Roberta estava ao telefone
conversando com Tereza.
_ Sério! Nossa! Que bom!
Estou muito feliz. Tia, que coisa boa, Graças a Deus! A senhora vai ver que vai
dar tudo certo.
Ela não tinha se ferido no
acidente. Conseguira livrar Daniel do cinto de segurança e puxá-lo para fora do
carro a tempo antes da explosão, apenas se arranhou um pouco.
_ Sei... Ah... Não, mas...
É! Isso mesmo! Com certeza! Verdade! Vai dar tudo muito certo!
Ricardo entra na casa, e a
vê ao telefone, vai até para lhe dar um beijinho, mas ela faz um sinal negativo
com a mão, ele a olha estranhamente e vai para a cozinha. Roberta se demora
mais um pouco e entra na cozinha feliz e sorrindo.
_ O Daniel! Acordou, ele
acordou. Ele volta em três dias.
_ Que bom, não é... – disse
sem ânimo – Bom para ele valorizar mais a vida dele e deixar a dos outros em
paz.
_ O que é isso, Ricardo?
Coitado dele. Independente de tudo ninguém merece o que ele passou.
_ Sei não, viu!
_ O que foi? – estranhou –
Nunca te vi falar assim.
_ Esse menino quase tirou
você de mim, imagina o que aconteceria comigo se fosse você naquele hospital
agora?
_ Mas não sou eu! – sentou-se
perto dele – Estou aqui.
_ Daniel sempre tentando
acabar com nossa alegria, sempre entrando no meio da gente, querendo marcar
território. Não gosto disso.
_ Ricardo...
_ Eu que digo Roberta! ¡Por
Dios! – deixava escapar o espanhol quando estava nervoso -Quando eu penso que
estamos livres dele, do nada ele aparece e se mete em nossa vida. O que ele
quer afinal, te roubar de mim?
Tudo era óbvio, mas Roberta
fez a pergunta clássica dessas ocasiões.
_ Você está com ciúmes?
Ricardo
a olhou já nervoso.
_ Você só pode estar de
brincadeira.
_ Calma! Ele só passa por
nossa vida não fica. Porque foi algo que aconteceu por coincidência.
_ É do destino que eu
reclamo mesmo!
_ Meu amor você está se
preocupando à toa, eu sou tua e de mais ninguém.
_ Fico pensando se você não
falou isso para ele quando estavam juntos.
Ela se afastou.
_ Você me ofende assim...
_ Eu estou cansado, -
apoiou-se no fogão - cansado de ver esse garoto se meter em nossa vida, quando
não é diretamente, é um outro motivo.
_ Acho que você está dando
muita importância para uma bobagem.
_ Sou eu mesmo que estou
pulando de alegria por o ex está vivo?
Roberta riu incrédula.
_ Não acredito no que você
acabou de falar. Você ouviu isso? Quer dizer que não posso ficar feliz por
alguém escapar da morte?
_ Não falei isso.
_ Agora eu estou ficando
doida! Ele perdeu a memória, talvez nem se lembre de nada.
_ Que bom, então temos a
chance de nossas vidas para vivermos felizes.
_ Vai para casa vai,
Ricardo. Não gosto quando você se comporta assim.
_ Como é?
_ Aliás, pode ficar. Vou à
casa da Flávia.
_ Roberta, volta aqui.
A porta bateu.
Em São Paulo, o sol reinava
absoluto numa tarde de sábado.
_ Vou ao litoral acompanhar
o pessoal da família do Daniel. – disse Thiago pegando a chave do carro que
estava sobre a bancada ao lado de uma porta retrato que tinha uma foto, dele,
Guillermo e Júlia na Bahia.
_ Volta hoje? – perguntou
Guillermo.
_ Não sei. Talvez. Tia
Tereza acha bom eu ir para ver se ele se lembra de mim, talvez lembrará do
pessoal de Pedra Branca. Ela ficou sem graça por ele não ter lembrado.
_ Como se fosse culpa dele
não lembrar. – considerou perguntar - Você quer que ele se lembre de você?
_ Acho que não. Talvez seja
melhor para ele.
