segunda-feira, 1 de outubro de 2012

39| Caixa Postal.



                    Patrícia vivia muito ocupada em vigiar Daniel. Estava obcecada pela pessoa que a trocara por um homem. Em sua cabeça era inadmissível ser trocada, ainda mais por alguém do sexo oposto e sua nova tática de se aproximar dele fingindo ser sua amiga havia sido melhor que a encomenda. Daniel além de acreditar no que dissera, ainda contara coisas que ele e Thiago passaram juntos, já a considerava como uma boa amiga, e com quem poderia contar sempre para desabafar.
                    _ Que veadagem horrorosa. É um desperdício de homem. – disse em seu quarto.
                    Bateram na porta.
                    _ O que é? – perguntou sem paciência.
                    _ O rapaz que você disse esperar chegou aqui.
                    _ Manda ele subir, e pode entrar.
                    _ Ele vai entrar no seu quarto? – perguntou a mãe como se estivesse surpresa.
                    _ Deixa de fingimento, e chame logo o rapaz. 
                    _ Ingrata, estou preocupada com você!
                    _ Sei, está bem, agora chame o rapaz!
                    A mãe saiu e não demorou muito para que o rapaz aparecesse a porta. Com boné de aba reta, e roupas largas sentou-se na cama. Era um velho conhecido seu, mas não andavam no mesmo grupo.
                    _ E aí? – ele disse
                    _ Olá! Está bem? – ela disse lixando a unha sem olhar para ele.
                    _ Estamos por aí. Fazendo a vida e é isso... E você?
                    _ Eu estou bem, mas poderia estar melhor.
                    _ E como posso te ajudar, gatinha?
                    Ela sorriu.
                    _ Você pode me ajudar de duas maneiras. – levantou-se da cama e trancou a porta do quarto e olhou pela janela para se certificar que não haveria ninguém de olhando. – Quero que você fique de olho num rapaz, o Daniel.           
                    _ Poxa gatinha! Ficar de olho em homem? Prefiro te vigiar...
                    Com um riso forçado de deboche ela continuou:
                    _ Ele me deve muito e pretendo cobrá-lo de maneira especial.
                    _ O que pretende fazer?
                    _ Ainda não sei, mas só sei que vou ter o que quero. Arrume um jeito de colocar um grampo no telefone dele.
                    _ Não mexemos com esse tipo de coisa ainda...
                    _ Querendo me enganar? – riu – Até parece que quando você quer, não arruma um jeito de fazer. Se vira! E outra coisa. Tudo que for relacionado a alguém chamado Thiago Allexander Villani me comunique, sempre, ok?
                    _ Está certo, gata. Que mais? Foi só para isso que me chamou aqui? Acho que isso poderia ter sido dito por telefone.
                    Patrícia sentou-se ao seu lado alisou sua perna.
                    _ Estou carente. – olhou-o travessamente.
                    _ Ah é? Muito carente? – empolgou o garoto.
                    _Sim! Muito mesmo.
                    _ Acho que sei como pode ser seu pagamento para esses serviços.
                    Começaram a se beijar calorosamente. Quando o rapaz começou a avançar, ela o impediu.
                    _ Calma Nelson. Será sim, mas agora não, está muito cedo! Não posso pagar por algo que você nem fez.
                    _ Cortando o barato, Patrícia, assim enfraquece a amizade! E você sabe que meu nome é Neo.
                    _ Está bem... Neo, teremos tempo. Faça primeiro o combinado e depois nos veremos para acertar a segunda coisa, e aí quem sabe.
                    _ Ai, ai! Está bem! – sabia que até ali Patrícia tinha sido uma boa pagante.
                    Durante alguns dias, Neo observava Daniel em todos os seus passos. O telefone foi fácil grampear, com sua habilidade de entrar em casas alheias sem ser percebido, colou um grampo no aparelho e de seu quarto ouvia tranqüilamente as ligações que eram feitas tanto do fixo quanto do celular, e não notou nada demais. Ele sequer falava de nenhum Thiago, Neo notara que a voz do rapaz era bem cabisbaixa e sempre evitava conversar muito pelo telefone, não que soubesse do grampo, mas porque preferia o silêncio.
