sábado, 25 de agosto de 2012

12| Preparativos.


_ Ingressos comprados!!!
_ Oba! Que bom que deu tudo certo! Festival de Inverno, aí vamos nós! – disse Roberta animada ao ver nas mãos de Ricardo os bilhetes que davam acesso ao famoso festival que acontecia na cidade vizinha de onde moravam.
_ Isso! Estamos prontos! Aliás, quase prontos. Preciso fazer a revisão no carro já que vamos para nos divertir não quero ter que passar raiva com essas coisas.
_ A Flávia disse que o José já comprou os ingressos deles, e o José vem nos seguindo na estrada porque ele não sabe onde passar para chegar no evento.
            _ Claro! Bom demais, hein, “amô”! Nós, lá juntinhos, curtindo muita música boa.
            _ E esse ano, Ricardo, a programação está muito boa!
            _ Ok! – beijou a namorada – agora tenho que ir para fazer a revisão do carro, senão não vai dar tempo.
            _ Está bem, meu lindo! Vou ligar para a Flávia para irmos ao shopping fazer compras, vamos arrasar.
            _ Ei! Você arrasa de qualquer jeito, agora mesmo você está arrasando meu coração com esse sorriso lindo! – disse ele entrando novamente para beijá-la.
            Depois de uma sessão de vários beijinhos, ele saiu e Roberta já falava com a amiga pelo telefone.
            _ Aaaaaaah, amiga! Vamos lindas para o festival! – gritou Flávia do outro lado da linha. – Vamos ao shopping comprar umas coisinhas que eu estou precisada!
            Alguns minutos depois, estavam as duas no shopping, andaram muito, como toda mulher que vai passear no shopping, experimentaram diversas roupas e enfim conseguiram entrar num acordo sobre que peças levariam.
            _ Eu amei o jeans que você escolheu, ele é muito lindo e vai ficar maravilhoso com a jaqueta. – disse Flávia que tinha em cada mão dez embrulhos. A Roberta não ficava atrás, com ela eram dezesseis no total.
            _ Eu gostei demais daquela blusa que vocês escolheu, aquela roxa...
            _ Sei, é linda mesmo, não é? A culpa é sua! Você me ajudou, você tem um ótimo gosto para essas coisas. Me ajuda muito.
            _ Ah amiga! Seu gosto é ótimo, nem precisa de muita ajuda.
            As duas estavam no céu. Encheram o porta-malas e os bancos de trás do carro da Flávia e foram contando muitas fofocas e o que planejavam para o dia do festival.
            _Você não sabe o que fiquei sabendo da mula manca.
            _ Quem? A Patrícia? – riu Roberta – Mula manca? De onde você tirou isso, menina?
            _ Dá para ver a cara dela que parece de mula, não é? Sem contar na sala as respostas que ela dá para os professores.
            _Sim, - cortou Roberta curiosa – o que foi que ela fez dessa vez?
            _Dizem as más línguas que ela é caidinha pelo Daniel, e que ficou com ele um dia desses aí.
            _Sério? Gente, o Daniel caiu no meu conceito. Ele já teve gostos melhores!
            Riram juntas.
            _ É, não é? Depois que ficaram, veio o pior para ela, ele falou mal dela dizendo para todo mundo que não beijava tão bem e outras “cositas más”!
            _ Que deselegante! Merece! É uma abusada e fica pensando que está podendo o tempo todo. Tenho dó! E só de saber que é minha vizinha, ai! E quando ela ficou sabendo que ele falou mal?
            _ Fingiu que não ouviu. É mestra em fingimento.
            _ Ah! Vamos falar de coisa boa? – Roberta ria mais – Assim que chegarmos em casa vamos preparar uma sobremesa de iogurte para gente.
            _ Amo! – disse Flávia – Compramos demais, hein amiga? Fazer o que não é? Somos ricas!
            _Ricas! – gritaram juntas e o pessoal que passa na rua pensavam que eram duas filhas de papai.
            Na rua, Patrícia viu as duas passarem no carro cheio de compras.
_ Barraqueiras! Odeio gente pobre. Que nojo! Fiquei sabendo que alegria de pobre dura pouco, neste caso não será diferente. – pegou o celular e discou – Daniel? Olá! Acabei de ver a Roberta passando aqui com a Flávia, voltando das compras. Todas animadinhas. Se lembra que o festival de inverno é amanhã? Pois é! Dê seu jeito para acabar com a festa desse povo.
_Que interesse todo é esse em acabar com a festa deles?
_Não é interesse querido! É palavra de motivação para você que tem motivo! Aliados são para isso.
_ Valeu, vou arrumar meu quarto aqui.
_ Então está bem, qualquer coisa ligo!
_ Espera aí...
Ela amava quando ele a mandava esperar.
_ Oi?
_ Não quer ir para o festival de inverno com a pele mais sedosa não?
_ Pensei que nunca fosse convidar...
_ Vem aqui arrumar meu quarto para mim.
Assim que desligou o celular, Daniel parou o carro na casa do Thiago que o atendeu ainda todo diferente, a amizade era a mesma, mas ambos sentiam agora uma distância do tamanho de um segredo que o Thiago se negava em compartilhar com Daniel.
_ Vim aqui saber se você vai comigo no festival.
_ Não vai dar para eu ir, tenho que cuidar da minha avó. Não sei se posso deixá-la sozinha ainda.
_ Como ela está?
_ Bem melhor. Ela reclamou do dia que você foi embora sem se despedir dela. – ele não se despediu de ninguém.
_ Vou falar com ela. – e seguiu para o quarto, acompanhado pelo amigo.
_ Minha avó! Cheguei, sua linda, como está?
_ Eu estou bem, mas poderia estar melhor se você no dia que veio aqui tivesse se despedido quando saiu. Por que não falou conosco?
Daniel olhou para o Thiago que desviou o olhar para o alto, olhou pra dona Zita:
_ Eu não quis incomodar vocês, estavam dormindo quando sai, ou pelo menos pensei que estavam, mas não se preocupe, não sairei mais sem me despedir antes. Ok?
_ Agora sim!
_ Eu vim perguntar a senhora se o Thiago pode ir comigo ao festival de verão, é só uma noite, mas iremos cedo, não tenho ninguém pra ir, ele está se recusando mas esqueceu que é meu amigo de baladas e...
_ Já te falei, Daniel, que não posso ir porque não vou deixar minha avó sozinha.
_ Quem te disse isso? Estou ótima! Umas horinhas sozinhas não me farão mal.
Thiago fuzilou a avó com o olhar por trás do Daniel balançando a cabeça negativamente, e quase foi pego pelo amigo que se virou para olhá-lo. Sabia que Thiago não esperava essa resposta da avó, no mesmo momento Thiago fez cara de paisagem. Daniel ria por dentro, mas conteve-se.
_ Minha avó, e se a senhora precisar de alguma coisa...
_ Não! - Dona Zita cortou – Não vou precisar! E além do mais, você precisa se divertir um pouco, já segurei você muito aqui em casa, tem que cuidar de sua vida social.
_ Concordo! Tem que cuidar da vida social. – disse o Daniel sorrindo – Boa, Dona Zita! Trarei seu neto em segurança. Passo às dezessete horas aqui por causa do transito e melhores lugares.
Beijou a testa de Dona Zita e saiu do quarto.
Thiago se aproximou dela e disse:
_ Obrigado, Dona Elizabete! Para que inimigo se em casa tenho uma avó, não é? – disse baixo.
            _ Acho que ele está te dando mole. – disse ela piscando o olho.
            _ Ah está bom! – disse irônico saindo do quarto.
            Na sala, viu Daniel bebendo água, e disse:
            _Valeu o esforço, Daniel, mas acho que não dá mesmo para eu ir porque fiquei sabendo que os ingressos se esgotaram ao meio-dia, eu não comprei o meu, e já são...
            Daniel sacou do bolso da bermuda, dois ingressos do camarote da festa.
            _ Ingressos antecipados. Não vai ser um segredo idiota que vai abalar nossa amizade que é desde antes eu me entender por gente! Tem mais alguma desculpa esfarrapada aí?
            Thiago não pode conter o sorriso.
            _Você está ficando mestre em desculpas esfarrapadas. – pôs o copo em cima da mesa e dirigiu-se para porta – agora tenho que ir para casa arrumar meu quarto com a Patrícia.
            _ Não acredito nisso – Thiago falou com uma ponta de ciúmes – Faz isso não, moço! Fica iludindo a moça, você não ia gostar de ser iludido.
_ Como é que é? Moça? Não me faça rir, mas fica tranqüilo, vou dar um bolo nela.  Ela nem é essas coisas todas. – sentou no sofá.
_ Que horror!
_ Ficou sabendo que o Ricardo vai levar a Roberta para o festival? Vão de carro. Eu já a chamei várias vezes para ir nesse festival e ela nunca quis ir. Achava que era muita gente num lugar só.
_ Para você ver como as pessoas mudam.
Ele olhou para Thiago.
_ É! E como mudam. Espero que seja o primeiro e último festival deles. Por mim, quero que morram!
Thiago, que estava encostado na parede, sentou-se na poltrona e perguntou meio assustado:
_ Você está abrindo mão da Roberta, é isso mesmo que eu ouvi?
Daniel tinha um plano na cabeça que queria por em prática, com o olhar perdido, pensou em voz alta:
_ Eles vão de carro...
_ Você está pensando em quê, bandido?
_ Oi? Quê? Em nada. Não estou pensando em nada. Deixa-me ir agora. Preciso dar os últimos reparos no carro. Não esquece, amanhã passo aqui e te pego! – saiu.
_ É, vou esperar! – ele sempre esperava Daniel sumir na esquina.
            O grande dia do festival havia chegado e em toda cidade um clima de festa estava pairando, apesar do evento ser na cidade vizinha todos na cidade estavam eufóricos pela festa mais esperada do ano.
Roberta acordou bem disposta, levantou quando deu vontade, queria estar bem preparada para não perder nada do que tivesse direito. Abriu a janela, arrumou o quarto para dona Antônia não reclamar e estendeu a roupa que no dia anterior tinha comprado com Flávia no shopping, era a roupa da noite. Olhou na internet umas dicas de maquiagem e depois desceu para tomar café, tinha combinado anterior com a amiga ir ao clube e se divertir bastante naquele dia que prometia muito.
Na casa ao lado, a Patrícia estava meio indisposta, o Daniel não entendera as indiretas que ela dera para que ela a levasse ao festival, mas sabia que o festival só acontecia uma vez por ano.
_ Tenho que me animar para este festi... – abriu e viu a janela da Roberta aberta. –...val. Hum... Acho que já estou me animando...
Quando Roberta e sua mãe saíram de casa, Patrícia, como uma felina saiu de sua janela e se pendurou numa mangueira que ficava entre as casas. Elas, quando eram pequenas, costumavam se pendurar nesta arvore, mas esses são tempos imemoriais quando a inocência era algo comum e ainda não tinham conhecido o Daniel.
Com certo esforço, ela se segurou na janela e escorregou para dentro do quarto. Coçou o nariz como se algo a incomodasse.
_ Nossa! Que cheiro enjoado. – observava o quarto e sorriu diante do que viu – olha só o que eu tenho aqui? Que lindo, meu pai... – media a roupa no corpo.
Mirou-se no espelho que havia próxima a porta e depois largou a roupa. Observou o mural cheio de fotos, e uma foto rasgada chamou sua atenção, aquela mão no ombro...  Ela a reconheceria em qualquer lugar. Olhou uma foto do Ricardo.
_ É, o Ricardo é uma pedação de mal caminho, que lindo meu pai!         
Aproximou-se do criado-mudo e o abriu. Estava cheio de canetas de diversas cores, lápis, régua, borracha, cola, fitas adesivas coloridas e uma tesoura.
_ Que tédio tudo isso! – pegou a tesoura com um lenço que estava pendurado na cabeceira da cama – Dica de moda: roupas rasgadas estão em alta neste inverno. Menina idiota.
A tesoura estalou três vezes no ar como se ensaiasse os próximos passos. Patrícia sem piedade segurou a calça jeans e começou a cortar a peça de qualquer jeito. Seu objetivo era destruir mesmo.
_ A calça ficou mais “in” agora. A jaqueta tem que seguir a tendência também. – enquanto rasgava as peças, ria como se brincasse. Sentia-se vingada, pelo menos um pouco. – Sim! Agora, estou vingada. Te perdôo pela surra que a Flávia me deu aquele dia na escola por sua causa.
Estava quase saindo quando reparou que atrás da cama tinham algumas sacolas. Eram as sacolas das compras do dia anterior.
_ Olha! Quase deixei escapar essas aqui! – começou a rasgar as peças sem dó. Rasgava e as colocava novamente na sacola, às vezes ria como bruxa, brincando com sua malvadeza. – Ai, ai! Que dó, gente! Que dó!
Guardou a tesoura na gaveta e pendurou novamente o lenço na cabeceira da cama.
_ Um beijo luxo para você, “Robrega”!
E com a mesma agilidade que entrou saiu sem deixar vestígio.
Ao entrar em seu quarto, foi o tempo de deitar na cama e sua mãe abrir a porta.
_ Oi mãe!
_ Olá! Pensei que não ia acordar e vim ver se estava viva.
_ Ah, mãe! – disse rindo – estou bem viva, sim! Vivinha da Silva!
_ Então está bem! Desça para tomar café!
_ Já estou indo! Tenho que comprar uma roupa nova para ir ao festival!
_ Você vai com quem? Alguém vem te buscar aqui?
_ Ai mãe! – disse ela rindo falsamente – como se eu precisasse de alguém para isso! Sou independente!
_ Sei – disse a mãe com pena.
Ao sair, trancou a janela.
O dia avançava lindo, o sol estava radiante e todos estavam muito ocupados em se preparar para a festa de logo mais. Roberta e Flávia estavam no clube se divertindo e se bronzeando. O inverno do Brasil é único.
Ricardo e José, o namorado da Flávia, estavam lavando os carros. Estavam super empolgados com a saída da noite.
Daniel já tinha tudo arrumado, até os planos para estragar a noite de quem lhe tirara a paz. Estava pondo algumas coisas no porta-malas quando ouviu a voz do Thiago:
_ Daniel, desiste desse plano idiota. Aproveita sua vida!
Se virou de imediato para falar com o amigo, mas não o viu.
_ De vez enquando tenho a ligeira sensação que estou ficando louco, só pode! – levantou a cabeça quando percebeu que falava sozinho. – Credo!
O Thiago estava em casa, se preparando, arrumando tudo para que a dona Zita estivesse o máximo confortável, e já estava imaginando os momentos que passaria ao lado de Daniel.
Todos imaginavam tudo que poderia acontecer no festival, menos o que mudaria por completo a vida de cada um deles.

Continua...
© Copyright Mailan Silveira 2011.Todos os direitos reservados.

Nenhum comentário: