_ Oi? – disse Thiago, depois pensou – Daniel, para de brincadeira! Você não muda nunca!
_ Sinceramente, não sei quem
você é. – mais confuso.
_ E você sabe quem é você?
_ Claro que sei! Eu sou...
Sou... Daniel! Eu me chamo Daniel.
_ Sei. Você sabe onde você
está?
Olhando para os lados, não
duvidou.
_ Num hospital, olha aqui.
Não te devo satisfação, onde é que está o responsável disso aqui? – meio
irritado.
_ Você quer dizer o médico?
_ Quem mais poderia ser?
Espera aí, que interrogatório é esse? – disse nervoso – Pode chamá-lo, por
favor, estranho?
_ Sim! Vou chamá-lo, mas
antes, me responda uma coisa. – Thiago disse cabisbaixo.
_ Se for a última...
_ Não se lembra mesmo de
mim? – disse olhando-o nos olhos – Não sabe mesmo quem sou eu?
Daniel viu que o rapaz tinha
nos olhos a esperança de uma lembrança qualquer. Devia ser alguém muito
conhecido, mas quem? O momento de silêncio que ocorreu entre a falas, foi de
esforço para ele que tentava se lembrar quem seria esse rapaz, que fazia tanta
questão que ele se lembrasse dele, mas nada lhe vinha à cabeça.
_ Você é modelo? – Daniel
arriscou.
_ Você lembrou? Sim, sou sim!
_ Não! – disse pesaroso – Só
arrisquei porque vi suas roupas. Você é bem estiloso, e essa roupa é cara!
Thiago desanimou.
_ Como você quer que eu me lembre
de você se nem me disse seu nome?
O rapaz se aproximou do
botão e o apertou.
_ Não sei se vai fazer
diferença.
_ Claro que vai. – o encarou
– Ou você não quer que eu o saiba? Você é meu amigo?
_ Você se lembra do que
aconteceu para você chegar aqui?
Daniel fez um esforço, seus
olhos fixaram-se num canto da parede e uma luz lhe acendeu parte da memória.
_ Lembro de... Um carro
azul. É o meu carro. Eu estava dirigindo, quando achei por bem pôr um cd para
ir escutando, quando alguém atravessou a avenida e apertei o freio, mas não
funcionou, então fui desviar e... Não me lembro mais.
_ Para onde você estava
indo?
_ Eu não sei... Só sei
que...
A porta se abriu. Era uma
enfermeira.
_ Olha ele acordou! Ainda
bem mocinho que você acordou já estávamos ficando preocupados.
_ Vou ligar para tia. –
disse Thiago saindo do quarto.
Daniel o olhou sair, quando
a enfermeira começou a fazer um monte de perguntas.
Todos os parentes possíveis
já estavam no corredor para ver Daniel.
_ Eu sabia que sua presença
aqui, meu filho, ajudaria na recuperação dele.
_ Fico feliz por isso, minha
tia! Espero que a memória dele se recupere o mais rápido possível.
_ Pode ficar tranquilo! O
médico disse que após um trauma assim é previsível uma perda de memória
parcial. Estamos confiantes.
_ Preciso ir agora.
_ Mas já? Ele acabou de
acordar... Você já conversou com ele?
_ Sim! – olhou para o chão –
Ele não conseguiu me reconhecer...
Tereza sabia que seria
difícil para o melhor amigo do filho se não fosse reconhecido, seria para
qualquer um. Tentou consolá-lo.
_ Não se preocupe. Ele vai
lembrar. – disse Tereza pondo a mão sobre o ombro dele.
_ Espero que sim! Não o
force a nada. – deu uma pausa - Tchau, minha tia! Qualquer coisa me liga, ok?
_ Pode deixar. Creio que
voltaremos para Pedra Branca em alguns dias, ficaremos aqui na casa do pessoal,
e assim que partirmos te aviso, mas vá lá nos visitar. Acho que tenho o
endereço aqui.
Meteu a mão na bolsa e leu
alguns papéis dobrados, separando um azul.
_ Eu anotei para... Sei lá
para que foi... – entregando-o.
_ Obrigado, irei sim!
Depois de se despedirem,
Tereza entrou mais uma vez no quarto que estava repleto de flores e alguns
parentes. Daniel havia se lembrado da mãe e fazia esforço para se lembrar de
outros que estavam ali. Ele a viu entrar sozinha.
Para onde havia ido o rapaz?
Ele nem me falou o nome dele. Daniel olhava vagamente para a porta, como se
alguém fosse entrar a qualquer momento.
Thiago entrou no carro sem
saber o que pensar.
_ Ele perdeu a memória! Nem
me conhece mais... Como pode? – se perguntava antes de dar a partida. Falar
isso doía.
Ela não sabia o porquê que ainda
doía, mas alguma coisa dentro dele queria ver os olhos do amigo cheios de
lembrança dele.
Chegou em casa, viu o
Guillermo sentado em frente ao computador pesquisando tendências, então se
jogou no sofá. Exausto. Não tinha dormido e não conseguiria depois de saber que
agora não era ninguém.
_ Como ele está? – Guillermo
aproximou-se curioso.
_ Bem, acordou. Não tem nada
demais.
_ Isso não é cara de que
acabou de ver um amigo sair do coma.
_ Só...
_ Só? – sentando-se ao lado
no sofá.
_ Amnésia. – engasgou,
enquanto o produtor pôs a mão na boca em sinal de espanto – Não se lembra de...
_ Nada?
_ De mim! Não se lembra de
mim.
O silêncio parecia frequente
na vida de Thiago.
_ Sabe... – disse o modelo –
Quando eu vim morar aqui definitivamente. Ele me fez uma surpresa na estação de
trem da minha cidade. Pediu para eu ficar. Ele pôs uma música que eu amo, mas
agora soa tão irônica...
_ Qual?
_
Don’t you remember.
_
Uau!
Ele estava me perguntando
isso, mas hoje, sou eu quem pergunta.
_ Eu pensei que...
_ A Júlia? Sim! Eu a amo
também. Eu não me entendo mais. – coçou a cabeça – Se amar uma pessoas é
complicado, imagine duas.
_ Não há quem você goste
mais?
_ Meu amigo, não! Não
consigo ver diferença. São momentos diferentes.
_ Acho que você está bem
encrencado.
Thiago sorriu desanimado.
_ Mas acho que posso saber
quem você gosta mais...
_ Como, como assim?
_ Com quem você se vê no
futuro?
A pergunta pegou Thiago de
surpresa. Foi algo que ele havia pensado e já havia sonhado. Na Bahia.
_ Na viagem que fizemos,
sonhei comigo e com a Júlia. Estávamos sentados em cadeiras à beira-mar. Minha
mão estava enrugada, e me movia mais lentamente. Então, uma mão pousou sobre a
minha. – se perdeu na lembrança – Era outra mão enrugada que apertou levemente
a minha, olhei para o lado. Era ela. Não vi o rosto todo, mas sei que é ela. Os
olhos eram os mesmo. Então acordei.
Guillermo estava com os
olhos molhados.
_ Está chorando, é?
_ Você falou diferente. Seus
olhos brilharam.
_ Não sei...
_ Acho que você tem uma
resposta.
_ Será?
Continua...
©
Copyright Mailan Silveira 2011.Todos os direitos reservados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário