quarta-feira, 31 de outubro de 2012

48| O pedido.


                     A viagem de volta para casa foi tranquila. No carro, Daniel e seus pais iam conversando sobre trivialidades.
                    _ Se sente bem, meu filho? – perguntou Tereza olhando para trás.
                    _ Sim mãe, estou bem! Põe uma música aí!
             Tereza conectou um pen drive ao som e Daniel se retesou ao ouvir a voz que preenchia o automóvel, ela lhe provocara alguma sensação que não compreendia.
                    _ Quem é? – perguntou curioso.
                    _ O quê? A cantora? – disse Tereza – É Adele.
                    _ Antes do acidente era o que você mais ouvia. – disse o pai – Isso é música de quem está apaixonado ou desiludido.
                    Daniel se identificou com as duas situações, mas não entendia e o pior de tudo que se fosse verdade, por quem seria?
                    _ Se lembrou de alguma coisa? – a mãe olhou sua expressão confusa.
                    _ Não! Só fiquei um pouco esquisito. – sua cabeça recostou-se sobre o apoio do banco e fechou os olhos.
                    Em Pedra Branca, tudo estava normal. As pessoas sabiam que Daniel havia sofrido um acidente e que ficara num estado grave por alguns dias, mas ninguém foi visitá-lo.
                    Quando entraram em casa, João e Tereza olharam para o filho como se dele esperassem uma resposta do que via. Ele se comportava como se não soubesse para onde ir, mas sabia que era sua casa. Tereza, percebendo o filho confuso, mostrou-o a direção do quarto.
                    _ Qualquer coisa nos chame. – disse ela ao deixá-lo.
                    Ele olhou tudo. Uma cama de casal convidava quem entrasse para se deitar, ao lado dela dois criados-mudos com abajur, sobre um o despertador digital marcava as horas, no outro, papéis e um livreto. Ao lado esquerdo da cama havia um computador sobre uma escrivaninha e vários cds, livros, e um porta-treco. Na parte de cima do móvel, havia um porta-retratos que ele não deu muita atenção de início. Viu que havia espaço para uma tv e videogame de última geração.
                    Seus olhos voltaram para uma salinha a parte, ao entrar percebeu que era um closet enorme com portas corrediças e um grande espelho na vertical, nele havia muitas roupas, sapatos e acessórios. Vasculhou algum tempo mais não achou nada demais. Achou bem interessante o espelho deslizar fazendo aparecer uma entrada para o banheiro privativo.
                    Voltou para o quarto e se jogou na cama.
                    “Que quarto legal! – pensou”. Levantou-se e olhou para o porta-retrato. Reconheceu a pessoa com que dividia as fotos da montagem.
                    _ Ele é meu amigo mesmo! – disse que viu Thiago sorrindo numa foto em que estavam na praia.
                    Levantou-se para pegá-lo.
                    _ Você tem visitas. – Tereza entrou no quarto.
                    _ Quem? Ele virou-se para falar com ela.
                    _ Quero ver se você se lembra!
                    Apesar de ser uma boa tentativa e da boa intenção, Daniel já estava cansando de tudo aquilo. “Por que não dizem logos os nomes das pessoas e das coisas logo?” – pensava. E lá foi ele para mais uma tentativa de lembrar quem seria aquele desconhecido.
                    Na sala, uma moça muito linda de cabelos castanhos se levantou quando o viu entrar e o abraçou. O cheiro dos cabelos e o perfume da pele da garota fizeram seus sentidos iluminarem parte de sua memória.
                    _ Roberta... – a abraçou mais forte.
                    Ela, emocionada, chorou de alegria em ver que dele, ele se recordou. Quando olhou nos olhos dela, viu as lágrimas e as enxugou.
                    _ Que bom que você está bem. – disse ela.
                    _ Estou melhor agora que você está aqui. Minha mãe não me contou os nomes de ninguém. Quero te agradecer por tudo que você fez por mim. Te devo minha vida.
                    _ Não me deve nada. Você faria o mesmo por mim.
                    Abraçaram-se mais uma vez. Não havia mais a sensação incômoda de estarem próximos, para eles era um recomeço.
