Patrícia vivia muito ocupada
em vigiar Daniel. Estava obcecada pela pessoa que a trocara por um homem. Em
sua cabeça era inadmissível ser trocada, ainda mais por alguém do sexo oposto e
sua nova tática de se aproximar dele fingindo ser sua amiga havia sido melhor
que a encomenda. Daniel além de acreditar no que dissera, ainda contara coisas
que ele e Thiago passaram juntos, já a considerava como uma boa amiga, e com
quem poderia contar sempre para desabafar.
_ Que veadagem horrorosa. É
um desperdício de homem. – disse em seu quarto.
Bateram na porta.
_ O que é? – perguntou sem
paciência.
_ O rapaz que você disse
esperar chegou aqui.
_ Manda ele subir, e pode
entrar.
_ Ele vai entrar no seu
quarto? – perguntou a mãe como se estivesse surpresa.
_ Deixa de fingimento, e
chame logo o rapaz.
_ Ingrata, estou preocupada
com você!
_ Sei, está bem, agora chame
o rapaz!
A mãe saiu e não demorou
muito para que o rapaz aparecesse a porta. Com boné de aba reta, e roupas
largas sentou-se na cama. Era um velho conhecido seu, mas não andavam no mesmo
grupo.
_ E aí? – ele disse
_ Olá! Está bem? – ela disse
lixando a unha sem olhar para ele.
_ Estamos por aí. Fazendo a
vida e é isso... E você?
_ Eu estou bem, mas poderia
estar melhor.
_ E como posso te ajudar,
gatinha?
Ela sorriu.
_ Você pode me ajudar de
duas maneiras. – levantou-se da cama e trancou a porta do quarto e olhou pela
janela para se certificar que não haveria ninguém de olhando. – Quero que você
fique de olho num rapaz, o Daniel.
_ Poxa gatinha! Ficar de
olho em homem? Prefiro te vigiar...
Com um riso forçado de
deboche ela continuou:
_ Ele me deve muito e
pretendo cobrá-lo de maneira especial.
_ O que pretende fazer?
_ Ainda não sei, mas só sei
que vou ter o que quero. Arrume um jeito de colocar um grampo no telefone dele.
_ Não mexemos com esse tipo
de coisa ainda...
_ Querendo me enganar? – riu
– Até parece que quando você quer, não arruma um jeito de fazer. Se vira! E
outra coisa. Tudo que for relacionado a alguém chamado Thiago Allexander
Villani me comunique, sempre, ok?
_ Está certo, gata. Que
mais? Foi só para isso que me chamou aqui? Acho que isso poderia ter sido dito
por telefone.
Patrícia sentou-se ao seu
lado alisou sua perna.
_ Estou carente. – olhou-o
travessamente.
_ Ah é? Muito carente? –
empolgou o garoto.
_Sim! Muito mesmo.
_ Acho que sei como pode ser
seu pagamento para esses serviços.
Começaram a se beijar
calorosamente. Quando o rapaz começou a avançar, ela o impediu.
_ Calma Nelson. Será sim,
mas agora não, está muito cedo! Não posso pagar por algo que você nem fez.
_ Cortando o barato,
Patrícia, assim enfraquece a amizade! E você sabe que meu nome é Neo.
_ Está bem... Neo, teremos
tempo. Faça primeiro o combinado e depois nos veremos para acertar a segunda
coisa, e aí quem sabe.
_ Ai, ai! Está bem! – sabia
que até ali Patrícia tinha sido uma boa pagante.
Durante alguns dias, Neo
observava Daniel em todos os seus passos. O telefone foi fácil grampear, com
sua habilidade de entrar em casas alheias sem ser percebido, colou um grampo no
aparelho e de seu quarto ouvia tranqüilamente as ligações que eram feitas tanto
do fixo quanto do celular, e não notou nada demais. Ele sequer falava de nenhum
Thiago, Neo notara que a voz do rapaz era bem cabisbaixa e sempre evitava
conversar muito pelo telefone, não que soubesse do grampo, mas porque preferia
o silêncio.
_ Deve ser bem tímido. –
disse enquanto ouvia algumas ligações. – Nunca está disposto a conversar com
ninguém.
Sinal de secretária eletrônica.
“_ Oi! Aqui é o Daniel, a
Tereza e o João Pedro e você nos ligou, mas não estamos em casa agora!
Prometemos retornar assim que ouvirmos sua mensagem que será gravada após o
‘bip’ (silêncio). ‘BIP!’ Brincadeira! (risos) O ‘bip’ vem agora!”.
Depois do sinal, o Neo
escutou:
“Daniel, oi! Aqui é o
Thiago e te liguei para dizer que amei a surpresa na estação! Quero muito a sua
felicidade, como já disse. Eu nem deveria estar ligando, mas não resisti e acho
que não fará tão mal se pudermos ser amigos mesmo! Depois te passo meu
número.(Silêncio) Então, está bem! É... abraço!”
_ Te peguei garoto!
Adicionou a ligação a lista
que entregaria a Patrícia. No fim de semana se encontraram, no mesmo lugar.
Patrícia estava de short e camiseta, então Neo entrou no quarto, ele mesmo
trancou a porta. Ela só olhou e voltou-se para o computador.
_ E então? Alguma novidade?
_ Sim! Tenho algumas
ligações aqui.
Ela virou-se para ele
curiosa, ele tirou um pen drive da mochila e passou para ela. E conectou o
dispositivo rapidamente no computador e começou a ouvir.
“_ Alô! Thiago, aqui é o
Daniel! Eu estou ligando para saber como você está. Não sei se está bem, mas
desde que você foi embora não conversamos mais. Está tudo bem por aí?
(Silêncio) Deve estar. Então está bem. Um abraço!”.
