus!
                 _ O que foi que aconteceu? – Roberta chegou na cozinha e encontrou o amigo com a mão na boca surpreendido com a notícia. – Fala menino!
                    _ O Marlon Velásquez da X Models Agency acabou de me ligar me convidando para fazer um ensaio fotográfico – disse sem reação.
                    Roberta também pôs a mão sobre a boca.
                    _ Meu Deus do céu! Não acredito! Flávia vem cá agora! Gente...
                    _ O que foi gente?
                    _ Convidaram o Thiago para fazer um ensaio fotográfico na X Models Agency!
                    As duas meninas gritaram como se fossem com elas. E saíram correndo para sala para contar para quem estava por lá. A sessão cinema acabou. Todos se levantaram e vieram cumprimentar o Thiago pela conquista.
                    _ Obrigado gente, mas é só um ensaio para ver se tenho mesmo o jeito e futuro...
                    _ Deixa de modéstia. Uma notícia dessa não pode ficar assim no vácuo. Quando você vai? – Mariah falou.
                    _ Na segunda-feira de manhã cedo.
                    _ Perfeito! – continuou
                    _ Para quê?
                    Ela olhou para as meninas que adivinharam o que ela planejava.
                    _ FESTA! – disseram todas.
                    _ Gente, vocês não estão exagerando? Foi só um convite e mais nada. – disse Thiago.
                    _ Sem o povo saber do motivo, pode ser? – disse Flávia – Afinal, ninguém precisa saber disso!
                    _ Claro! Ângelo arruma os bilhetes para ingresso, Flávia comunicação pelas redes sociais, José cuida das bebidas, Ricardo fica com a estrutura, Roberta da comida. E eu coordeno.
                    _ E eu? – perguntou Thiago – O que faço?
                    _ Nada! – Mariah disse como se falasse o óbvio - Você é o homenageado!
                    _ Gente, só foi um convite, como já disse não tenho certeza de nada.
                    _ Calma, moço! Nós sabemos disso! Só estamos comemorando a oportunidade, e sabemos que você fará o melhor. – disse Roberta – Sem contar que nessa cidade nem acontece muita coisa.
                    _ Se for assim, tudo bem, mas não aceito ficar sem fazer nada.
                    _ Está bem! Você me ajuda. – piscando o olho para as meninas. Pegou o celular - Deixe-me ver... Temos quatro dias, a festa será no sábado, porque domingo você tem que está mais deus grego ainda!
                    _ Onde vamos fazer isso tudo? – perguntou Ângelo.
                    _ Meu pai tem um galpão para depósito vazio próximo ao centro, num lugar mais afastado, de fácil acesso e cabem ali umas mil pessoas.
                    Todos olharam para Mariah assustados.
                    _ Calma. Dá para montar o ambiente e diminuir os espaços para o tamanho que achar necessário. Vamos chamar somente nossos amigos, que por alto deve dá cento e cinqüenta, duzentas pessoas? Por alto...
                    _ Acho que é isso mesmo! – disse Ricardo.
                    _ Ei! Tenho um amigo DJ.  – José falou - Posso chamá-lo para animar a festa?
                    _ Deve! – Mariah tomava conta da situação - Então... Mãos à obra!             
                    Foi um resto de semana bem agitado, no mesmo dia, Ângelo e Flávia fizeram a arte da festa e a publicou em todo tipo de rede social e imprimiram os ingressos. José contatou uma distribuidora de bebidas e ajudou Ricardo a criar a estrutura da festa com o André, seu amigo DJ. Roberta pesquisou e organizou um cardápio leve e prático.
                    _ FASHION Party! Gostei! – disse Thiago vendo o bilhete que avisava que o convidado mais bem vestido ganharia um presente.
                    _ Vai ser um sucesso essa festa. – disse Flávia – mais de 50 pessoas compraram o ingresso em mãos e confirmados por depósito mais trinta. Isso no primeiro dia!
                    Aplaudiram empolgados.
                    _ Claro! Nessa cidade não tem nada de interessante, o povo morre esperando pelo festival de inverno da cidade vizinha e nunca fazem nada. E ainda vamos tirar um dinheiro extra por termos organizado! – Mariah dizia enquanto mexia numa lista.
                    Um pouco distante dali, Daniel estava na internet vendo sobre a festa que era organizada por eles. Pensou se ia ou não, afinal os organizadores só eram seus desafetos.
                    _ Não tem nada nessa cidade! Eu vou sim! Por mim, que eles morram de raiva quando me virem lá. Vou pagar mesmo! Confirmou a transferência on-line e imprimiu o comprovante da festa.
                    Telefone tocou. Era Patrícia.
                    _ O que é? – atendeu meio sem paciência.
                    _ Amor, a gente vai nessa festa meia boca?
                    _ Tem coisa melhor para fazer nesse fim de mundo?  
                    _ A gente pode ficar assistindo uns filminhos. Só nós dois.
                    _ Prefiro ir à festa.   
                    _ Está bem, então vamos mesmo! Passa aqui em casa para me buscar às 19:30h.
                    _ Está bem. Não se atrase, odeio essas frescuras.
                    _ Nunca me atrasarei para você seu lindo! Só mais uma coisa...
                    _ Fala logo que estou com pressa.
                    _ Ultimamente você tem agido diferente comigo, por quê?
                    _ Agido diferente? Como assim? – perguntou sem prestar muita atenção.
                    _ Toda vez que te procuro você não quer nada, nem se anima mais para coisas que fazíamos.
                    _ Que nada! – ajeitou-se na cadeira em frente ao computador, a razão lhe veio – Isso é coisa de sua cabeça. Está bom! Tchau.
                    _ Te amo!
                    Daniel desligou. Sobre a cadeira próxima ao guarda-roupa, viu um brinquedo que usava muito quando criança. O que ele fazia ali? Olhou-o com mais atenção. Voltou a ver o chat na internet.
                    Não demorou para que os ingressos acabassem. Tudo estava pronto. Ricardo e José preparavam os últimos detalhes das estruturas checando segurança, som e luz, como tudo estava antes para que nada saísse do lugar e para preservar tudo depois da festa.
                    O grande dia chegou. O grupo de amigos passou o dia no galpão que estava todo diferente, nem sequer parecia um galpão. Na entrada, havia quatro seguranças que checavam a lista de convidados e faziam uma vistoria. O som já dominava o ambiente e as luzes deixavam a pista convidativa. De uma escada que pertencia ao galpão, seguia uma passarela destacada e mais alta. Numa plataforma mais acima estava a cabine do DJ que era equipada com os mais diversos aparelhos e luzes que mudavam de acordo a batida.
                    Em quatro cantos do galpão haviam ilhas que distribuíam bebidas e comidas separadamente, além dos garçons que passeavam entre os convidados. Mariah que já trabalhava com eventos convidou uns amigos para fazerem a segurança interna, todos eles estavam à paisana, porém poderiam ser identificados com uns detalhes na roupa.
                    Thiago chegou à festa um pouco depois de todos, os procurou, abraçou cada um agradecendo por tudo.
                    _ Depois quero falar com você, sério, pode ser? – disse Mariah.
                    _ Claro que pode!
                    Subiu para falar com o André que era o DJ da festa e pedir algumas músicas. Roberta e Flávia estavam lindas, mesmo que não concorressem ao prêmio tinham ido para matar.
                    _ Não acredito!
                    _ O que foi amiga? – disse Roberta.
                    _ Olha quem está entrando?
                    Roberta se virou e viu Daniel e Patrícia entrando de mãos dadas.
                    _ Filho da mãe. Ele ainda tem a camisa que eu dei. E veio com ela. – disse meio revoltada.
                    _ Os meninos não vão gostar disso. – disse Flávia prevendo a reação do Ricardo.
                    _ Vou encontrá-lo antes que ele os encontre.
                    _ Tarde demais.
                     Roberta viu que Ricardo acabara de abordar o casal com uma cara de poucos amigos.
                    _ Vamos lá, amiga!
                    _ O que você está fazendo aqui, Daniel? Você não é bem vindo, já devia saber disso. – Ricardo se posicionava na frente dele.
                    _ Nossa! Quanta cordialidade! – Daniel gostava de ser sarcástico – Fui convidado pela internet.
                    _ Com certeza foi um engano. Por gentileza se retire, por favor. – Ricardo segurava-se para não pegá-lo pelo braço e chutá-lo porta a fora.
                    _ Nós pagamos! – disse Patrícia para mostrar que estava ali – Temos direito de ficar o tanto que quisermos.
                    _ Devolvemos o dinheiro – disse pegando a carteira.
