sexta-feira, 19 de outubro de 2012

45| Reconhecido.



                    Roberta estava ao telefone conversando com Tereza.
                    _ Sério! Nossa! Que bom! Estou muito feliz. Tia, que coisa boa, Graças a Deus! A senhora vai ver que vai dar tudo certo.
                    Ela não tinha se ferido no acidente. Conseguira livrar Daniel do cinto de segurança e puxá-lo para fora do carro a tempo antes da explosão, apenas se arranhou um pouco.
                    _ Sei... Ah... Não, mas... É! Isso mesmo! Com certeza! Verdade! Vai dar tudo muito certo!
                    Ricardo entra na casa, e a vê ao telefone, vai até para lhe dar um beijinho, mas ela faz um sinal negativo com a mão, ele a olha estranhamente e vai para a cozinha. Roberta se demora mais um pouco e entra na cozinha feliz e sorrindo.
                    _ O Daniel! Acordou, ele acordou. Ele volta em três dias.
                    _ Que bom, não é... – disse sem ânimo – Bom para ele valorizar mais a vida dele e deixar a dos outros em paz.
                    _ O que é isso, Ricardo? Coitado dele. Independente de tudo ninguém merece o que ele passou.
                    _ Sei não, viu!
                    _ O que foi? – estranhou – Nunca te vi falar assim.
                    _ Esse menino quase tirou você de mim, imagina o que aconteceria comigo se fosse você naquele hospital agora?
                    _ Mas não sou eu! – sentou-se perto dele – Estou aqui.
                    _ Daniel sempre tentando acabar com nossa alegria, sempre entrando no meio da gente, querendo marcar território. Não gosto disso.
                    _ Ricardo...
                    _ Eu que digo Roberta! ¡Por Dios! – deixava escapar o espanhol quando estava nervoso -Quando eu penso que estamos livres dele, do nada ele aparece e se mete em nossa vida. O que ele quer afinal, te roubar de mim?
                    Tudo era óbvio, mas Roberta fez a pergunta clássica dessas ocasiões.
                    _ Você está com ciúmes?
                    Ricardo a olhou já nervoso.
                    _ Você só pode estar de brincadeira.
                    _ Calma! Ele só passa por nossa vida não fica. Porque foi algo que aconteceu por coincidência.
                    _ É do destino que eu reclamo mesmo!
                    _ Meu amor você está se preocupando à toa, eu sou tua e de mais ninguém.
                    _ Fico pensando se você não falou isso para ele quando estavam juntos.
                    Ela se afastou.
                    _ Você me ofende assim...
                    _ Eu estou cansado, - apoiou-se no fogão - cansado de ver esse garoto se meter em nossa vida, quando não é diretamente, é um outro motivo.
                    _ Acho que você está dando muita importância para uma bobagem.
                    _ Sou eu mesmo que estou pulando de alegria por o ex está vivo?
                    Roberta riu incrédula.
                    _ Não acredito no que você acabou de falar. Você ouviu isso? Quer dizer que não posso ficar feliz por alguém escapar da morte?
                    _ Não falei isso.
                    _ Agora eu estou ficando doida! Ele perdeu a memória, talvez nem se lembre de nada.
                    _ Que bom, então temos a chance de nossas vidas para vivermos felizes.
                    _ Vai para casa vai, Ricardo. Não gosto quando você se comporta assim.
                    _ Como é?
                    _ Aliás, pode ficar. Vou à casa da Flávia.
                    _ Roberta, volta aqui.
                    A porta bateu.
                    Em São Paulo, o sol reinava absoluto numa tarde de sábado.
                    _ Vou ao litoral acompanhar o pessoal da família do Daniel. – disse Thiago pegando a chave do carro que estava sobre a bancada ao lado de uma porta retrato que tinha uma foto, dele, Guillermo e Júlia na Bahia.
                    _ Volta hoje? – perguntou Guillermo.
                    _ Não sei. Talvez. Tia Tereza acha bom eu ir para ver se ele se lembra de mim, talvez lembrará do pessoal de Pedra Branca. Ela ficou sem graça por ele não ter lembrado.
                    _ Como se fosse culpa dele não lembrar. – considerou perguntar - Você quer que ele se lembre de você?
                    _ Acho que não. Talvez seja melhor para ele.
                    _ E para você?
                    _ Não me importo comigo.
                    Guillermo acenou, despedindo-se dele que passou pela porta para descer à garagem a tempo de ouvir o comentário que o fez parar.
                    _ Quem ama não se preocupa consigo mesmo. Sempre quer o melhor para o outro. – disse o produtor dentro da cozinha.
                    Descendo para o carro, pensou em não ir mais. Se Daniel lembrasse dele, com certeza seria algo bem mais complicado para resolver.
                    _ Às vezes fazer o que quero nem sempre é certo! O que quero de verdade? – tentava ser objetivo com ele mesmo, parou sobre o capô do carro e admitiu – Quero que ele se lembre de mim. Que raiva de mim! Nossa!
                    Pegou o telefone.
                    _ Tia?
                    _ Oi, Thiago? Você já está vindo? – respondeu Tereza animada.
                    _ É... Acho que não vai dá para ir, tia! O trânsito está muito ruim, e...
                    _ Não aceito desculpa! Eu estou com a tv ligada e não tem nada de transito. O que foi? Está com vergonha da família é? Que é isso menino, você também faz parte, todo mundo te conhece e outra coisa, o Daniel só ficou falando do rapaz que estava no hospital.
                    _ É mesmo?
                    _ Sim! Pensei que ele tinha lembrado, mas nem sabia seu nome, sempre te menciona como o rapaz do hospital.
                    _ Na realidade, já estou quase chegando!
                    _ Ah menino! Não muda nada hein. Querendo me assustar. Chega logo. Falei para o Dani que o menino do hospital viria, e ele sorriu.
                    _ Isso deve ser bom, não é?
                    _ Sim! Sim!
                    _ Está bem, estou chegando!
                    _ Vem logo!
                    Thiago desligou o celular, e partiu.
                    Ao chegar no endereço que Tereza havia lhe dado, estacionou o embaixo de umas árvores que ficavam próximas a casa. A mãe de Daniel veio recebê-lo com alegria.
                    _ Que bom que você veio! – o abraçou – Vou falar para o pessoal que você chegou. Estamos felizes por saber que você é verdadeiramente amigo do nosso filho. O pessoal está na areia lá na praia. Vem!
                    Ele entrou um pouco tímido, cumprimentou o pessoal e então uma moça disse:
                    _ Ei! Você é modelo não é?
                    _ Sou sim! A tia disse?
                    _ Não, eu vi uma foto sua no outdoor em São Paulo. De uma agência de modelos, é de onde você faz parte, não é?
                    _ X Models, sim! – disse feliz pelo reconhecimento.
                    _ É um belo trabalho, parabéns!
                    _ Obrigado!
                    _ E outra coisa, você é mais lindo pessoalmente!
                    _ Obrigado mesmo, são seus olhos! – disse com o rosto enrubescido.
                    _ Ei Carol! Não deixe o rapaz sem graça. Desculpa, ela é doida assim mesmo! – disse Tereza que reparou Thiago procurando. – Ele está lá, naquelas palmeiras desde cedo, olhando o mar. Não deixei ninguém ir á falar com ele, quero muito que tudo influencie positivamente sua recuperação, mas você pode ir lá. São irmãos.
                    _ Obrigado, tia!
                    _ Porque ele pode e eu não? – perguntou Carol.
                    _ Cala a boca e vem me ajuda aqui na cozinha.
                    Daniel estava sentado embaixo de uns coqueiros que faziam sombra fresca sobre a areia. De camiseta e bermuda seu olhar se perdia no azul, só não se percebia se era o azul do céu ou do mar. Nem pareceu perceber que alguém se aproximava lentamente, a areia e o som das ondas abafava qualquer tipo de som. Virou-se de repente. Thiago parou. Não queria assustá-lo. Não o conhecia. Daniel estava sério olhando para ele de baixo para cima, um olhar que Thiago já o tinha visto fazer.
                    _ Thiago! Que bom que você, pensei que não o veria tão cedo novamente. – disse sorrindo.
                    “Ele lembrou! – pensou Thiago”.

Continua...
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