“Acooorda! São
07h! Está começando o programa mais divertido da manhã...”.
Roberta, com
muita má vontade, abria os olhos para mais um dia. Na realidade, não era um dia
qualquer, era o primeiro dia de solteira depois de quatro anos comprometida.
Ela não conseguia acreditar. Esboçou um sorriso, e imaginou que nada daquilo
era real, pegaria seu celular e veria a sms que Daniel mandava todo dia.
Pegou o
telefone para conferir e viu a mensagem da amiga Flávia:
Amiga, o que foi que aconteceu, hein? To sabendo que o Daniel terminou com você... Estou indo aí para você me contar como foi no caminho da escola. Fica triste não, ta! Nunca gostei daquele idiota! Você que saiu ganhando! To chegando, bjo!
_Todo mundo já deve estar
sabendo! Aff! – pensou nos olhares de pena que os colegas lançariam a ela.
Ela
e Daniel eram um casal popular na escola, se no Brasil houvesse a cultura de
rei e rainha de baile, com certeza, eles seriam fortes candidatos. A
popularidade deles se devia também a forma que o Daniel a havia pedido em
namoro, como nessas cenas de cinema.
_
Beta! Desça antes que você se atrase!
_
Estou indo, mãe!
Antônia,
mãe de Roberta arrumava a sala e preparava-se para ir trabalhar:
_
Estou saindo, Beta! Não demore que a van está quase chegando!
_
Já desci!
_
Então... – se espantou ao vê-la - Meu Deus do céu! Quem é você e o que fez com
minha filha?
_
Qual é a piada, mãe?
_
Menina, que olheiras são essas? Estão maiores que minha bolsa! – analisou o
rosto da filha segurando com estranheza. – O que houve?
_
Tive um pesadelo horrível e não consegui dormir depois. Ah! E o Daniel terminou
comigo!
_
O que? Como assim? Por quê? Por que não me contou isso ontem quando chegou? Ah
minha filha... Fica assim não... Já sei! Vou ligar para aquele safado e
perguntar...
_
Nem pensar! – interrompeu Roberta, quase berrando – Não precisa mãe! Já estou
melhor!
_ O quê?
Ninguém faz minha filha chorar horrores e ter essas bolsas que estão quase
arrastando no chão, e fica impune!
_ Não, mãe! É
sério! Eu vou resolver isso! Se já não estiver resolvido...
_ Está bem!
Mas qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, você me fala! Jura? – sabia que a
filha não gostava que se envolvesse diretamente nos problemas dela. – Isso vai
passar!
_ Ok!
Nesta hora,
alguém bateu na porta.
_ É a Flávia!
Vamos juntas para a escola.
_ Então, fui!
Já estou atrasada.
Abriu a porta
e Flávia sorridente a cumprimentou e assim que viu a amiga mudou o semblante
para compaixão. Ela sabia que Roberta amava Daniel, mas nunca tinha se
afeiçoado com ele.
_ Ahhh, amiga!
Que dó! – disse abraçando a amiga
_ Oi Flavinha.
Pois é... Acabou!
_ Me conta
tudo! Por que aquele retardado terminou? Você nunca deu motivo!
_ Pensei que
você já sabia! – Roberta riu.
_ Fiquei
sabendo do básico pelo Facebook. Deve ser o assunto do dia para quem não tem
vida própria.
_ Ah! Vou te
contar, então, ou tentar pelo menos...
Roberta e
Flávia tinham uma amizade extremamente rara. Cresceram juntas e viviam como
irmãs, mas havia algo que nunca as deixava ficar sem falar uma com a outra.
Como todas as relações, havia algumas diferenças, no caso delas essas
divergências se complementavam. Eram almas gêmeas na amizade.
Durante o
percurso de ida para a escola, conversaram muito e Flávia ficou horrorizada com
a frieza com que Daniel terminara.
_ Amiga! Aí,
tem coisa! Pode ter certeza!
_ Como assim?
_Como assim, o
quê? Você já foi mais esperta, Beta! Pensa comigo. Se você não fez nada, nem
deu motivo para que ele terminasse o namoro, por que ele terminaria?
_ Ele viu o
Thiago me beijar, pensou que eu estava traindo! Que raiva daquele menino!
_ Ele beija
bem? - Roberta a fuzilou com o olhar - Está bem, parei! Estava brincando... É
que o Thiago é um gato e o genro que minha mãe pediu a Deus, mas não sei,
não... Tem alguma coisa que não me desce! Essa história está mal contada. E
esse pesadelo, hein? Nossa! Que horrível!
