segunda-feira, 20 de agosto de 2012

7| Na hora.


            Sem ser percebido Ricardo se afastou chorando.
            Roberta se afastou de Daniel:
            _ Não! Isso não está certo! Não dá, não posso!
            _ Porque não?
            _ Eu... não quero! – seu olhar estava perturbado e confuso.
            Daniel tentava segurá-la, mas ela esquivava dele que não queria soltá-la. Ele não largaria a chance. Ela vendo a insistência dele soltou:
            _ O que foi, Daniel? Percebeu o que você abandonou? Me larga! – empurrando-o.
            _ Roberta, você não vê que estou arrependido! Vim mostrar que ainda te amo e você me trata assim.
            _ Eu, sinceramente, acho que você merece! Não venha para cima de mim como essas lágrimas de crocodilo, você é um mentiroso e muito idiota.
            _ Mentiroso? Como assim? Do que é que você está falando?
            _ Tem certeza, Daniel? Nunca mentiu para mim?
            _ Não acredito que você deixou de me amar assim tão fácil! Você dizia que me amava...
            _ Conjugou bem! Dizia... E agora, não digo e nem amo. Obrigado por me mostrar quão idiota eu fui ao acreditar em você.
            Daniel estava tenso. Ela descobrira toda verdade? Não é possível. Quem teria contado? Patrícia? Thiago? Não, não! Não tem como mudar os fatos, tinha sido ele mesmo quem armou toda trama para separar Roberta e Ricardo, mesmo antes de ficarem juntos.
Quando ia entregar os pontos perguntando como ela teria descoberto tudo, Roberta empurra o buquê de flores em seu peito e entra em casa.
            Roberta não sabia o porquê tinha dito aquilo, mas havia deixado Daniel sem palavras o que facilitara sua saída, não queria vê-lo mais.
            Ricardo sentado no banco da praça chorava e se via mergulhado em um monte de lembranças ruins e se achava um idiota. Por que voltou para o Brasil? Enxugou as lágrimas, sabia que elas não resolveriam nada, de longe via Daniel se afastar sem buquê de flores. Ela deve ter aceitado. O celular toca. Ricardo não estava disposto a atender ninguém, estava repensando a vida, todas as coisas que passou e fez por Roberta. Teria valido a pena? O celular tocava incessantemente.
            _ Nossa! – viu que era Roberta, pensou em não atender, mas queria ouvi-la.
            _ Ricardo!
            _ Oi! Como você está, Beta?
            _ Estou bem, na realidade, melhor agora! – sorriu – Preciso conversar com você o mais rápido possível pode ser.
            _ Sim, claro! Algo de muito importante? Pode falar agora... – pessoalmente é mais dolorido, ele pensou.
            _ Não! Tem que ser pessoalmente. Onde você está?
            _ Na praça. Aqui perto de casa.
            _ Então vem aqui em casa. Quero te falar já!
Ele nem fez muito esforço para se levantar, respirou fundo porque sabia que tudo que a Roberta faz, contaria a ele, era assim desde antes sabia que não mudaria, independente de tudo. E provavelmente essa seria a mais difícil conversa, sobre a volta do namoro.
            _ Ricardo! O que você ainda faz aqui?
Se assustou quando percebeu que Roberta estava em pé atrás dele. Sorrindo, ela se aproximou e sentou ao seu lado no banco.
_ Eu já estava indo. É porque...
_ Não precisa falar nada.
Ela estava diferente. Empolgada. Porque não radiante? Estava linda! Essa era a realidade, apesar de tudo que acompanhara a pouco e tudo que pensara e sentira, não conseguia resistir à imagem de Roberta, ela o atraía de maneira impressionante.
_ O que você tem de tão importante para me falar. – perguntou ele.
_ Vim pedir desculpas por tudo que te falei, fui uma idiota e não quis te ofender.
_ Não se preocupe eu sabia que não fez por mal. Está tudo bem! Era isso?
_ Não é só isso. Eu descobri uma coisa que acho que tem tempo que sei, mas não queria assumir, acho que não estava pronta para te contar...
Ricardo arregalou os olhos e soltou:
_ Você é lésbica? – e caiu na risada. Queria deixar a conversa a mais leve, possível.
_ Não! – ria Roberta – Doido! Não é isso! Seu bobo!
_ Que é foi então?
_ Hoje o Daniel me procurou me pedindo para voltar – ela sabia que seria delicado tratar com ele desse assunto, mas queria surpreendê-lo.
_ É? E te beijou. – disse meio seco, olhando para o chão - Eu vi.
_ Você viu?
_ Vi. Aconteceu a pouco. Vocês voltaram?
_ Não! Deus é mais, mas foi isso mesmo, me beijou. – ela procurava as palavras certas para não poder perder a chance. - Só que antes de qualquer coisa, ou de alguém te dizer ou até mesmo você pensar asneiras. Quero dizer que quando ele me beijou, eu pensei em você!
Ricardo sentiu o coração palpitar e olhou para Roberta.
_ Sabe o que eu descobri, Ricardo? Que o Daniel é um idiota, e que é de você que eu gosto e sempre gostei. – Ela sorria, parecendo uma musa.
Os pensamentos sumiram. As pessoas sumiram. Ricardo afagou o rosto de Roberta, e colocou uma mecha de cabelo que voava atrás da orelha. O carinho dele a fez fechar os olhos. Ele se aproximou. Ela mirrou os olhos dele e percebeu que nunca tinha visto olhos tão azuis e profundos.
_ Sempre gostou?
_ Sempre... te amei. – os olhos dela sorriam. – E amo ainda, eu fui tonta em não querer ver algo tão óbvio.
_ Minha princesa, eu te amo também desde sempre! – ele estava extasiado, viu nos olhos dela o que viu a instantes atrás, a verdade.
_ Meu príncipe... eu sei!
O beijo mais esperado aconteceu. Sabe aquela sensação de felicidade plena? Aquela certeza de se morrer, naquela hora, vai morrer feliz? Os dois estavam assim. Eles ouviram os sinos tocarem. Dizem que quando você escuta os sinos badalarem enquanto beija, é porque é o seu verdadeiro amor.
Na realidade, era o relógio da igreja próxima que marcava a hora.



Continua....
© Copyright Mailan Silveira 2011.Todos os direitos reservados.

Um comentário: