_ Ingressos
comprados!!!
_ Oba! Que bom
que deu tudo certo! Festival de Inverno, aí vamos nós! – disse Roberta animada
ao ver nas mãos de Ricardo os bilhetes que davam acesso ao famoso festival que
acontecia na cidade vizinha de onde moravam.
_ Isso!
Estamos prontos! Aliás, quase prontos. Preciso fazer a revisão no carro já que
vamos para nos divertir não quero ter que passar raiva com essas coisas.
_ A Flávia
disse que o José já comprou os ingressos deles, e o José vem nos seguindo na
estrada porque ele não sabe onde passar para chegar no evento.
_
Claro! Bom demais, hein, “amô”! Nós, lá juntinhos, curtindo muita música boa.
_
E esse ano, Ricardo, a programação está muito boa!
_
Ok! – beijou a namorada – agora tenho que ir para fazer a revisão do carro,
senão não vai dar tempo.
_
Está bem, meu lindo! Vou ligar para a Flávia para irmos ao shopping fazer
compras, vamos arrasar.
_
Ei! Você arrasa de qualquer jeito, agora mesmo você está arrasando meu coração
com esse sorriso lindo! – disse ele entrando novamente para beijá-la.
Depois
de uma sessão de vários beijinhos, ele saiu e Roberta já falava com a amiga
pelo telefone.
_
Aaaaaaah, amiga! Vamos lindas para o festival! – gritou Flávia do outro lado da
linha. – Vamos ao shopping comprar umas coisinhas que eu estou precisada!
Alguns
minutos depois, estavam as duas no shopping, andaram muito, como toda mulher
que vai passear no shopping, experimentaram diversas roupas e enfim conseguiram
entrar num acordo sobre que peças levariam.
_
Eu amei o jeans que você escolheu, ele é muito lindo e vai ficar maravilhoso
com a jaqueta. – disse Flávia que tinha em cada mão dez embrulhos. A Roberta
não ficava atrás, com ela eram dezesseis no total.
_
Eu gostei demais daquela blusa que vocês escolheu, aquela roxa...
_
Sei, é linda mesmo, não é? A culpa é sua! Você me ajudou, você tem um ótimo
gosto para essas coisas. Me ajuda muito.
_
Ah amiga! Seu gosto é ótimo, nem precisa de muita ajuda.
As
duas estavam no céu. Encheram o porta-malas e os bancos de trás do carro da
Flávia e foram contando muitas fofocas e o que planejavam para o dia do
festival.
_Você
não sabe o que fiquei sabendo da mula manca.
_
Quem? A Patrícia? – riu Roberta – Mula manca? De onde você tirou isso, menina?
_
Dá para ver a cara dela que parece de mula, não é? Sem contar na sala as
respostas que ela dá para os professores.
_Sim,
- cortou Roberta curiosa – o que foi que ela fez dessa vez?
_Dizem
as más línguas que ela é caidinha pelo Daniel, e que ficou com ele um dia
desses aí.
_Sério?
Gente, o Daniel caiu no meu conceito. Ele já teve gostos melhores!
Riram
juntas.
_
É, não é? Depois que ficaram, veio o pior para ela, ele falou mal dela dizendo
para todo mundo que não beijava tão bem e outras “cositas más”!
_
Que deselegante! Merece! É uma abusada e fica pensando que está podendo o tempo
todo. Tenho dó! E só de saber que é minha vizinha, ai! E quando ela ficou
sabendo que ele falou mal?
_
Fingiu que não ouviu. É mestra em fingimento.
_
Ah! Vamos falar de coisa boa? – Roberta ria mais – Assim que chegarmos em casa
vamos preparar uma sobremesa de iogurte para gente.
_
Amo! – disse Flávia – Compramos demais, hein amiga? Fazer o que não é? Somos
ricas!
_Ricas!
– gritaram juntas e o pessoal que passa na rua pensavam que eram duas filhas de
papai.
Na
rua, Patrícia viu as duas passarem no carro cheio de compras.
_ Barraqueiras!
Odeio gente pobre. Que nojo! Fiquei sabendo que alegria de pobre dura pouco,
neste caso não será diferente. – pegou o celular e discou – Daniel? Olá! Acabei
de ver a Roberta passando aqui com a Flávia, voltando das compras. Todas
animadinhas. Se lembra que o festival de inverno é amanhã? Pois é! Dê seu jeito
para acabar com a festa desse povo.
_Que interesse
todo é esse em acabar com a festa deles?
_Não é
interesse querido! É palavra de motivação para você que tem motivo! Aliados são
para isso.
_ Valeu, vou
arrumar meu quarto aqui.
_ Então está
bem, qualquer coisa ligo!
_ Espera aí...
Ela amava
quando ele a mandava esperar.
_ Oi?
_ Não quer ir
para o festival de inverno com a pele mais sedosa não?
_ Pensei que
nunca fosse convidar...
_ Vem aqui
arrumar meu quarto para mim.
Assim que
desligou o celular, Daniel parou o carro na casa do Thiago que o atendeu ainda
todo diferente, a amizade era a mesma, mas ambos sentiam agora uma distância do
tamanho de um segredo que o Thiago se negava em compartilhar com Daniel.
