sexta-feira, 24 de agosto de 2012

11| A suspeita


_ Que conversa estranha é essa, Thiago? O que é que você está sonhando?
_ Que conversa, doido?
_ Você falando enquanto dormia que me amava muito...
Thiago não sabia onde se esconder. Definitivamente, ele não conseguiu esconder a vergonha e tudo que veio junto com ela. Então tentou despistar:
_ Já falei para você desconsiderar tudo que eu falo enquanto durmo. Sonhos idiotas. Nem sonhei nada...
_ Tem certeza que eu tenho que desconsiderar? Vai que você me ama mesmo? Já ouvi falar de amores reprimidos que amigos sentem uns pelos outros.
Daniel tinha um ar meio zombeteiro e o amigo sem saber o que fazer diante da situação embaraçosa, num ímpeto se levantou para sair.
_Own! Não terminar de assistir o filme? Eu estava brincando...
_ Vou dormir no quarto!
Daniel se levantou e o segurou pelo braço impedindo que saísse.
_ O que é Daniel? – disse Thiago visivelmente irritado, estava na defensiva.
_ Ei, calma! Só estava brincando com você. Deixa eu te perguntar só uma coisa?
_ Para me perguntar alguma coisa precisa continuar segurando meu braço?
Daniel fingiu que não escutou.
_Você pediu pra eu desconsiderar o que você disse – Thiago tinha o coração na boca, mas acenou positivamente com a cabeça – então quer dizer que você não me ama de verdade?
_ Idiota! – puxando o braço, abandonando a sala e Daniel rindo.
_ Depois quero saber o que você sonhou, hein? – disse Daniel sorrindo da situação num tom que o amigo nervoso pudesse ouvir antes de bater a porta do quarto.
Thiago trancou a porta do quarto, e com a mão na testa, dizia bem baixinho:
_ Idiota! Idiota! Idiota! Idiota! Idiota!
Sentou na cama, e balançava a cabeça negativamente como se não acreditasse não que tinha acabado de acontecer.
_Só comigo que acontece essas coisas. O que é que eu tinha que abrir o bocão enquanto dormia, que defeito mais, mais... inconveniente! Bonito é se eu tiver dito mais coisa... Estou acabado! Acho que talvez não tenha dito. Ele não estava muito sério. Outro idiota fica brincando com coisa que nem sabe que é... de verdade. Idiota.
Sentou-se no chão, encostado na porta, levantou-se. Estava suando. Foi ao banheiro, lavar o rosto. Ouviu batidas na porta.
_ Thiago... Deixa de bobagem, moço! Estava zoando com você! Para disso! Está parecendo mulher fazendo drama! Abre essa porta, senão vou derrubá-la, hein...
A resposta foi uma risada debochada, para Daniel era desafiadora. Com pequenos empurrões, Daniel mostrou que faria o que estava dizendo, Thiago saiu do banheiro e rapidamente abriu a porta, temendo que sua avó acordasse.
_ Você é louco? Vai acordar minha avó, seu doido.
_ Ah! Abriu, não é? Pensou que eu não derrubaria a porta? Pois é... E sua avó não acordaria nem aqui nem na China, - deitou-se na cama - o remédio que ela toma antes de dormir, faz dela um urso na hibernação. Efeito colateral. – riu.
_ Como é que você sabe?
_ Li a embalagem. - sentou-se - Porque você ficou tão nervoso com a brincadeira, Thiago? Sério agora, nunca vi você reagir assim quando eu brinco com você e olha que já fiz pior.
_ Ah Daniel... Sei lá! Foi impulso, momento. Eu estava dormindo... Ah, não sei.
Daniel sentia que o amigo escondia alguma coisa que não queria dizer. O que o Thiago estaria escondendo dele que era praticamente seu irmão? Será que o Thiago não confiava mais nele para compartilhar os segredos? E ele tinha um segredo? Daniel ainda não tinha certeza disso, ainda.
_ Sabe o que eu estou achando? Essa é uma desculpa muito esfarrapada para meu gosto. Não sei o que é que você tem, mas também não vou forçá-lo. Você sabe que sempre pode contar comigo para qualquer coisa...
_ Daniel, você está levando tudo isso muito a sério. O que foi?  Se eu não contar vai ficar chateadinha, ou vou ter que inventar uma história para você? Agora você que está parecendo uma mulherzinha.
_ Quando seu quase irmão te esconde uma coisa, é natural pensar que o nível de confiança não está lá essas coisas.
_ Daniel...
_ Você vai contar ou não?
_ Contar o quê, meu Deus?
Daniel mostrou-se impaciente, Thiago coçou a cabeça como se não tivesse jeito.
_ Não dá... – disse quase sussurrando – não consigo.
_ Ah! Então existe mesmo alguma coisa que não sei...
Daniel se sentiu triunfante por ver que o amigo caiu no jogo. Thiago não sabia o que falar. Tentou amenizar:
_ Não posso falar... agora.
_ Então quando você confiar em mim o suficiente, pode me procurar. – levantou-se da cama mostrando a decepção no rosto, fazia de tudo para que o amigo visse que estava realmente decepcionado, ainda jogava. – Acho melhor ir dormir.
_ Own. Me dá um tempo. Juro que te conto assim que estiver mais preparado.
_ É sobre a Roberta e o Ricardo? Está acontecendo alguma coisa que eu não estou sabendo? Você não virou amiguinho deles, não é?
_ Não, não é sobre eles...
_ Sobre mim? Você? Fala! – demonstrou impaciência.
_ Não posso! – Thiago quase gritou. Daniel afastou-se um pouco mais. - Respeita meu tempo, poxa vida!
_ Eu respeito. Te respeito mais do que imagina. Boa noite!
Daniel saiu fechando a porta do quarto, mas ainda continuou segurando a maçaneta da porta. Do lado de dentro Thiago via sua sombra parada atrás da porta e depois sair. Tinha certeza de que Daniel tinha ficado chateado, não havia segredo entre eles.
_ É melhor ficar chateado que passa do que te perder, brow. – murmurou
Do lado de fora, Daniel estava um pouco chateado, mas sabia que em algum momento o amigo contaria o que quer que fosse, mas não pode negar para si próprio que mesmo na brincadeira, tinha suspeitado de uma coisa que ele em momento nenhum durante a amizade deles cogitaria. Sentiu um aperto no coração.
Ele suspeitou a verdade.

Continua...
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