domingo, 19 de agosto de 2012

6| (Des) Conserto.


            _ Vou te contar, não é Roberta! Que bola fora! Nossa! Às vezes me pergunto o que é que você tem nessa cabeça...
            _ A conversa foi rumando para esse assunto aí quando o vi estava indo embora. Deve ter ficado chateado... – com uma cara de “foi sem querer”.
            _ Você viu o que fez? – Flávia parou no meio do corredor da escola indignada. – Você usou o mesmo peso que o Daniel usou quando vocês terminaram. Foi injusta.
            Roberta sabia que o que tinha feito foi errado e se sentiu mal, pois não precisava se colocar no lugar dele, ela tinha vivido a mesma situação.
            _ Você está certa!
            _ Claro que estou! Sempre estou! E o que você tem que fazer?      
            _ Vou pedir desculpas, fui injusta e não podia ter feito aquilo. Fui...
            _ Ei! Espera...  Se foi! Doida!
            Flavia seguia pelo corredor que dava acesso refeitório, quando bateu de ombro com Daniel que perguntou:
            _ Onde está Roberta?
            Flávia olhou nos bolsos como se procurasse a amiga, e não encontrasse, fez uma cara de aflição e disse:
            _ Não sei! Ela não está em meu bolso! E agora? – calçou a máscara do tédio e saiu.
            _ Inútil! – Daniel disse zangado e seguiu em direção a casa da Roberta, estava disposto a consertar seu erro.
            Ricardo tinha ficado chateado com Roberta, pois ele sabia o que ela havia passado. Antes de sua viagem a Espanha, ele havia dito a ela que não viajaria mais se ela ficasse com ele, Daniel estava interessado em Roberta e quando soube da proposta que ela recebeu do Ricardo, ele fez armou uma velha cilada, na época foi uma armação bem montada e bem funcional.
Patrícia, uma colega da escola, roubaria um beijo do Ricardo ao sinal do Daniel que estaria com Roberta. Quando tudo aconteceu, estavam todos numa festa. Tudo parecia tão normal. Roberta tinha combinado de ir com Daniel, ela estava dividida entre eles, pois gostava demais do Ricardo, mas sentia uma forte atração pelo outro.
Daniel deu sinal para Patrícia que sem perda de tempo avançou discretamente sobre a vítima e o beijou.
_ Olha ali, gente! Quem te viu quem te vê, hein galego...
            Roberta não ficou muito confortável com a situação. Daniel a mirava com o canto dos olhos para ver a reação que ela teria. Ele sabia que a decepção seria grande, pois ela nunca escondera dele que gostava mais do Ricardo.
            _ Vamos sair daqui. – disse ela.
            Ricardo nem percebeu que Roberta tinha visto, mas compreendeu tudo quando viu que ela tinha tomado uma decisão não atendendo seus telefonemas, evitava encontrá-lo, e quando num último encontro vomitou todo rancor e ciúmes que tinha dele e que não acreditava em alguém que a traiu. As tentativas de desculpas foram em vão.
Ricardo soube que Roberta aceitara o pedido de namoro de Daniel na manhã do dia do embarque para a Espanha. Pensou em se despedir, mas ela não o atendia. Ele partiu de coração apertado, carregando a culpa de algo que não fez, e sofreu porque não conseguia deixar de amar quem nele desacreditou.
Isso tudo tinha ficado no passado e ele não queria mais lembrar disso.
Talvez ainda estivesse magoada com a situação do Daniel, mas isso ainda não era motivo de agir assim com ele, era menos um motivo, na realidade. Porém a compreendeu, o Ricardo sempre foi muito compreensivo. E decidiu ir a sua casa para poderem conversar, não deixaria esta chance de conquistá-la passar por bobagens.
            Daniel a esperava na porta, pois tinha batido e ninguém atendeu. Ela vinha a passos largos na rua em direção a casa de Ricardo.
            _ Roberta! Roberta!
            _ Daniel? O que você faz aí? – mirou-o meio incrédula.
            _ Vim conversar com você! Pedir desculpas pela minha burrice.
            _ Daniel... Isso é passado, você fez sua escolha e...
            Como num passe de mágica, Daniel puxa um buquê de flores e se ajoelha em sua frente. Roberta fica sem palavras, o Daniel que ela se apaixonara voltou ainda mais romântico. Ele tinha dessas coisas mesmo.
            _ Não me deixa. Fica comigo.
            Os olhos cor de mel do Daniel estavam inundados. Os corações batiam forte. O mundo tinha parado ao redor. Dessa vez era ele quem chorava. Ele que queria ser compreendido do tanto que a companhia dela era importante para ele.
            _ Você me deixou, Daniel! – tentava ser fria, mas tal comportamento não era de sua personalidade, seus olhos estavam marejados.
            _ Para ter a certeza que você é a mulher da minha vida e que sem você não consigo viver feliz.
            A natureza em volta via que Daniel falava a verdade, ele havia se arrependido, mas o que o fizera ter tamanho arrependimento? A ameaça?
            _ Não sei se consigo! Você não é mais o mesmo.
            Ele, ainda com o buquê nas mãos, se levantou.
            _ Você tem razão! Não sou mais o mesmo. Aprendi muito com tudo isso. Agora estou melhor. Hoje, eu te amo mais. Hoje, sei que minha vida sem você não tem graça. Que cada sorriso seu faz meu dia mais bonito e que sua presença traz cor para minha vida.
            Envolvida pelas palavras, pela emoção e provavelmente por algum resto de sentimento pelo Daniel, Roberta não percebeu que estava abraçada por aquele que por muito tempo foi o amor de sua vida, aquele por quem daria a vida. Não resistiu. Sentiu-se estranha. O beijo dele continuava doce e irresistível para ela. Sentiu-se confusa, pensou em Ricardo e teve uma certeza. Acabou o que era doce.
            Ricardo sabia que Roberta não teria feito aquilo por mal, era sua melhor amiga e o sentimento falava mais alto. Mostrar que não estava chateado por bobagem é tudo que ele queria mostrá-la. Tinha no bolso dois ingressos para uma peça de teatro, beijá-la era parte de seus planos hoje.
_ Ela vai perceber o tanto que gosto dela quando eu beijá-la. – conversava sozinho na rua, empolgado pelos planos que fazia e sabia que dariam certo.
            Corria. Não queria perder mais tempo. Queria aproveitar o máximo da companhia dela.
            O mundo parou. Era inevitável. Que destino cruel! Que estúpido! Parado na rua, Ricardo via Roberta e Daniel se beijando. Se beijando, era isso mesmo?
Sim. Era isso.
Era demais.
           
Continua...

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