                    _ Deve ser bem tímido. – disse enquanto ouvia algumas ligações. – Nunca está disposto a conversar com ninguém.
                    Sinal de secretária eletrônica.
                    “_ Oi! Aqui é o Daniel, a Tereza e o João Pedro e você nos ligou, mas não estamos em casa agora! Prometemos retornar assim que ouvirmos sua mensagem que será gravada após o ‘bip’ (silêncio). ‘BIP!’ Brincadeira! (risos) O ‘bip’ vem agora!”.
                    Depois do sinal, o Neo escutou:
                    “Daniel, oi! Aqui é o Thiago e te liguei para dizer que amei a surpresa na estação! Quero muito a sua felicidade, como já disse. Eu nem deveria estar ligando, mas não resisti e acho que não fará tão mal se pudermos ser amigos mesmo! Depois te passo meu número.(Silêncio) Então, está bem! É... abraço!”
                    _ Te peguei garoto!
                    Adicionou a ligação a lista que entregaria a Patrícia. No fim de semana se encontraram, no mesmo lugar. Patrícia estava de short e camiseta, então Neo entrou no quarto, ele mesmo trancou a porta. Ela só olhou e voltou-se para o computador.
                    _ E então? Alguma novidade?
                    _ Sim! Tenho algumas ligações aqui.
                    Ela virou-se para ele curiosa, ele tirou um pen drive da mochila e passou para ela. E conectou o dispositivo rapidamente no computador e começou a ouvir.
                    “_ Alô! Thiago, aqui é o Daniel! Eu estou ligando para saber como você está. Não sei se está bem, mas desde que você foi embora não conversamos mais. Está tudo bem por aí? (Silêncio) Deve estar. Então está bem. Um abraço!”.
                    _ Que horror! – disse ela.
                    _ Tem mais.
                    “_ Alô! Thiago, oi! Sou eu de novo! Passando para dizer que estou com saudade! Estou vendo que você realmente faz falta! (Silêncio) Você deve estar muito ocupado não é mesmo? Até mais”.
                    _ Quantas dessas, você pegou? – ela perguntou irritada e curiosa.
                    _ Na semana? – ironizou – Só no tempo que fiquei ouvindo as ligações unas catorze, quinze mais ou menos.
                    _ Alguma mais comprometedora?
                    _ A mais suspeita é a penúltima, eu acho! Ele é gay, não é?
                    _ Irmãos! Separaram-se numa briga e o mais novo foi embora, o mais velho está arrependido de umas coisas que disse para ele. – despistou.
                    _ Ah!
                    “_ Oi Thiago, acho que é a milésima vez que te ligo e cai em caixa postal. Você deve estar terrivelmente ocupado ou... não quer me atender... mas quero muito que você saiba que gosto muito de você e... Espero que esteja tudo bem aí, apesar da falta de notícias. (Silêncio) Sei que algumas coisas que fiz e falei foram terríveis, mas pensei que tudo tinha se resolvido em nossos últimos encontros. Não se esqueça de mim. (Silêncio) Eu não consigo te esquecer, ‘véi’! Não esqueça principalmente do que sinto por você! Não vou incomodá-lo mais”.
                    Patrícia ficou em silêncio por um tempo.
                    _ O que foi? – perguntou Neo.
                    _ Ele não respondeu. – pensativa – O Daniel ligou quinze vezes e ele não respondeu nenhuma vez.
                    _ No começo eu também estranhei, mas depois achei uma resposta também deixada na caixa postal do Daniel. Está na pasta ao lado.
                    Depois de ouviu a resposta que Thiago deixou para Daniel, Patrícia percebeu que Thiago pretendia se afastar de Daniel.
                    “Será que Thiago foi embora para se afastar do Daniel? - pensou”.
