_ Que conversa
estranha é essa, Thiago? O que é que você está sonhando?
_ Que
conversa, doido?
_ Você falando
enquanto dormia que me amava muito...
Thiago não
sabia onde se esconder. Definitivamente, ele não conseguiu esconder a vergonha
e tudo que veio junto com ela. Então tentou despistar:
_ Já falei
para você desconsiderar tudo que eu falo enquanto durmo. Sonhos idiotas. Nem
sonhei nada...
_ Tem certeza que eu tenho que
desconsiderar? Vai que você me ama mesmo? Já ouvi falar de amores reprimidos
que amigos sentem uns pelos outros.
Daniel tinha um ar meio
zombeteiro e o amigo sem saber o que fazer diante da situação embaraçosa, num
ímpeto se levantou para sair.
_Own! Não terminar de assistir
o filme? Eu estava brincando...
_ Vou dormir no quarto!
Daniel se levantou e o segurou
pelo braço impedindo que saísse.
_ O que é Daniel? – disse
Thiago visivelmente irritado, estava na defensiva.
_ Ei, calma! Só estava
brincando com você. Deixa eu te perguntar só uma coisa?
_ Para me perguntar alguma
coisa precisa continuar segurando meu braço?
Daniel fingiu que não escutou.
_Você pediu pra eu
desconsiderar o que você disse – Thiago tinha o coração na boca, mas acenou
positivamente com a cabeça – então quer dizer que você não me ama de verdade?
_ Idiota! – puxando o braço,
abandonando a sala e Daniel rindo.
_ Depois quero saber o que você
sonhou, hein? – disse Daniel sorrindo da situação num tom que o amigo nervoso
pudesse ouvir antes de bater a porta do quarto.
Thiago trancou a porta do
quarto, e com a mão na testa, dizia bem baixinho:
_ Idiota! Idiota! Idiota!
Idiota! Idiota!
Sentou na cama, e balançava a
cabeça negativamente como se não acreditasse não que tinha acabado de
acontecer.
_Só comigo que acontece essas
coisas. O que é que eu tinha que abrir o bocão enquanto dormia, que defeito
mais, mais... inconveniente! Bonito é se eu tiver dito mais coisa... Estou
acabado! Acho que talvez não tenha dito. Ele não estava muito sério. Outro
idiota fica brincando com coisa que nem sabe que é... de verdade. Idiota.
Sentou-se no chão, encostado na
porta, levantou-se. Estava suando. Foi ao banheiro, lavar o rosto. Ouviu
batidas na porta.
_ Thiago... Deixa de bobagem,
moço! Estava zoando com você! Para disso! Está parecendo mulher fazendo drama!
Abre essa porta, senão vou derrubá-la, hein...
A resposta foi uma risada
debochada, para Daniel era desafiadora. Com pequenos empurrões, Daniel mostrou
que faria o que estava dizendo, Thiago saiu do banheiro e rapidamente abriu a
porta, temendo que sua avó acordasse.
_ Você é louco? Vai acordar
minha avó, seu doido.
_ Ah! Abriu, não é? Pensou que
eu não derrubaria a porta? Pois é... E sua avó não acordaria nem aqui nem na
China, - deitou-se na cama - o remédio que ela toma antes de dormir, faz dela
um urso na hibernação. Efeito colateral. – riu.
_ Como é que você sabe?
_ Li a embalagem. - sentou-se -
Porque você ficou tão nervoso com a brincadeira, Thiago? Sério agora, nunca vi
você reagir assim quando eu brinco com você e olha que já fiz pior.
_ Ah Daniel... Sei lá! Foi
impulso, momento. Eu estava dormindo... Ah, não sei.
Daniel sentia que o amigo
escondia alguma coisa que não queria dizer. O que o Thiago estaria escondendo
dele que era praticamente seu irmão? Será que o Thiago não confiava mais nele
para compartilhar os segredos? E ele tinha um segredo? Daniel ainda não tinha
certeza disso, ainda.
_ Sabe o que eu estou achando?
Essa é uma desculpa muito esfarrapada para meu gosto. Não sei o que é que você
tem, mas também não vou forçá-lo. Você sabe que sempre pode contar comigo para
qualquer coisa...
_ Daniel, você está levando
tudo isso muito a sério. O que foi? Se
eu não contar vai ficar chateadinha, ou vou ter que inventar uma história para
você? Agora você que está parecendo uma mulherzinha.
_ Quando seu quase irmão te
esconde uma coisa, é natural pensar que o nível de confiança não está lá essas
coisas.
_ Daniel...
_ Você vai contar ou não?
_ Contar o quê, meu Deus?
Daniel mostrou-se impaciente, Thiago
coçou a cabeça como se não tivesse jeito.
_ Não dá... – disse quase
sussurrando – não consigo.
_ Ah! Então existe mesmo alguma
coisa que não sei...
Daniel se sentiu triunfante por
ver que o amigo caiu no jogo. Thiago não sabia o que falar. Tentou amenizar:
_ Não posso falar... agora.
_ Então quando você confiar em
mim o suficiente, pode me procurar. – levantou-se da cama mostrando a decepção
no rosto, fazia de tudo para que o amigo visse que estava realmente
decepcionado, ainda jogava. – Acho melhor ir dormir.
_ Own. Me dá um tempo. Juro que
te conto assim que estiver mais preparado.
_ É sobre a Roberta e o
Ricardo? Está acontecendo alguma coisa que eu não estou sabendo? Você não virou
amiguinho deles, não é?
_ Não, não é sobre eles...
_ Sobre mim? Você? Fala! –
demonstrou impaciência.
_ Não posso! – Thiago quase
gritou. Daniel afastou-se um pouco mais. - Respeita meu tempo, poxa vida!
_ Eu respeito. Te respeito mais
do que imagina. Boa noite!
Daniel saiu fechando a porta do
quarto, mas ainda continuou segurando a maçaneta da porta. Do lado de dentro
Thiago via sua sombra parada atrás da porta e depois sair. Tinha certeza de que
Daniel tinha ficado chateado, não havia segredo entre eles.
_ É melhor ficar chateado que
passa do que te perder, brow. – murmurou
Do lado de fora, Daniel estava um
pouco chateado, mas sabia que em algum momento o amigo contaria o que quer que
fosse, mas não pode negar para si próprio que mesmo na brincadeira, tinha
suspeitado de uma coisa que ele em momento nenhum durante a amizade deles
cogitaria. Sentiu um aperto no coração.
Ele suspeitou a verdade.
Continua...
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