                    _ Você está linda!
                    _ Obrigada! Você também está muito bem. A Flávia mandou um abraço.
           _ Mande outro a ela. Chame para vim aqui em casa. Terei prazer em recebê-la. – disse automaticamente para agradar.
                    _ Pode deixar.
                    _ E... O seu namorado?
                    _ O Ricardo... Está bem, não sabe que estou aqui, mas tudo bem.
                    _ Por que não contou a ele?
                    _ Não deu tempo – mentiu.
                    Daniel parou um pouco e observou o rosto de Roberta. Ela ficou vermelha de vergonha, mas gostou.
                    _ O que foi? – perguntou tímida.
                    _ Seu rosto... – fez um carinho – é a última coisa que lembro que vi depois de apagar completamente.
                    _ Que bom que eu estava lá.
                    Sem terem mais o que falar, Roberta se levantou e se despediu. Daniel a acompanhou com o olhar até suas vistas a perderem na próxima curva.
                    _ Meu amor! – ouviu um grito eufórico em sua direção.
                    Outra garota vinha correndo e o abraçou fortemente, seus cabelos vermelhos não trouxeram recordações, mas pela descrição que Thiago havia feito podia deduzir com certeza quem era.
                    _ Oi Patrícia!
                    _ Lembrou de mim! – seus olhos se encheram de lágrimas – Todos da cidade sabem que você sofreu perda da memória, por isso eu como sua namorada, vim te ajudar. Nossa! Você não sabe quanto lamento que isso tenha acontecido com você.
                    _ Não se lamente, já estou bem. Meu carro está na perícia, estão investigando a causa do acidente.
                    _ Polícia? Sim! Claro! Tem que descobrir sim! – desconcertada – Mas não vamos falar disso. Vamos quero te contar algumas novidades.
                    Puxou-o para o quarto, e enquanto contava as coisas percebeu o quanto Daniel estava diferente. Ele a atendia e prestava atenção quando falava.
                    _ Eu acho que... Está na hora de você ir... – ele disse, não agüentava estar com ela. As coisas que Thiago lhe disse vinha em sua cabeça e não só por isso, ela era muito inconveniente. Não queria falar nada agora.
                    _ Meu amor, nosso namoro acabou de passar por...
                    _ Desculpa! Desculpa! – ele a interrompeu.
                    _ O que foi?
                    _ Não me chame de “meu amor”?
                    _ Como assim querido? Nós ainda...
                    _ Não! Não somos nada. Eu me lembro muito bem que terminamos.
                    _ Como você pode se lembrar de uma coisa que não aconteceu? Você está enganado.
               _ Perdi a memória, mas me lembro de certas coisas. Não sou idiota Patrícia, se você me amasse de verdade, não mentiria para mim.
                    _ Mas...
                    _ Se fosse minha namorada mesmo, por que não ligou para mim esses dias que estive fora? Não deixou recado com minha mãe...
                    _ Eu...
                    _ Eu nada. Me faz um favor. Se retire do meu quarto e da minha casa. Você é falsa demais. Querendo se aproveitar de minha debilidade para se dar bem.
                    Ela viu que não funcionou tudo como havia tinha planejado.
                    _ Você só perdeu parte da memória? Só pode ter perdido isso mesmo porque não pode perder o que nunca teve: educação.
                    _ Vou te acompanhar até a porta – fez sinal para que saísse.
                    _ Você deve ter lembrado do seu queridinho Thiago então...
                    _ Deixa de ser idiota.
                    _ Claro, pelo que já fizeram... É bem provável que se lembra dele mesmo.
                    _ Cala a boca. Sai daqui.
                    _ Espero que você não tenha se esquecido do que te disse antes de você me deixar.
                    _ Não faço questão de lembrar coisas que não valem a pena.
                    _ Pois se eu fosse você lembraria... Antes que você perca a memória de novo e não a recupere mais.
                    _O que você quer dizer com isso? É uma ameaça? – disse rindo incrédulo - É isso?
