_ Ai, lá em casa...
Era comum escutar isso
enquanto andava pela rua. Quando acontecia, sorria sem querer. Não se sabe se
era o jeito de caminhar, ou quem sabe o jeito como olhava para as pessoas. Os
passos firmes seguiam retos pela rua.
_ Minha nossa! Onde está
suas asas, meu anjo? – ouviu de alguém mais atirado.
_ Deixei em casa. – e sorria
mais.
Gostava disso, mas tudo com
decência. Achava engraçado como o mundo havia mudado, as pessoas diziam coisas
muito engraçadas para chamar sua atenção. Os olhares significativos eram o que
mais via.
_ Como você aguenta?
_ É normal. E olha que a
cidade é pequena.
_ Gentileza, segurar meu
braço porque quero chegar com você inteiro lá em casa.
_ Está bem.
Ricardo estava sentado no
sofá assistindo um documentário quando Roberta e Thiago chegaram.
_ Olá! – disse Roberta – Meu
amor mais lindo, cheguei!
_ Oi, minha flor! – deu um
beijo, e virou para cumprimentar o visitante – Chega mais Thiago! Tudo bem?
_ Oi Ricardo! Tudo bem, sim!
E com você?
_ Por aqui tudo bem
tranqüilo, trouxe os filmes?
_ Sim! Estão aqui na bolsa,
não sei se vocês já assistiram alguns, mas eu trouxe uns também que não
assisti, aí podemos vê-los juntos em igualdade.
_ Ok. Passa aí!
Enquanto Thiago despejava os
vídeos sobre o sofá, a porta se abria e o José e a Flávia entravam na sala.
_ Cheguei linda! E meu lindo
pretinho chegou junto comigo.
_ Sempre arrasando. – disse
Roberta que foi abraçar a amiga e José se juntando aos meninos para ver os
filmes. – As meninas na cozinha para preparar os comes e bebes e vocês escolham
um filme bom aí, senão eu troco.
Partiram para a cozinha. Os
meninos ficaram na sala, numa dúvida cruel com relação ao que ver. Já tinham se
encontrado algumas vezes. Essa era mais uma sessão de cinema entre eles, isso
virou rotina quando descobriram a videoteca que o Thiago tinha em casa e por
isso era o responsável levar os filmes e arrumar a aparelhagem de som e de
vídeo, para que pudessem apreciar melhor.
_ Thiago me perdoe se eu for
indelicado, mas eu queria saber se encontraram os caras que te assaltaram? Eles
te dão noticias de como estão as investigações? – perguntou Ricardo.
Ele se sentia um pouco incômodo
de falar sobre isso, eram péssimas lembranças, mas com os amigos não tinha
problema.
_ Ainda não Ricardo. Fizeram
o retrato falado a partir do que descrevi, e sabem quem são, mas ainda não
conseguiram pegar os bandidos. Eles já têm passagem e são procurados. Sempre
que as investigações avançam, eles me falam.
_ Estamos aqui torcendo para
dar tudo certo. Eles têm que pegar esses bandidos. – disse José.
_ Vão pegar, sim! Tenho
certeza! Deixa-me ver o que as meninas estão preparando. – levantando-se e
caminhando até a cozinha.
_ Que tanto de comida é essa,
gente?
_ Meu filho, o povo come e
não é pouco, é muito mesmo!
_ As meninas, eu estou
ficando sem graça. – disse Thiago como se sentisse deslocado.
_ Por quê? – perguntou
Roberta preocupada. – O que foi?
_ Eu estou que nem devoto.
Queimando vela demais.
As meninas caíram na
gargalhada.
_ Ô gente, que dó! – Flávia
ria - Queima vela porque quer, tem um tanto de gente se oferecendo e você aí
fingindo que nem vê.
_ Não se preocupe, você não
vai queimar vela sozinho. – Roberta falou rindo.
Bateram na porta.
_ Vai lá atender. – disse
Flávia antes de gritar – o Thiago vai atender!
Isso fez com que o José e o
Ricardo não se movessem do lugar, acharam o máximo porque estavam mesmo com
preguiça de ir até a porta. Ensaiavam como pedir uns filmes emprestados ao
Thiago que foi abrí-la.
Quem vinha chegando, ao
vê-lo, o olhou de baixo para cima e fez como se estivesse voltando porque bateu
na porta errada, mas não, foi apenas conferir se era mesmo aquela casa. Ele
também reparou. Fez cara de desentendido.
_ Oi! – disse Thiago rindo
da cena.
_ É a casa da Roberta, não
é?
_ Quem é, Thiago? – a voz da
Flávia surgiu do nada, gritava de lá de dentro da cozinha.
_ Sim! É essa mesma. – ele
sorriu - Você é?
_ Sou Mariah. – sorriu a
moça de cabelos longos, um pouco menor que ele de olhos amendoados, tinha
lábios brilhosos por causa do gloss de morango que havia passado antes de
abrirem a porta, em seu pescoço uma discreta corrente que segurava uma pedrinha
verde.
_ Mariah? De Mariah Carey? A
cantora? - brincou
Ela sorrindo porque ele
sorria para ela, explicou:
_ Não! Na realidade se
pronuncia “Maria” mesmo, mas as meninas descobriram que tem um “h” no final e
me chamam como se fosse igual ao da cantora, me acostumei. Atendo pelos dois. E
também pelo meu telefone.
Thiago fez uma expressão de
“minha nossa!”, e disse:
_ Está bem, vou te chamar de
Maria, Maria mesmo, pode ser?
_ Claro que pode. Me
chamando, meu filho, é o que importa. – Mariah riu – Estou brincando, viu! Não
sou tão atirada assim não. É só para quebrar o gelo.
_ Eu sei. – consentindo –
meu nome é Thiago. Prazer.
_ Prazer todo meu Thiago,
com “TH”?
_ Sim! T-H-I-A-G-O! Quase
tradicional.
_ Adoro!
Enquanto um olhava para cara
do outro sorrindo, a Roberta viu que conversavam na porta mesmo, então chamou a
Flávia para ver.
_ Vocês não querem entrar,
para ficarem mais à vontade, tem um sofá aqui. Thiago, eu não te ensinei assim.
Todos da sala riam. Thiago
ficou sem graça. Mariah olhou para as meninas com cara de “tudo estava bem,
obrigada!”.
_ Desculpa! Entra aí. –
disse ele.
_ Não se preocupe Thiago.
Esse povo é besta demais. – disse entrando e abraçando as meninas e falando com
os meninos. – Seus bobos. E aí povo, como estão todos? Cadê tia?
_ Minha mãe foi na casa de
minha avó. Estamos bem demais, e você “Hero”? – disse Roberta se dirigindo a
amiga com o nome de uma música da cantora.
_ Ei! – interrompeu Flávia –
Não comece a chamar “My all” assim. Ela gosta de ser tratada pelo nome, não é, “When
Christmas comes”.
_ Nossa! – disse Mariah.
_ Música nova. – disse
Flávia rindo – parei Mariah isso me cansa rápido.
As meninas foram para
cozinha de novo. Bateram mais uma vez na porta.
_ Vai lá porteiro oficial! –
gritou Flávia.
Thiago nem tinha sentado e
ao abrir a porta viu um garoto talvez mais novo que ele abaixado arrumando o
tênis. Com alguns cachos louros escapando por baixo do boné aba reta e um jeito
meio largado se levantou para falar com quem tinha aberto a porta, quando Thiago
encarou que viu olhos bem diferentes do comum, como se o ponto menor mais negro
dos olhos tivesse caído sobre o azul Royal espalhando um tom amarelo em sua
volta, semelhante ao sol.
“Que olhos legais!” – Thiago
pensou.
Como o rapaz não esperava
ver quem viu, se atrapalhou quando foi falar.
_ É...A... A... Flávia. A
Flávia está aí?
_ Está sim, você é?
_ Sou Ângelo, o irmão dela.
Pode chamá-la, por favor.
_ Claro! – Thiago foi à
cozinha e voltou trazendo a Flávia.
_ O que é menino? Tem cara e
nome de anjo, mas é o diabo, viu! Não acredita nessa cara linda dele, não! Vê
se sua carteira ainda está no bolso, Thiago.
Instintivamente, Thiago
levou as mãos aos bolsos. E Flávia e Ângelo riam.
_ Vim assistir ao filme! –
disse ele.
_ Você me chamou para isso.
Entra menino. Nossa, que lerdo! Thiago, esse é o Ângelo, meu irmão menor.
Thiago ia apertar a mão dele
num gesto tradicional de cumprimento, mas o garoto bateu e fechou a mão, num
cumprimento moderno.
“Aff, estou ficando velho!”
– Thiago pensou.
Tudo ficou pronto para uma
tarde muito agradável de cinema em casa.
_ Todos esses filmes são
seus? – perguntou Ângelo
_ Sim! E tem mais lá em
casa!
_ Uau! Todos originais. Deve
ter custado uma nota preta.
_ Sim! Custaram mesmo. Os DVDs
originais são bem caros, por isso tenho muito cuidado com eles. Além da
qualidade que possuem não estragam gradativamente meus aparelhos que também não
foram baratos.
Entre um filme e outro,
Mariah foi à cozinha e perguntou às meninas:
_ Gente, o que é aquilo
naquela sala, meu pai!
_ O que menina? – Flávia
fingindo que não sabia o que era.
_ Aquele gato, deus da
beleza sentado ali...
_ Ah! É o José, boba, pensei
que conhecia meu namorado.
Riram todas.
_ É um amigo nosso desde
pequeno, tinha um tempo sumido daqui de casa, mas agora está de volta.
_ Nunca tinha visto por
aqui. Vou investir, hein! Está disponível?
_ Se conseguir, minha filha
você tira a sorte grande! – disse Flávia.
_ Fechado.
Durante um filme de comédia,
Thiago percebia os olhares da Mariah para ele, então um celular tocou. O do
Thiago.
_ Você não viu o aviso de
“Desligue seu celular, pois o filme vai começar”, não? – Flávia brincou.
Thiago levantou rapidinho e
foi atender na cozinha.
_Thiago!
_ Boa tarde! Você é o Thiago
Allexander Villani? – disse uma voz feminina aveludada do outro lado.
_ Sim! Quem fala?
_ Só um momento, por
gentileza, Thiago.
Thiago esperou um pouco,
ouvindo aquela uma música de fundo que foi cortada por outra voz, agora
masculina.
_ Olá, Thiago!
_ Oi, quem fala, por favor!
_ Aqui é o Marlon Velásquez,
tudo bem?
_ Tudo bem, Marlon! – Thiago
não tinha a mínima idéia de quem estava falando com ele, mas tinha a ligeira
sensação que já tinha ouvido falar desse nome. – Então, em que posso ajudar?
_ É o seguinte, eu tenho em
minha mesa algumas fotos de um book que você enviou para nós da X Models
Agency. Eu gostei de você, mas achei as fotos um pouco amadoras, pelo que vejo
você fala e mora no interior. Não é isso?
_ É... É... É sim, senhor! –
Thiago não acreditava.
_ Você é gago? – Marlon
brincou.
_ Não. Não sou. – tentou se
controlar.
_ Ah sim! Eu gostei mesmo de
você e pensei em convidá-lo para vir aqui na agência fazer umas fotos profissionais
para conferirmos o resultado e quem sabe iniciar uma promissora carreira de
modelo, o que você acha?
Thiago não conseguia falar.
_ Thiago? – o Marlon
imaginava o que estava acontecendo – Posso considerar isso como um sim?
_ Pode! Sim! Claro, com
certeza! Vou sim! – não disfarçou o entusiasmo e a alegria violenta que o
acometeu.
_ Está bem. Te espero aqui
então. – disse despedindo-se - Ah! Não desligue, porque a Mônica, a secretária,
vai te dar uns conselhos. Grande abraço.
_ Obrigado Marlon! Obrigado
mesmo!
_ Não tem o que agradecer. –
a música da agência voltou a tocar.
_ Thiago? – disse Mônica
_ Oi Mônica! – a voz de
Thiago sorria – Tudo bem?
_ Gostou da notícia?
_ E como! Amei demais, nem
acredito ainda.
_ Acredite, pois é verdade.
Eu preciso te passar algumas informações referentes a sua chegada aqui na
agência. Seu vôo está marcado para as 7h da segunda-feira, no aeroporto um
rapaz vai te esperar com uma plaqueta com seu nome e aí ele o trará até nós,
ok?
Mônica passou todas as informações
necessárias para que Thiago não se perdesse e chegasse seguro.
_ Ok, Mônica! Obrigado!
Muito obrigado!
_
Por nada! Até mais!
Thiago desligou o celular. Uma
euforia incontrolável o invadia. Os sentimentos mais felizes tinham se
multiplicado.
_ Não acredito que posso virar
modelo... – disse sem acreditar.
Continua...
©
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