                    _ Tem umas ligações em que o Daniel liga para companhia de aviação para perguntar preços de passagens para São Paulo.
                    _ São Paulo? Quando pretende fazer isso?
                    _ Próximo fim de semana.
                    _ Será que eles conversaram pela internet? – se perguntou.
                    _ Bem provável.
                    _ Ele já comprou as passagens?
                    _ Já!
                    _ Eu já tenho sua segunda tarefa.
                    _ É só falar! – disse empolgado.
                    _ Antes eu preciso fazer uma coisa, depois te falarei o que deve ser feito.
                    Algumas horas depois estava na casa do Daniel. Apesar de ele estar em frente ao computador, lhe dava mais atenção que anteriormente quando eram namorados. Ele sabia do que ela era capaz e a queria por perto.
                    Numa posição que já conheciam bastante, ela na cama dele deitada agora lendo um livro, e ele no computador que tinha mudado de posição, estava ao lado da cama, agora não precisava virar-se para vê-la.
                    _ Tens falado com o Thiago? Nunca mais recebi notícias dele. – disse meio temerosa de não dar certo.
                    _ É... Não! Eu ligo às vezes, mas ele não atende. Deve estar bem ocupado, mas não faço muita questão, quando foi embora nem se despediu de mim.
                    _ E por que você não foi se despedir dele. Nem uma carta fez?
                    _ Não! Não achei que merecia. Como disse, não me procurou, eu que deveria procurar?
                    _ É ruim não ser valorizado não é mesmo?
                    Ele olhou para ela como se captasse a indireta.
                    _ Sim! É horrível!
                    Ela ligeiramente mudou de assunto.                                                      
                    _ Ai Dani! Esses dias me deu uma vontade de viajar. Gente do céu! Acho que tem uns quinhentos anos que não viajo. A última vez que viajei foi para Bahia fui Chapada Diamantina e à Porto Seguro.
                    _ Já tem um tempinho que não viajo também. A última viagem foi... – tentava lembrar – acho que foi Belém.
                    _ No Pará?
                    _ Não, na terra santa mesmo! Meu pai nos levou para conhecer. É muito legal!
                    ­_ Vamos marcar uma viagem? – disse empolgando e sentando-se na cama.
                    _ Ah, não sei! Para onde?
                    _ Sei lá... Vamos para um lugar bacana. Que tal Rio? Nesse fim de semana?
                    _ Este fim de semana, não posso. Tenho que acompanhar minha mãe num programa que ela preparou a algum tempo, mas podemos ir no outro.
                    _ Ah! Perfeito! Vamos tomar um banho de mar e depois voltamos.
                    _ Está bem!
                    _ Onde é o programa de sua mãe?
                    _ Não sei, ela sempre faz surpresa, ficarei fora todo fim de semana.
                    _ E vão de quê? – perguntou curiosa.
                    _ Normal, de avião. Deixaremos o carro no estacionamento particular e seguiremos para o aeroporto.
                    _Então deve ser longe onde ela pretende levá-los.
                    _ É! Só descobrimos no meio do caminho.
                    _ Ok! Está na minha hora! Vou indo para casa.                                    
                    _ Já? – ele perguntou por educação.
                    Ela parou, querendo ficar mais resistiu.
                    _ Sim! Tenho que ir.
                    _ Então está bem! Até mais! Volta aqui depois, antes de irmos.
                    _ Claro! Com certeza!
                    Despediram-se.
                    “Como inventa boas histórias! – pensou ela, abraçando-o”.
                    Depois de virar a esquina, pegou o celular e ligou para o Neo.
                    _ Oi! O safado não me contou para onde ia esse fim de semana.
                    _ O que tenho que fazer? – perguntou ele que por telefone tinha uma voz mais sombria.
                    _ Não deixá-lo chegar onde quer! Dê seu jeito!
                    _ Isso é fácil! – desligou.
                    _ Se ele está pensando em ver o garotinho, está bem enganado!

Continua...
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