                    Ela não disse mais nada. Saiu sem esperá-lo abrir a porta.
                    _ Essa menina é doida. O que ela quis dizer com isso tudo?
                    Foi a cozinha onde Tereza estava.
                    _ Mãe, eu estou um pouco indisposto, não estou para ninguém. – ia saindo quando fez a ressalva – Só para a Roberta.
                    Entrou no quarto, ainda pensando no que Patrícia tinha dito. Ligou o som, e percebeu que seus pais estavam certos sobre a última coisa que ouvira antes do acidente. Olhou o porta-retrato e viu Thiago rindo com ele em diversas ocasiões.
                    _ Esse menino tem alguma coisa diferente. Será que ele é mutante? Bruxo? – gargalhou sozinho – Sou muito bobo! Ele podia morar aqui...
                    Em São Paulo, Thiago se encontrava com Júlia que o fazia esquecer-se de tudo. Por causa da amnésia, Daniel não ligara mais para Thiago. Os trabalhos também ocupavam seu tempo. E aos poucos ia acontecendo o que o tempo é mestre em fazer...
                    _ A campanha vai sair amanhã. – disse Guillermo ansioso depois de ter desligado uma ligação. – Estou nervoso. Amanhã, Thiago, seu rosto vai estampar todos os outdoors de São Paulo e do Brasil, lojas, franquias, catálogos, revistas, jornais e em breve comerciais.
                    _ Calma! – disse o modelo disfarçando o nervosismo – Vai dar tudo certo.
                    _ Claro que vai! – disse Júlia abraçando o rapaz – Temos que nos preparar para o lançamento hoje à noite.
_ Sim! Sim!
_ Vamos que ainda tenho que te maquiar. – disse Guillermo.
                    A festa de lançamento foi num hotel muito famoso da capital paulista, onde muitas celebridades e pessoas importantes apareceram. Muitos cumprimentaram Thiago pelo trabalho, houve assédio por parte de algumas famosas, mas nada tirava atenção do modelo da amada. E depois de toda apresentação, aconteceu uma festa com dj’s e muito som.
                    Thiago estava muito feliz, mas meio triste porque havia chamado sua avó, dona Zita, para participar, mas ela não quis viajar. Estava ocupada com as amigas do karaokê. Apesar disso, fez o que estava planejando a tempos.
                    _ Olá! Olá! Oi! Desculpa interromper a festa! – disse ao microfone – Estão gostando?
                    Um barulho tomou conta do local, Thiago encarou como um sim.
                    _ Que bom! É muito bom tê-los aqui. Quero agradecer a todos que vieram e dizer que esse trabalho é o resultado da atividade de uma equipe maravilhosa, não é Guillermo?
                    O produtor levantou a taça de champagne.
                    _ Mas não é disso que quero falar agora. – olhou para o público como se procurasse algo, então desceu do palco, uma luz acompanhava seus passos que seguiam devagar – Hoje quero falar de uma pessoa super especial que entrou em minha vida.
                    As pessoas foram ao delírio.
                    _ Que fez esquecer-me das coisas ruins desta vida. Que me acompanha sempre. Me faz crescer, e me completa. De Júlia, que me faz viajar sem sair da Terra. Que seu olhar me tirar a respiração. Júlia, o seu sorriso tem um poder sobre mim que me faz feliz. Sua presença, sua companhia é algo que não consigo descrever. Sou péssimo com as palavras, ou então elas não são capazes de descrever o que é estar um momento com você.
                    Ele chegou perto dela que estava vermelha de vergonha. Não sabia o que fazer quando se viu num círculo de pessoas que acompanhavam a cena. Thiago se ajoelhou, ela pôs a mão na boca, não acreditava.
                    _ Se elas não conseguem descrever um momento – entregou o microfone para Guillermo que estava do lado e segurou para que ele continuasse falando – Quanto mais uma vida. A minha vida. Que eu quero compartilhar com você.
                    Sacou do bolso a famosa caixinha e expôs um par de alianças douradas.
                    _ Deixa eu te fazer feliz como você me faz? Casa comigo?
                   
Continua...
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Um comentário:

Unknown disse...

Velho,que maneiro.
Parabéns, ótima história.