_ Vim aqui
saber se você vai comigo no festival.
_ Não vai dar
para eu ir, tenho que cuidar da minha avó. Não sei se posso deixá-la sozinha
ainda.
_ Como ela
está?
_ Bem melhor.
Ela reclamou do dia que você foi embora sem se despedir dela. – ele não se
despediu de ninguém.
_ Vou falar
com ela. – e seguiu para o quarto, acompanhado pelo amigo.
_ Minha avó!
Cheguei, sua linda, como está?
_ Eu estou
bem, mas poderia estar melhor se você no dia que veio aqui tivesse se despedido
quando saiu. Por que não falou conosco?
Daniel olhou
para o Thiago que desviou o olhar para o alto, olhou pra dona Zita:
_ Eu não quis
incomodar vocês, estavam dormindo quando sai, ou pelo menos pensei que estavam,
mas não se preocupe, não sairei mais sem me despedir antes. Ok?
_ Agora sim!
_ Eu vim
perguntar a senhora se o Thiago pode ir comigo ao festival de verão, é só uma
noite, mas iremos cedo, não tenho ninguém pra ir, ele está se recusando mas
esqueceu que é meu amigo de baladas e...
_ Já te falei,
Daniel, que não posso ir porque não vou deixar minha avó sozinha.
_ Quem te
disse isso? Estou ótima! Umas horinhas sozinhas não me farão mal.
Thiago fuzilou
a avó com o olhar por trás do Daniel balançando a cabeça negativamente, e quase
foi pego pelo amigo que se virou para olhá-lo. Sabia que Thiago não esperava
essa resposta da avó, no mesmo momento Thiago fez cara de paisagem. Daniel ria
por dentro, mas conteve-se.
_ Minha avó, e
se a senhora precisar de alguma coisa...
_ Não! - Dona
Zita cortou – Não vou precisar! E além do mais, você precisa se divertir um
pouco, já segurei você muito aqui em casa, tem que cuidar de sua vida social.
_ Concordo!
Tem que cuidar da vida social. – disse o Daniel sorrindo – Boa, Dona Zita!
Trarei seu neto em
segurança. Passo às dezessete horas aqui por causa do
transito e melhores lugares.
Beijou a testa
de Dona Zita e saiu do quarto.
Thiago se
aproximou dela e disse:
_ Obrigado,
Dona Elizabete! Para que inimigo se em casa tenho uma avó, não é? – disse
baixo.
_
Acho que ele está te dando mole. – disse ela piscando o olho.
_
Ah está bom! – disse irônico saindo do quarto.
Na
sala, viu Daniel bebendo água, e disse:
_Valeu
o esforço, Daniel, mas acho que não dá mesmo para eu ir porque fiquei sabendo
que os ingressos se esgotaram ao meio-dia, eu não comprei o meu, e já são...
Daniel
sacou do bolso da bermuda, dois ingressos do camarote da festa.
_
Ingressos antecipados. Não vai ser um segredo idiota que vai abalar nossa
amizade que é desde antes eu me entender por gente! Tem mais alguma desculpa
esfarrapada aí?
Thiago
não pode conter o sorriso.
_Você
está ficando mestre em desculpas esfarrapadas. – pôs o copo em cima da mesa e
dirigiu-se para porta – agora tenho que ir para casa arrumar meu quarto com a
Patrícia.
_
Não acredito nisso – Thiago falou com uma ponta de ciúmes – Faz isso não, moço!
Fica iludindo a moça, você não ia gostar de ser iludido.
_ Como é que
é? Moça? Não me faça rir, mas fica tranqüilo, vou dar um bolo nela. Ela nem é essas coisas todas. – sentou no
sofá.
_ Que horror!
_ Ficou
sabendo que o Ricardo vai levar a Roberta para o festival? Vão de carro. Eu já
a chamei várias vezes para ir nesse festival e ela nunca quis ir. Achava que
era muita gente num lugar só.
_ Para você
ver como as pessoas mudam.
Ele olhou para
Thiago.
_ É! E como
mudam. Espero que seja o primeiro e último festival deles. Por mim, quero que
morram!
Thiago, que
estava encostado na parede, sentou-se na poltrona e perguntou meio assustado:
_ Você está
abrindo mão da Roberta, é isso mesmo que eu ouvi?
Daniel tinha
um plano na cabeça que queria por em prática, com o olhar perdido, pensou em
voz alta:
_ Eles vão de
carro...
_ Você está
pensando em quê, bandido?
_ Oi? Quê? Em
nada. Não estou pensando em nada. Deixa-me ir agora. Preciso dar os últimos
reparos no carro. Não esquece, amanhã passo aqui e te pego! – saiu.
_ É, vou
esperar! – ele sempre esperava Daniel sumir na esquina.
O
grande dia do festival havia chegado e em toda cidade um clima de festa estava
pairando, apesar do evento ser na cidade vizinha todos na cidade estavam
eufóricos pela festa mais esperada do ano.
Roberta
acordou bem disposta, levantou quando deu vontade, queria estar bem preparada
para não perder nada do que tivesse direito. Abriu a janela, arrumou o quarto
para dona Antônia não reclamar e estendeu a roupa que no dia anterior tinha
comprado com Flávia no shopping, era a roupa da noite. Olhou na internet umas
dicas de maquiagem e depois desceu para tomar café, tinha combinado anterior
com a amiga ir ao clube e se divertir bastante naquele dia que prometia muito.
Na casa ao
lado, a Patrícia estava meio indisposta, o Daniel não entendera as indiretas
que ela dera para que ela a levasse ao festival, mas sabia que o festival só
acontecia uma vez por ano.
_ Tenho que me
animar para este festi... – abriu e viu a janela da Roberta aberta. –...val.
Hum... Acho que já estou me animando...
Quando Roberta
e sua mãe saíram de casa, Patrícia, como uma felina saiu de sua janela e se
pendurou numa mangueira que ficava entre as casas. Elas, quando eram pequenas,
costumavam se pendurar nesta arvore, mas esses são tempos imemoriais quando a
inocência era algo comum e ainda não tinham conhecido o Daniel.
Com certo
esforço, ela se segurou na janela e escorregou para dentro do quarto. Coçou o
nariz como se algo a incomodasse.
_ Nossa! Que
cheiro enjoado. – observava o quarto e sorriu diante do que viu – olha só o que
eu tenho aqui? Que lindo, meu pai... – media a roupa no corpo.
Mirou-se no
espelho que havia próxima a porta e depois largou a roupa. Observou o mural
cheio de fotos, e uma foto rasgada chamou sua atenção, aquela mão no
ombro... Ela a reconheceria em qualquer
lugar. Olhou uma foto do Ricardo.
_
É, o Ricardo é uma pedação de mal caminho, que lindo meu pai!
Aproximou-se
do criado-mudo e o abriu. Estava cheio de canetas de diversas cores, lápis,
régua, borracha, cola, fitas adesivas coloridas e uma tesoura.
_
Que tédio tudo isso! – pegou a tesoura com um lenço que estava pendurado na
cabeceira da cama – Dica de moda: roupas rasgadas estão em alta neste inverno.
Menina idiota.
A
tesoura estalou três vezes no ar como se ensaiasse os próximos passos. Patrícia
sem piedade segurou a calça jeans e começou a cortar a peça de qualquer jeito.
Seu objetivo era destruir mesmo.
_
A calça ficou mais “in” agora. A jaqueta tem que seguir a tendência também. –
enquanto rasgava as peças, ria como se brincasse. Sentia-se vingada, pelo menos
um pouco. – Sim! Agora, estou vingada. Te perdôo pela surra que a Flávia me deu
aquele dia na escola por sua causa.
Estava
quase saindo quando reparou que atrás da cama tinham algumas sacolas. Eram as
sacolas das compras do dia anterior.
_
Olha! Quase deixei escapar essas aqui! – começou a rasgar as peças sem dó.
Rasgava e as colocava novamente na sacola, às vezes ria como bruxa, brincando
com sua malvadeza. – Ai, ai! Que
dó, gente! Que dó!
Guardou
a tesoura na gaveta e pendurou novamente o lenço na cabeceira da cama.
_
Um beijo luxo para você, “Robrega”!
E
com a mesma agilidade que entrou saiu sem deixar vestígio.
Ao
entrar em seu quarto, foi o tempo de deitar na cama e sua mãe abrir a porta.
_
Oi mãe!
_
Olá! Pensei que não ia acordar e vim ver se estava viva.
_
Ah, mãe! – disse rindo – estou bem viva, sim! Vivinha da Silva!
_
Então está bem! Desça para tomar café!
_
Já estou indo! Tenho que comprar uma roupa nova para ir ao festival!
_
Você vai com quem? Alguém vem te buscar aqui?
_
Ai mãe! – disse ela rindo falsamente – como se eu precisasse de alguém para
isso! Sou independente!
_
Sei – disse a mãe com pena.
Ao
sair, trancou a janela.
O
dia avançava lindo, o sol estava radiante e todos estavam muito ocupados em se
preparar para a festa de logo mais. Roberta e Flávia estavam no clube se
divertindo e se bronzeando. O inverno do Brasil é único.
Ricardo
e José, o namorado da Flávia, estavam lavando os carros. Estavam super
empolgados com a saída da noite.
Daniel
já tinha tudo arrumado, até os planos para estragar a noite de quem lhe tirara
a paz. Estava pondo algumas coisas no porta-malas quando ouviu a voz do Thiago:
_
Daniel, desiste desse plano idiota. Aproveita sua vida!
Se
virou de imediato para falar com o amigo, mas não o viu.
_
De vez enquando tenho a ligeira sensação que estou ficando louco, só pode! –
levantou a cabeça quando percebeu que falava sozinho. – Credo!
O
Thiago estava em casa, se preparando, arrumando tudo para que a dona Zita
estivesse o máximo confortável, e já estava imaginando os momentos que passaria
ao lado de Daniel.
Todos
imaginavam tudo que poderia acontecer no festival, menos o que mudaria por
completo a vida de cada um deles.
Continua...
©
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