1| O Fim

 Era a primeira vez que se encontravam depois do flagrante. No rosto dele, a expressão da decepção, mas não se arrependia da decisão que tomara. Ela, depois de tudo que acontecera, resolveu procurá-lo, sabia que uma relação de tanto tempo não acabaria por tão pouco.
_ O que você quer? – disse ele ríspido.
_ Vim pedir perdão, e explicar o que aconteceu realmente ontem.
_ Acho que o que vi foi suficiente.
_ Não foi e nem é o que você ta imaginando...
_ Não imaginei. Eu vi o beijo. Ele evitava olhá-la nos olhos, podia denunciar-se. Um celular tocou. Ele recebeu uma mensagem, mas não olhou.
_ Um beijo que não significou nada!
_ E te ver entregue a ele também não significa nada – ficou nervoso por lembrar – eu já disse que não adianta vir com desculpas esfarrapadas, pois eu vi o que aconteceu, ninguém me contou.
_ Ele disse que estava afim de mim, eu me afastei e disse que te amava, mas ele, de repente, me roubou o beijo que você viu. Daniel é você que eu amo. – ela quase gritando se aproximou tentando ser compreendida.
_ Não tenho mais certeza sobre isso. Se você não se sentisse tão culpada não teria vindo cheia de remorso pedir desculpa...
_ Você está irredutível, como se eu fosse culpada por ter sido beijada por aquele idiota. – esbravejava porque sabia que o namorado não perdoaria uma traição, mas não foi traição foi um beijo roubado.
_ Roberta, eu não consigo namorar alguém que não confio. Você me traiu.
_ Nunca! Nunca te traí. Você sabe disso. Não porque não faltou oportunidade, mas porque eu te amo! Droga! É difícil compreender isso? Ela chorava desolada porque gritava, mas ele sequer mostrava comoção. Estava frio.
_ Daniel, eu nunca fui ciumenta com você, sempre te deixei livre para não ser possessiva, te deixava sair com os seus amigos sem ir junto, para mostrar que confiava e confio em você, e agora que sou vítima de um beijo idiota daquele retardado do seu amigo, você me julga assim?
Ele não agüentava mais. Estava atrasado, só tinha ido ao encontro para pôr um ponto final no namoro de quatro anos.
_ É só isso? Estou atrasado. Tenho que ir.
_ Como assim “Só isso?”, eu estou aqui tentando esclarecer o que aconteceu para você... Você sabe que eu te amo e nós precisamos nos...
_ Não! Não existe mais “nós”. – olhou para o celular – Não me procure mais. Adeus.
Ela não estava acreditando que ele tinha terminado. Tudo acabara por causa de um beijo roubado. As lágrimas desciam dizendo “Ela não te traiu porque te ama!” “Ela está falando a verdade!”, mas ele já não as via mais.
Ele, deixando-a para trás, leu a mensagem do amigo:

E aí? Deu certo? Conseguiu terminar? Eu fiz tudo certo, se você estragar o plano que você mesmo fez, é um burro! Chega logo que as meninas já estão aqui perguntando por você.

 A noite estava só começando, e ele, sorrindo, respondeu:

 Deu certo! Fala que já estou chegando!

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