_ E para você?
_ Não me importo comigo.
Guillermo acenou,
despedindo-se dele que passou pela porta para descer à garagem a tempo de ouvir
o comentário que o fez parar.
_ Quem ama não se preocupa
consigo mesmo. Sempre quer o melhor para o outro. – disse o produtor dentro da
cozinha.
Descendo para o carro,
pensou em não ir mais. Se Daniel lembrasse dele, com certeza seria algo bem
mais complicado para resolver.
_ Às vezes fazer o que quero
nem sempre é certo! O que quero de verdade? – tentava ser objetivo com ele
mesmo, parou sobre o capô do carro e admitiu – Quero que ele se lembre de mim.
Que raiva de mim! Nossa!
Pegou o telefone.
_ Tia?
_ Oi, Thiago? Você já está
vindo? – respondeu Tereza animada.
_ É... Acho que não vai dá
para ir, tia! O trânsito está muito ruim, e...
_ Não aceito desculpa! Eu
estou com a tv ligada e não tem nada de transito. O que foi? Está com vergonha
da família é? Que é isso menino, você também faz parte, todo mundo te conhece e
outra coisa, o Daniel só ficou falando do rapaz que estava no hospital.
_ É mesmo?
_ Sim! Pensei que ele tinha
lembrado, mas nem sabia seu nome, sempre te menciona como o rapaz do hospital.
_ Na realidade, já estou
quase chegando!
_ Ah menino! Não muda nada
hein. Querendo me assustar. Chega logo. Falei para o Dani que o menino do
hospital viria, e ele sorriu.
_ Isso deve ser bom, não é?
_ Sim! Sim!
_ Está bem, estou chegando!
_ Vem logo!
Thiago desligou o celular, e
partiu.
Ao chegar no endereço que
Tereza havia lhe dado, estacionou o embaixo de umas árvores que ficavam
próximas a casa. A mãe de Daniel veio recebê-lo com alegria.
_ Que bom que você veio! – o
abraçou – Vou falar para o pessoal que você chegou. Estamos felizes por saber
que você é verdadeiramente amigo do nosso filho. O pessoal está na areia lá na
praia. Vem!
Ele entrou um pouco tímido,
cumprimentou o pessoal e então uma moça disse:
_ Ei! Você é modelo não é?
_ Sou sim! A tia disse?
_ Não, eu vi uma foto sua no
outdoor em São Paulo. De uma agência de modelos, é de onde você faz parte, não
é?
_ X Models, sim! – disse
feliz pelo reconhecimento.
_ É um belo trabalho,
parabéns!
_ Obrigado!
_ E outra coisa, você é mais
lindo pessoalmente!
_ Obrigado mesmo, são seus
olhos! – disse com o rosto enrubescido.
_ Ei Carol! Não deixe o
rapaz sem graça. Desculpa, ela é doida assim mesmo! – disse Tereza que reparou
Thiago procurando. – Ele está lá, naquelas palmeiras desde cedo, olhando o mar.
Não deixei ninguém ir á falar com ele, quero muito que tudo influencie
positivamente sua recuperação, mas você pode ir lá. São irmãos.
_ Obrigado, tia!
_ Porque ele pode e eu não?
– perguntou Carol.
_ Cala a boca e vem me ajuda
aqui na cozinha.
Daniel estava sentado
embaixo de uns coqueiros que faziam sombra fresca sobre a areia. De camiseta e
bermuda seu olhar se perdia no azul, só não se percebia se era o azul do céu ou
do mar. Nem pareceu perceber que alguém se aproximava lentamente, a areia e o
som das ondas abafava qualquer tipo de som. Virou-se de repente. Thiago parou.
Não queria assustá-lo. Não o conhecia. Daniel estava sério olhando para ele de
baixo para cima, um olhar que Thiago já o tinha visto fazer.
_ Thiago! Que bom que você,
pensei que não o veria tão cedo novamente. – disse sorrindo.
“Ele lembrou! – pensou
Thiago”.
Continua...
©
Copyright Mailan Silveira 2011.Todos os direitos reservados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário