quarta-feira, 15 de agosto de 2012

2| Visão


Trovejou.
Ainda não dava para acreditar no que havia acontecido há algumas horas. O namoro de quatro anos terminara de uma hora para outra.
Dentro do quarto, Roberta tinha, em seus olhos estáticos, a marca do abandono. As lágrimas desciam negras por causa da maquiagem o que tornava sua imagem ainda pior. Ninguém sabia que o Daniel havia acabado com tudo por nada. Os planos de casamento e um final feliz, projetos se desfaziam em pó.
Ela sabia que não tinha nada de errado, não o traiu em momento algum. Por que ele não acreditava nela? Nunca tinha dado motivo para tanta desconfiança.
Num ímpeto, levantou o dedo como se soubesse a solução do problema.
_ Já sei! O ordinário do Thiago vai ter que falar o que realmente aconteceu. Ele sabe que não o beijei porque quis, ele que me forçou... Idiota! – Começou andar dentro do quarto de um lado para o outro, falava sozinha e limpava as lágrimas.
Ligou para o Thiago, mas ele não atendia. Sabia que era ela e provavelmente já teria conversado com o Daniel e inventado uma mentira sem cabimento. Eram amigos, desde pequenos. Claro que o Daniel acreditaria nele.
E agora? Tudo parecia muito difícil.
As lágrimas voltaram a descer, seguiam a mesma direção da chuva lá fora. Apesar de todo esforço para entender tudo, cedeu ao cansaço, deitou sobre a cama como se olhasse para um mundo distante, cheio de perguntas e dor.
Não percebeu quando o sono secou-lhe os olhos.
Na escuridão da madrugada, um carro azul-petróleo rasga o silêncio com o ronco do motor em alta velocidade. O motorista tem pressa. A avenida reta está vazia e já é muito tarde.
_ Estou voltando, Estou voltando, Roberta! Estou voltando! – dizia o motorista
_ Daniel? É, é você?
_ Estou voltando só por você! Me perdoa! Me perdoa!
Num momento, Roberta imaginou ter reconhecido aquela voz grave que vinha de dentro do carro. Uma voz de muito tempo atrás.
_ Você? Não acredito! – disse pasma. – Onde você estava esse tempo todo?
Roberta se viu no meio da avenida. Esperava o visitante. Não sentia perigo, pois conhecia há muito tempo o motorista e sabia que o carro pararia. Estava enganada. Forçou a vista para confirmar quem era o motorista.
_ Daniel? Você? Mas, essa voz é do...
Não deu tempo completar. Num instante muito rápido, por nada o carro perdeu o controle e capotou. Quatro cinco vezes. Cada vez que capotava, mais terrível era a situação. Roberta não pode conter o grito:
_ Nãããããããão! Danieeeeeeel!
O carro parou.  De longe, viu o rosto do amado sangrar embaixo das ferragens. Ele se mexia com dificuldade tentando sair, mas não tirava os olhos dela. Não sairia dali facilmente. A mão de Daniel que segurava firme o volante tombou no chão cheio de vidro e gasolina que vazava do tanque.
_ Eu te amo! Me dá mais uma chance! – murmurou ele com uma voz diferente
 Sem pensar, Roberta correu para ajudá-lo a escapar daquele sofrimento.
Ao quarto passo, uma massa quente de ar a impeliu para trás jogando-a longe do veículo, no instante em que uma coluna de fogo aparecia, incendiando todo o carro e aquecendo o lugar numa terrível explosão.
_ “Há males que vem para o bem!”- uma voz grave sussurrou
Roberta acordou com os músculos contraídos, tensos. Respirou como se emergisse a superfície da água à procura de ar. Percebeu que havia suado muito durante o sonho. Demorou-se na cama, seu coração batia acelerado.
Foi ao banheiro, lavou o rosto, encarou-se no espelho.
_ Sonho horroroso!
Voltou para a cama, mas não conseguiu dormir. Eram 03h30min AM.
                                                          
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