segunda-feira, 27 de agosto de 2012

13| A Caminho.


Roberta e Flávia estavam voltando para casa depois de um dia inteiro de relaxamento no clube, sauna, massagem, banhos especiais, enfim um dia de princesa. Depois de se despedirem, Roberta entrou em casa para se vestir para a festa, estava tão empolgada que subia a escada de dois em dois degraus. Qual não foi sua surpresa ao ver a roupa que tinha escolhido em frangalhos em cima da cama.
            _ Eu...
            Estava abismada. Não tinha palavras. Aproximou-se da cama e pegou os trapos que há algumas horas eram uma linda calça e uma jaqueta jeans com uma blusa de seda branca. Pôs-se a chorar, entrou em desespero porque tinham sido roupas caras e estava em cima da hora de ir para a festa. Não conseguia pensar em nada.
            _...não acredito. Quem fez isso? Meu Deus do céu... – soluçava
            Pegou o celular e ligou para Flávia, que não atendia. Ajoelhou-se diante da cama com as roupas nas mãos e chorou mais. Não conseguia pensar que poderia ter entrado na casa dela e feito aquilo tudo.
            Um sentimento de indignação tomou conta dela. Estava enraivecida, porém não sabia para quem, ou onde dirigia sua raiva. Gritou.
            Do quarto da casa ao lado, Patrícia ouvia os berros da Roberta. E deitada na cama, ria como se saboreasse uma bela sobremesa.
            _ Que delícia o prato frio da vingança. Se quiser, - levantou-se, disse baixo – vá com roupa velha!
            Ouviu-se mais um grito, mais desesperado ainda.
            _ Foram todas. TODAS! Ah, não! Eu mato esse desgraçado que fez isso! – gritou.
            _ Ela viu as outras agora... Que dó! Que dó! Que dó! – disse patrícia se arrumando.
            _ Flávia, você não sabe o que aconteceu... Rasgaram minhas roupas novas! – disse em meio ao choro que não sabia se era de raiva, ou de não ter mais roupa para se vestir.
            _ Não acredito! – disse a amiga do outro lado da linha – Estou indo para aí agora. Calma amiga! Calma que vai dar tudo certo. – desligou.
            Ao chegar no quarto, Flávia encontrou a amiga desolada sobre a cama com os trapos sobre o corpo.
            _ Quem veio aqui? Gente... Que horror!
            _ E agora, amiga? O que é que eu faço? Gastei horrores nessas roupas e vem um bandido e me faz o favor de rasgar...
            _ Mas tem as...
            _ Todas! Estão todas rasgadas. – Roberta estava desolada, mas conformada por enquanto, não havia mais o que fazer.
            _ Não sei quem fez isso, mas tenho certeza que queria te ver para baixo.
            _ Conseguiu, perdi o ânimo de ir ao festival. Ah! Sabe de uma, não vou mais!
            _ De jeito nenhum! Primeiro você não pode fazer isso com o Ricardo que daqui a pouco deve estar chegando aqui pra te buscar, e outra coisa, você não pode dar para quem rasgou suas roupas esse prêmio de não ir. Você acha que não é isso que ela quer?
            _ Como vou Flávia? De roupa velha? Agora eu que digo: de jeito nenhum!
            _ Acho que já te disse isso, mas vou repetir: o que seria de você sem mim? – e tirou uma roupa nova da sacola que trazia. – Você disse que rasgaram suas roupas e aí pensei que você não iria com as suas. Trouxe uma minha que cabe em você. Não tem mais desculpa para não ir.
            _ Na real, perdi completamente o clima.
            _ Você vai sim! Enquanto toma banho, eu me maquilo, porque não deu tempo fazer isso em casa. E eu te ajudo quando você sair.
            Flávia teve que pegar pelo braço e jogá-la dentro do banheiro. Roberta aceitou, não tinha mais nada a perder mesmo e pensou no Ricardo também que estava muito feliz que eles fariam um programa bem diferente.
            Enquanto Flávia arrumava as coisas, ocorreu-lhe uma suspeita que não a fazia tirar os olhos da janela vizinha.
            _ Quando você saiu, você deixou a janela aberta, Roberta?
            _ Deixei!
            _ Hum! Sei... – aproximou-se da janela e viu uma marca de pé, olhou de novo para a janela da casa vizinha – Não acredito que essa safada...
            Num relance percebeu que da janela vizinha alguém a observava, se escondeu, mexendo por acidente a cortina.
            _ Te peguei, ordinária! – disse Flávia que fingia não ter visto.
Sem contar para a amiga a suspeita, terminaram de se arrumar para a festa a tempo do Ricardo e do José chegarem para buscá-las.
Tudo pronto para partirem, as garotas não contaram aos meninos o que houve, mas Roberta não sabia disfarçar. Durante a viagem, Ricardo perguntou se alguma coisa estava acontecendo. Roberta negou, mas ela a conhecia, e insistiu.
_ Entraram no meu quarto e rasgaram minhas roupas novas que comprei ontem. Não sei que foi?
_ Como assim rasgaram suas roupas? Quem teria interesse em rasgar se podia pegá-las eram roupas legais e caras.
_ Não sei, mas isso me tirou do sério! Sinceramente, não consigo pensar em alguém que faria isso... – viu que Ricardo ficou chateado pela situação – mas não quero falar sobre isso. Estou feliz por estar aqui com você e isso me basta.
_ Resolveremos isso, com certeza!
_ Psiu! Não se preocupe! Roupas vêm e vão, eu quero aproveitar hoje o máximo de você!
Ricardo a beijou rapidamente e seguiram viagem, acompanhados pelo José e Flávia no carro que vinha mais atrás.
Uma buzinada faz Thiago olhar para a porta e sorrir. Daniel bateu na porta e ele foi atendê-lo sorrindo, mas assim que chegou na porta diminuiu o sorriso.
_ Oi! Entra aí! Só vou terminar de me arrumar e já venho. Vai lá falar com a avó.
_ Claro! – disse Daniel sorrindo – Ô avó! Cheguei!
_ Oi, meu filho! Entre!
_ “De boa, vó?”.
_ Sim! Estou bem. Vocês já vão não é?
_ Sim! Assim que o lerdo terminar de se vestir. Hoje vai ser muito legal!
_ Espero que sim, meu filho! Cuida dele lá para mim, está bem? Ele já é grande, mas você sabe, ele é mais novo que você e as coisas são diferentes.
_ Sim, eu sei! Pode deixar que vou cuidar dele sim!
_ Ele gosta muito de você, meu filho! Muito mesmo!
_ Eu sei vó... Gosto demais dele também.
_ Não do jeito que ele gosta...
Daniel ficou sem graça. Era uma família que o acolhera com todo carinho. Sentia-se feliz por fazer parte e ter os conhecido. Principalmente o Thiago que era seu amigo do peito.
_ Vamos! – Thiago surge na porta todo arrumado.
_ Nossa, meu neto! Como você conseguiu?
_ Conseguiu o quê? – perguntou curioso.
_ Ficar mais bonito? – Dona Zita, depois que soubera que o neto gostava do Daniel, o elogiava mais na frente do amigo – Está lindo, não é Daniel?
Daniel riu.
_ Só vai dá Thiago, lá!
_ Você também está lindão, Daniel. – disse Dona Zita. – Os dois estão arrasando.
_ Está bem! Agora acredito mesmo que estou lindo! A senhora disse está dito! – riu mais uma vez – Agora vamos, Thiago, senão chegaremos atrasados.
Daniel se despediu da velha dando um beijo e saiu do quarto.
_ A senhora não perde mesmo a oportunidade não é? Nossa! – beijou-a também – Jura que vai ficar bem?
_ Sim! Claro! Esqueceu que nasci antes de você?
Thiago sorriu:
_ Às vezes pensou que não, viu! Um beijo minha avó, qualquer coisa me liga!
_ Pode deixar!
Assim que entraram no carro, pareciam dois estranhos. Não tinham o que conversar. Eram eles e o silêncio. Thiago havia pensado em milhões de coisas para esse momento de fica a sós com o Daniel. Eles, no carro, estavam isolados do mundo, podiam conversar qualquer coisa ali, mas nenhuma palavra saia. Disfarçando muito, Thiago olhava para o amigo pela visão periférica. Na realidade, era o que ele queria fazer. Só admirá-lo.
Daniel mudou muito desde que Thiago o conheceu. O menino, franzino e esquisito, se tornou um dos mais bonitos da escola e, conseqüentemente um dos mais populares. Hoje, era um homem. Num momento de contemplação, olhou para o amigo que agora tinha o rosto liso, bem barbeado, seu cabelo castanho estava escuro por causa da pouca incidência de luz, mas no sol eram naturalmente claros. Nunca perdiam a tonalidade característica, pois ele sempre usava um único tipo de xampu, de camomila. Seus olhos cor de mel também chamavam a atenção.
Daniel ligou o rádio. A música invadiu o ambiente trazendo um calor que só a música pode dar. Adele cantava.
“Ai, meu Deus!” – Thiago pensou. – “Eu amo Adele, mas isso não é hora dela cantar!”.
Daniel levantou a mão para mudar a estação, mas Thiago impediu.
_ Deixa! Eu gosto.
_ Ele fala, gente! – Daniel brincou – O que foi que você está assim tão quieto? Preocupado?
Não. Ele conhecia a avó que tinha. Estava nervoso. Queria aproveitar que Adele cantava e dizer mil coisas, e falou:
_ Sim! Minha avó em casa só!
_ Ela pediu para eu não contar, mas como você está muito preocupado, chega está tenso, acho bom falar. Ela chamou uma amiga dela para ficar com ela. Eu que dei a ideia e ela gostou. Então, ela não está sozinha.
_ Imaginei que ela aprontaria alguma.
_ Relaxa moço. Precisa se divertir. Nem parece meu amigo de balada. Está diferente demais... mas não quero tocar neste assunto.
Thiago não disse nada. Então Daniel continuou.
_ Hoje nem quero ver aqueles desgraçados.
_ Quem?
_ O casalzinho meia boca. Que vontade de bater na cara daquele imbecil. – como se não tivesse preparado uma vingança durante a semana. Queria poupar o amigo dessa vez.
_ Cansei dessa história, Daniel. Eu já falei que enquanto você fica se mordendo de ciúmes, eles estão vivendo e se amando.
_ Ah! Estou tentando esquecer mais é difícil. Tento parar de pensar nela, mas lembro que fui eu quem acabou com tudo, mas só foi que acabar para aquele troglodita chegar e ela cair em cima dele. Se não tivéssemos combinado aquilo, ela tinha ficado com ele.
_ Você não vai saber nunca. – Se virou para o amigo – Ei! Às vezes, o amor dura, mas às vezes ao invés disso ele nos fere. – diminuiu o tom da voz - É isso que ele faz com a gente.
Daniel nunca tinha visto o amigo assim. Alguém estava machucando seu amigo?
_ Ele está ferindo sua vida, mas você não está percebendo. Está deixando de viver para você e está vivendo para quem não te ama mais. – Thiago percebeu que falava para ele mesmo também.
_ Isso que você me falou é sério.
_ Acho que é a coisa mais séria que já te falei.
Alternando entre a estrada e o amigo, Daniel sentiu o sentido da vingança se esvair. Não tinha mais motivo, mas não quis reconhecer isso.
O silêncio voltou.
                                                                               Continua...
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