_ Que horror! – disse
ela.
_ Tem mais.
“_ Alô! Thiago, oi! Sou
eu de novo! Passando para dizer que estou com saudade! Estou vendo que você
realmente faz falta! (Silêncio) Você deve estar muito ocupado não é mesmo? Até
mais”.
_ Quantas dessas, você
pegou? – ela perguntou irritada e curiosa.
_ Na semana? – ironizou – Só
no tempo que fiquei ouvindo as ligações unas catorze, quinze mais ou menos.
_ Alguma mais
comprometedora?
_ A mais suspeita é a
penúltima, eu acho! Ele é gay, não é?
_ Irmãos! Separaram-se numa
briga e o mais novo foi embora, o mais velho está arrependido de umas coisas
que disse para ele. – despistou.
_ Ah!
“_ Oi Thiago, acho que é
a milésima vez que te ligo e cai em caixa postal. Você deve estar terrivelmente
ocupado ou... não quer me atender... mas quero muito que você saiba que gosto muito
de você e... Espero que esteja tudo bem aí, apesar da falta de notícias.
(Silêncio) Sei que algumas coisas que fiz e falei foram terríveis, mas pensei
que tudo tinha se resolvido em nossos últimos encontros. Não se esqueça de mim.
(Silêncio) Eu não consigo te esquecer, ‘véi’! Não esqueça principalmente do que
sinto por você! Não vou incomodá-lo mais”.
Patrícia ficou em
silêncio por um tempo.
_ O que foi? – perguntou
Neo.
_ Ele não respondeu. –
pensativa – O Daniel ligou quinze vezes e ele não respondeu nenhuma vez.
_ No começo eu também
estranhei, mas depois achei uma resposta também deixada na caixa postal do
Daniel. Está na pasta ao lado.
Depois de ouviu a resposta
que Thiago deixou para Daniel, Patrícia percebeu que Thiago pretendia se
afastar de Daniel.
“Será que Thiago foi embora
para se afastar do Daniel? - pensou”.
_ Tem umas ligações em que o
Daniel liga para companhia de aviação para perguntar preços de passagens para
São Paulo.
_ São Paulo? Quando pretende
fazer isso?
_ Próximo fim de semana.
_ Será que eles conversaram
pela internet? – se perguntou.
_ Bem provável.
_ Ele já comprou as
passagens?
_ Já!
_ Eu já tenho sua segunda tarefa.
_ É só falar! – disse
empolgado.
_ Antes eu preciso fazer uma
coisa, depois te falarei o que deve ser feito.
Algumas horas depois estava
na casa do Daniel. Apesar de ele estar em frente ao computador, lhe dava mais
atenção que anteriormente quando eram namorados. Ele sabia do que ela era capaz
e a queria por perto.
Numa posição que já
conheciam bastante, ela na cama dele deitada agora lendo um livro, e ele no
computador que tinha mudado de posição, estava ao lado da cama, agora não
precisava virar-se para vê-la.
_ Tens falado com o Thiago?
Nunca mais recebi notícias dele. – disse meio temerosa de não dar certo.
_ É... Não! Eu ligo às
vezes, mas ele não atende. Deve estar bem ocupado, mas não faço muita questão,
quando foi embora nem se despediu de mim.
_ E por que você não foi se
despedir dele. Nem uma carta fez?
_ Não! Não achei que
merecia. Como disse, não me procurou, eu que deveria procurar?
_ É ruim não ser valorizado
não é mesmo?
Ele olhou para ela como se
captasse a indireta.
_ Sim! É horrível!
Ela ligeiramente mudou de
assunto.
_ Ai Dani! Esses dias me deu
uma vontade de viajar. Gente do céu! Acho que tem uns quinhentos anos que não
viajo. A última vez que viajei foi para Bahia fui Chapada Diamantina e à Porto
Seguro.
_ Já tem um tempinho que não
viajo também. A última viagem foi... – tentava lembrar – acho que foi Belém.
_ No Pará?
_ Não, na terra santa mesmo!
Meu pai nos levou para conhecer. É muito legal!
_ Vamos marcar uma viagem?
– disse empolgando e sentando-se na cama.
_ Ah, não sei! Para onde?
_ Sei lá... Vamos para um
lugar bacana. Que tal Rio? Nesse fim de semana?
_ Este fim de semana, não
posso. Tenho que acompanhar minha mãe num programa que ela preparou a algum
tempo, mas podemos ir no outro.
_ Ah! Perfeito! Vamos tomar
um banho de mar e depois voltamos.
_ Está bem!
_ Onde é o programa de sua
mãe?
_ Não sei, ela sempre faz
surpresa, ficarei fora todo fim de semana.
_ E vão de quê? – perguntou
curiosa.
_ Normal, de avião.
Deixaremos o carro no estacionamento particular e seguiremos para o aeroporto.
_Então deve ser longe onde
ela pretende levá-los.
_ É! Só descobrimos no meio
do caminho.
_ Ok! Está na minha hora!
Vou indo para casa.
_ Já? – ele perguntou por
educação.
Ela parou, querendo ficar
mais resistiu.
_ Sim! Tenho que ir.
_ Então está bem! Até mais!
Volta aqui depois, antes de irmos.
_ Claro! Com certeza!
Despediram-se.
“Como inventa boas histórias!
– pensou ela, abraçando-o”.
Depois de virar a esquina,
pegou o celular e ligou para o Neo.
_ Oi! O safado não me contou
para onde ia esse fim de semana.
_ O que tenho que fazer? –
perguntou ele que por telefone tinha uma voz mais sombria.
_ Não deixá-lo chegar onde
quer! Dê seu jeito!
_ Isso é fácil! – desligou.
_ Se ele está pensando em
ver o garotinho, está bem enganado!
Continua...
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