_ Sim! Será
que ele significa alguma coisa? – refletiu olhando para fora, pensando no dono
da voz do sonho.
Na escola,
aconteceu o que Roberta previra, a maioria das meninas a olhava com diferença,
um misto de pena e um sentimento que ela não conseguiu decifrar na hora. Fora
esse comportamento estranho, e de não ter visto o Daniel, ele não era de
faltar, tudo ocorreu quase normalmente.
_ Como assim ela
está na diretoria?
_ Roberta,
você conhece a Flávia, né? Ela não engole sapo! Envolveu-se numa discussão e
acabou parando na sala do diretor.
Ao entrar na
sala de espera, viu a Flávia saindo.
_ O que você
aprontou dessa vez? – perguntou com uma cara de reprovação.
_ A ordinária
nunca mais vai mexer comigo!
_ De quem você
está falando?
_ Patrícia,
cara de mula manca! Agora tenho que ir, depois apareço em sua casa!
Flávia saiu
sem dar muita explicação. Roberta não entendeu direito. Ao passar no corredor
soube o motivo. Não foi uma discussão qualquer.
_ O Daniel era
muito para Roberta, não sei como que agüentou tanto tempo uma menina tão sem
sal como aquela horrorosa! Um garotão lindo daquele desperdiçado com uma Maria
- ninguém. – disse Patrícia, sem perceber que a Flávia estava atrás dela.
_ Maria –
ninguém é você! Sua cara de mula manca! Se enxerga! Nem sabe se vestir direito
e fica dando opinião na vida dos outros. – Flávia falou virando para encará-la.
_ Fulaninha e
Maria-ninguém! A dupla do ano! – riu, virando as costas para Flávia que sem
pensar puxou o cabelo da garota e a derrubou no chão. Resultado: suspensão.
Mandou um sms
para Flávia: “Mais que uma amiga, uma irmã! Obrigado por me defender!”.
Mais tarde, ao
chegar em casa, percebeu que teria novos vizinhos, pois um caminhão de mudança
e um carro azul-petróleo estavam estacionados na casa da frente. Ela, até que
iria lá dar boas-vindas e se apresentar, mas não estava muito a fim de fazê-lo.
Olhou de longe, curiosa para ver se via alguém, mas não animou ir até o outro
lado.
Depois do
almoço, Roberta encostou-se ao sofá e cochilou.
_ Estou
voltando! Estou voltando, Roberta! Estou voltando! – disse uma voz grave que
ela conhecia - Eu te amo! Me dá mais uma chance! Estou voltando só por você!
Despertou com
a imagem da explosão. O sonho era o mais esquisito que havia tido porque o
carro do Daniel não era azul-petróleo, e a voz não era a dele... Mas ele que
dirigia.
_ Estou
assistindo muito filme de ação!
Alguém bateu
na porta.
_ Quem é? –
levantou para atender, quando ouviu a voz grave do sonho responder.
_ Sou eu! Seu
novo vizinho!
Ela, como se
recebesse um choque, parou próxima a porta. Aquele tom de voz era inconfundível!
Era a mesma voz do sonho. Abriu a porta vagarosamente...
Viu
alguém completamente diferente do que esperava.
De
Converse desgastado, com uma calça jeans desbotada e uma camisa que delineava a
boa forma, barba loura por fazer e um sorriso branco e radiante. Os olhos azuis
do recém-chegado brilhavam de excitação diante da anfitriã.
Ela não pode
esconder a expressão de desconhecimento.
_
Sabe quem sou, Roberta? – perguntou o rapaz louro que estava se divertindo com
a situação.
Tudo
mudou, menos a voz. Como não conhecer seu melhor amigo? Aquele que a amava, mas
respeitou a escolha que ela fez quando decidiu ficar com o Daniel e para não
sofrer vendo-a com outro, resolveu mudar-se para a Espanha e participar de um
intercâmbio.
_
Ricardo! Não acredito! Como te esquecer? – demonstrou alegria em vê-lo
novamente.
Ele
sorriu mais.
_Voltei!
Abraçaram-se
carinhosamente. Um abraço que devolveu à memória diversas lembranças de um
passado feliz e de várias situações divertidas e que durou tempo suficiente
para preparar um macarrão instantâneo.
Continua...
©
Copyright Mailan Silveira 2011.Todos os direitos reservados.
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