                    _ Não queremos o dinheiro de volta, Ricardo  - Daniel falava calmo – Só vamos curtir a festa, fique tranqüilo, não tenho bombas aqui.
                    Roberta e Flávia chegaram por trás do Ricardo.
                    _ O que você faz aqui, seu ordinário? – perguntou Flávia.
                    _ Ele disse que foi convidado pela internet. – disse Ricardo olhando para ela já que foi ela responsável de divulgar a festa.
                    _ Não olhe para mim assim que eu não o convidei. – vendo a cara que o namorado da amiga fazia.
                    _ E não foi mesmo! Foi o Ângelo. Somos amigos pela internet também.
                    _ É só devolver o dinheiro.
                    _ Gente, porque eu e minha namorada não podemos ficar na festa, só queremos curtir. Não explodiremos o local, garanto. – Daniel falava com calma que irritava - E não! Não vou devolver o dinheiro.
                    _ Não chegando perto de mim... Por mim tudo bem. – disse Roberta que foi fuzilada por Ricardo – Que foi? Ele não vai fazer nada.
                    Daniel sorriu.
                    _ Com você não mesmo. Eu não vou deixar, não se preocupe! – disse Patrícia se pondo mais a frente para que a vissem.
                    _ Se acontecer qualquer coisa estranha, venho por vocês para fora. Na mesma hora. – disse Ricardo furioso sendo segurado por Roberta.
                    _ Isso se ainda estivermos aqui, não é... Brincadeirinha!
                    Assim que se distanciaram, Ricardo pediu para um dos seguranças ficarem de olho nos dois.
                    A música subiu, as luzes moviam-se freneticamente. Era o momento para se divertir, Thiago chamou algumas pessoas que conhecia para dançar com ele. Dançavam e riam muito. Daniel e Patrícia estavam encostados no balcão, bebendo alguma bebida com vodka, quando Daniel virou o copo.
                    _ Calma amor! Temos a noite toda aqui ainda. E você está dirigindo! Vai devagar.
                    _ Vai se danar! – já estava alto, sempre foi fraco.  
                    De cima, o DJ André pulava para que todos pulassem com ele. A animação era geral, quem não queria dançar ficava sentado ou em lugares alternativos ao lado da pista de dança. Uma batida diferente começou a tocar e Thiago continuava dançando empolgado.
                    _ Uhu! Isso aí, André! Amo David Guetta!  - começava a música Without you.
                    A música rolava a todo vapor, quando Thiago percebeu que um rapaz de camiseta branca e calça jeans surrada, usava dreads o observava o tempo todo.
                    “Ai meu Deus! Aqui não!” – pensou.
                    O rapaz já o observava desde o início da festa. Criando coragem, chegou junto ao Tiago que dançava e perguntou se podia conversar com ele, que respondeu negativamente, o rapaz insistiu e como viu que era mais ou menos do seu tamanho e era só um...
                    _ Pode falar aqui. – tentou falar alto por causa da música, mas o rapaz fez um sinal com as mãos indicando que a música estava muito alta e que iria para a parte de trás do galpão onde era mais silencioso.
                    “Não devo nada a ninguém”– pensou, saindo discretamente depois do rapaz que o esperava nos fundos do galpão.
                    _ É um veado mesmo! – disse baixo, quando teve o pensamento interrompido pela namorada.
                    _ O que você falou, não ouvi? – Patrícia disse, mesmo tendo lido os lábios dele.
                    _ Nada demais. Vou ao banheiro.
                    Flávia que tinha acabado de sair de uma sala mais no fundo, viu o rapaz passar para sair para os fundos e quando resolveu ir chamá-lo, viu Thiago passar.
                    “Ainda bem que o Thiago viu! Esse povo não sabe ler as placas de proibido”.
                    O rapaz afastou mais para o escuro e sua silhueta se misturou com a de alguns equipamentos, Thiago não o percebeu. Ele vendo o aproximar puxou o braço, roubou-lhe um beijo. Uma surpresa para Thiago, foi inevitável não se lembrar do Daniel. Ficou confuso na hora.
                    Flávia os seguiu para dar suporte a Thiago caso precisasse, porém assim que viu o que viu, parou de imediato. Foi o tempo de ver e se esconder, voltando para dentro do galpão. Thiago se afastou e deu um soco forte no rosto do rapaz.
                    _ Você está doido! – disse ele meio bravo, o sangue escorreu pelo canto da boca.
                    _ Desculpa! Desculpa, “véi”! Foi impulso…
                    O rapaz, meio irritado, sorriu porque havia sentido que Thiago tinha amolecido durante o beijo, apesar de não tê-lo respondido.
                    _ De boa! Nunca fez isso, não é?
                    _ Não! – Thiago dizia envergonhado por ter machucado o rapaz.
                    Flávia não sabia se corria para contar para amiga ou se ficava para ver mais. Resolveu contar. Se misturando na multidão não percebeu Daniel passar de tão afoita que estava para contar o que havia descoberto. Daniel atravessou o espaço que separava as salas e os fundos do galpão.
                    Thiago e o rapaz estavam próximos, quem os visse, mesmo que não parecesse, perceberia o clima. Afinal, o que dois rapazes fariam sós no fundo de um galpão? Para Thiago tudo estava normal de tão nervoso que estava e ninguém pensaria isso.
                    _ E aí, como é seu nome? – perguntou o dreads.
                    _ Não é da sua conta, otário! Se afasta dele agora!
                    _ Daniel, o que você está fazendo aqui? – Thiago assustado.
                    _ É seu namorado? – disse o rapaz se levantando de onde estava encostado.           
                    _ Ninguém te convidou para festa, como você...- Thiago que vinha em direção a Daniel foi empurrado por ele para o lado e só o viu acertando um soco no nariz do rapaz que caiu tonto no chão, Daniel não perdeu tempo sentou em cima e começou a bater descontroladamente.
                    Thiago se jogou sobre ele tentando afastá-lo do rapaz que não entendia nada e estava totalmente atordoado pelos socos que recebia do Daniel que foi agarrado por trás numa chave de braço que Thiago usou para imobilizá-lo.
                    _ Para, Daniel! Para, ficou doido! – gritava.
                    _ Esse idiota está afim de você e...
                    O rapaz se levantou e desferiu um soco no estomago e outro na boca aproveitando que Thiago o segurava.
                    _ Não é para bater nele! Saí daqui! Vai embora! – gritou Thiago que afastava Daniel que usava toda sua força para se desvencilhar de seus braços. – Mandei ir embora, sai! É sério! Vai embora!
                    _ Não antes disso! – Deu mais dois socos em Daniel e saiu se limpando do sangue que descia pelo nariz e boca. – Vocês se merecem!
                    _ Me solta! – urrou Daniel, Thiago o empurrou e ele quase caiu. – Virou garoto de programa agora? Está cobrando quanto pelo programa? Pago quarenta reais...
                    Thiago percebeu que Daniel não dizia nada com nada, e o cheiro de álcool estava gritante.
                    _ Diz! – gritou, vindo em sua direção – Qual é o seu preço?
                    Thiago não resistiu, e como estava de costas assim que resolveu virar para encarar o amigo, fechou o punho e deu um soco na boca que desequilibrou Daniel.
                    _ Não estou à venda! O que é Daniel? O que é que você quer? Já deu! – disse irritado – Chega!
                    _ Chega, o caramba!
                    Daniel se levantou com a boca sangrando, aproximou dele, olhando-o nos olhos. Aquilo desconcertava Thiago. De certa forma, Daniel sabia que exercia certo poder sobre o rapaz.
                    _ Descobri uma coisa, e quero te contar!
                    _ Isso não é do meu interesse! E não quero saber.
                    _ É sim! Quer sim!
                    _ Quem vai me forçar? Você? – Thiago soltou um sorriso irônico.
                    _ Sim! - disse sério, o seu hálito estava carregado de álcool.
                    _ E como você vai me forçar? Me dando socos e pontapés?
                    _ Não, tenho um método melhor. – ao dizer isso, sacou uma arma e encostou-a na barriga de Thiago que não se movia mais.
                    _ Onde você encontrou isso? – Thiago assustado com a atitude de Daniel.
                    _ Não é do seu interesse! Vamos até meu carro!
                    Os dois se dirigiram até o carro de Daniel que se encontrava no estacionamento, a arma não saiu das costas do Thiago. Entraram no carro.
                    _ Aonde você vai me levar, Daniel? Não faça besteiras. – Thiago tinha nos olhos o desespero.
                    _ Quer saber agora? Como as pessoas mudam tão de repente... Não queira saber, amigo! Não queira saber!
                    Partiram e o carro sumiu na estrada.

                                                                          Continua...

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