Trovejou.
Ainda não dava
para acreditar no que havia acontecido há algumas horas. O namoro de quatro
anos terminara de uma hora para outra.
Dentro do
quarto, Roberta tinha, em seus olhos estáticos, a marca do abandono. As
lágrimas desciam negras por causa da maquiagem o que tornava sua imagem ainda
pior. Ninguém sabia que o Daniel havia acabado com tudo por nada. Os planos de
casamento e um final feliz, projetos se desfaziam em pó.
Ela sabia que
não tinha nada de errado, não o traiu em momento algum. Por que ele não
acreditava nela? Nunca tinha dado motivo para tanta desconfiança.
Num ímpeto,
levantou o dedo como se soubesse a solução do problema.
_ Já sei! O
ordinário do Thiago vai ter que falar o que realmente aconteceu. Ele sabe que
não o beijei porque quis, ele que me forçou... Idiota! – Começou andar dentro
do quarto de um lado para o outro, falava sozinha e limpava as lágrimas.
Ligou para o
Thiago, mas ele não atendia. Sabia que era ela e provavelmente já teria
conversado com o Daniel e inventado uma mentira sem cabimento. Eram amigos,
desde pequenos. Claro que o Daniel acreditaria nele.
E agora? Tudo
parecia muito difícil.
As lágrimas
voltaram a descer, seguiam a mesma direção da chuva lá fora. Apesar de todo
esforço para entender tudo, cedeu ao cansaço, deitou sobre a cama como se
olhasse para um mundo distante, cheio de perguntas e dor.
Não percebeu
quando o sono secou-lhe os olhos.
Na escuridão
da madrugada, um carro azul-petróleo rasga o silêncio com o ronco do motor em
alta velocidade. O motorista tem pressa. A avenida reta está vazia e já é muito
tarde.
_ Estou
voltando, Estou voltando, Roberta! Estou voltando! – dizia o motorista
_ Daniel? É, é
você?
_ Estou
voltando só por você! Me perdoa! Me perdoa!
Num momento,
Roberta imaginou ter reconhecido aquela voz grave que vinha de dentro do carro.
Uma voz de muito tempo atrás.
_ Você? Não
acredito! – disse pasma. – Onde você estava esse tempo todo?
Roberta se viu
no meio da avenida. Esperava o visitante. Não sentia perigo, pois conhecia há
muito tempo o motorista e sabia que o carro pararia. Estava enganada. Forçou a
vista para confirmar quem era o motorista.
_ Daniel?
Você? Mas, essa voz é do...
Não deu tempo
completar. Num instante muito rápido, por nada o carro perdeu o controle e
capotou. Quatro cinco vezes. Cada vez que capotava, mais terrível era a
situação. Roberta não pode conter o grito:
_ Nãããããããão!
Danieeeeeeel!
O carro
parou. De longe, viu o rosto do amado
sangrar embaixo das ferragens. Ele se mexia com dificuldade tentando sair, mas
não tirava os olhos dela. Não sairia dali facilmente. A mão de Daniel que
segurava firme o volante tombou no chão cheio de vidro e gasolina que vazava do
tanque.
_ Eu te amo!
Me dá mais uma chance! – murmurou ele com uma voz diferente
Sem pensar, Roberta correu para ajudá-lo a
escapar daquele sofrimento.
Ao quarto
passo, uma massa quente de ar a impeliu para trás jogando-a longe do veículo,
no instante em que uma coluna de fogo aparecia, incendiando todo o carro e
aquecendo o lugar numa terrível explosão.
_ “Há males
que vem para o bem!”- uma voz grave sussurrou
Roberta
acordou com os músculos contraídos, tensos. Respirou como se emergisse a
superfície da água à procura de ar. Percebeu que havia suado muito durante o
sonho. Demorou-se na cama, seu coração batia acelerado.
Foi ao
banheiro, lavou o rosto, encarou-se no espelho.
_ Sonho
horroroso!
Voltou para a
cama, mas não conseguiu dormir. Eram 03h30min AM.
© Copyright Mailan Silveira 2011.Todos os direitos reservados.
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